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Regime sírio não dá trégua em ataques contra Ghouta Oriental

Apesar dos múltiplos apelos por um cessar-fogo, o governo prosseguiu com os bombardeios preparatórios para uma ofensiva terrestre contra a área rebelde

Síria: a campanha de bombardeios iniciada no domingo deixou pelo menos 335 mortos entre os civis, incluindo 79 crianças e 50 mulheres, além de 1.700 feridos (Bassam Khabieh/Reuters)

Síria: a campanha de bombardeios iniciada no domingo deixou pelo menos 335 mortos entre os civis, incluindo 79 crianças e 50 mulheres, além de 1.700 feridos (Bassam Khabieh/Reuters)

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AFP

Publicado em 22 de fevereiro de 2018 às 17h59.

Última atualização em 22 de fevereiro de 2018 às 17h59.

O regime sírio voltou a atacar intensamente nesta quinta-feira a região de Ghuta Oriental, em prosseguimento aos bombardeios que desde domingo mataram 335 civis, incluindo várias crianças.

Apesar dos múltiplos apelos por um cessar-fogo, o governo prosseguiu com os bombardeios preparatórios para uma ofensiva terrestre contra a área rebelde, próxima de Damasco, na qual vivem 400.000 pessoas.

A chanceler alemã Angela Merkel pediu nesta quinta-feira o fim do que chamou de massacre na Síria. Na quarta-feira, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu uma trégua imediata no território que virou um "inferno".

Já a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Catar pediram nesta quinta-feira a suspensão da ofensiva do regime sírio contra o Ghuta Oriental para permitir a entrada de ajuda humanitária.

O Conselho de Segurança da ONU deve se pronunciar sobre um projeto de resolução para estabelecer uma trégua de 30 dias que permita o acesso a Ghuta Oriental. A aprovação do texto depende em grande parte da Rússia, grande aliada do governo sírio.

A Rússia garantiu que seus militares na Síria propuseram há alguns dias aos combatentes que se retirassem pacificamente de Ghuta Oriental, como aconteceu no leste de Aleppo.

"A Frente Al Nosra e seus aliados rejeitaram categoricamente nossa proposta e continuam bombardeando Damasco e mantendo refém a população de Ghuta Oriental", afirmou chanceler rusos Serguei Lavrov.

Os bombardeios contra o reduto rebelde, cercado pelas tropas sírias desde 2013, deixaram centenas de vítimas e provocaram muitos danos materiais.

Nesta quinta-feira, ataques com foguetes mataram pelo menos 13 civis, incluindo três crianças, em Duma, principal cidade de Guta Oriental, afirmou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).

"Os disparos não pararam durante a manhã. Quase 200 caíram apenas em Duma", indicou o OSDH, que tem o aumento do balanço nas próximas horas.

O caminho até ohospital de Duma estava marcado por poças de sangue. O centro médico estava lotado de corpos.

Em Hamuriyeh, outra localidade de Ghuta Oriental, os moradores que formavam uma fila diante de um armazém para comprar alimentos fugiram apavorados após uma explosão a poucos metros de distância.

Aniquilação

O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein, pediu à comunidade internacional o "fim desta monstruosa campanha de aniquilação".

A campanha de bombardeios iniciada no domingo deixou pelo menos 335 mortos entre os civis, incluindo 79 crianças e 50 mulheres, além de 1.700 feridos, segundo o OSDH.

Durante o mesmo período, 15 pessoas morreram em Damasco, sob controle do regime, em ataques com obuses e foguetes lançados pelos insurgentes islamitas ou jihadistas a partir de Ghuta, segundo a imprensa estatal e o OSDH.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) exigiu acesso a Ghuta Oriental para socorrer os feridos, que morrem pela falta de assistência imediata e de medicamentos.

Vários hospitais foram atingidos pelos ataques do governo, que incluem o lançamento de barris de explosivos, uma arma denunciada pela ONU.

"O regime pretende atacar grupos armados, mas na realidade aponta apenas contra os civis", declarou Ahmed Abdelghani, médico que trabalha nos hospitais de Hamuriyeh e Arbin, ambos bombardeados.

"Isto é um hospital civil. Por quê o regime nos ataca?", questionou Abdelghani.

O governo deseja retomar o controle de Ghuta Oriental para, afirma, terminar com os disparos de foguetes contra Damasco.

De acordo com o jornal sírio Al-Watam, ligado ao governo, uma ofensiva terrestre "de envergadura pode começar a qualquer momento".

- Rússia defende aliado -

Antes de Ghuta Oriental, outras zonas rebeldes, como a área antiga de Homs em 2012 ou Aleppo em 2016, foram atacadas pelas bombas e submetidas a um cerco asfixiante, obrigando os rebeldes a entregar as armas e provocando a fuga dos civis.

A guerra na Síria deixou mais de 340.000 mortos desde março de 2011.

O conflito entre o governo e os rebeldes se tornou rapidamente uma guerra civil complexa, com a participação de grupos jihadistas e potências estrangeiras.

Em novembro de 2015, a Rússia iniciou uma ação militar para apoiar o governo de Bashar al Assad, que estava em uma situação difícil.

A intervenção russa permitiu a Assad recuperar em dois anos o controle de mais da metade do território do país.

Na quinta-feira, Moscou defendeu o aliado.

"Os responsáveis pela situação em Ghuta Oriental são os que apoiam os terroristas que ainda estão lá. E como se sabe, Rússia, Síria e Irã não estão entre estes países", afirmou o Kremlin.

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