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Da Redação
Publicado em 27 de março de 2011 às 09h29.
Síria - O governo sírio libertou mais de 250 presos políticos na noite de sexta-feira, após um dia de maciças manifestações por todo o país, que as medidas anunciadas pelo regime do presidente Bashar Al-Assad e a sangrenta ação das forças armadas não conseguiram acalmar.
Neste sábado, duas pessoas foram mortas por franco-atiradores e duas ficaram feridas na cidade costeira de Latakia.
Apesar das concessões do governo e da repressão, um novo chamado à "revolta popular" em todas as províncias sírias começou a circular neste sábado pela rede social Facebook.
"Hoje, sábado, uma revolta popular em todas as províncis sírias", convoca o texto, acompanhado por uma popular expressão árabe usada pelos insurgentes sírios na luta contra os colonizadores franceses.
Nesta atmosfera de revolta, "as autoridades libertaram 260 presos, a grande maioria islamitas, além de 14 curdos, em um gesto que faz parte das promessas anunciadas recentemente para melhorar as liberdades públicas na Síria", declarou à AFP Abdel Karem Rihaui, presidente da Liga Síria de Defesa dos Direitos Humanos em Damasco.
Rihaui pediu ao governo que "complete esta medida, libertando os outros presos políticos que permanecem atrás das grades".
A maioria dos prisioneiros libertados já cumpriram pelo menos um terço de sua pena.
Rami Abdelrahmane, diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, sediado em Londres, explicou por telefone que "as autoridades sírias soltaram na sexta à noite mais de 200 pessoas da prisão de Sednaya, a grande maioria islamitas, depois de terem assinado um pedido de libertação".
O diretor do Observatório indicou que a informação foi transmitida por Sirine Juri, advogada síria e ativista dos direitos humanos.
Abdelrahmane lamentou que muitas das pessoas detidas pelos serviços de segurança nas recentes manifestações contra o regime de Al Assad continuem presas.
Uma delas é a estudante e blogueira Ahmad Khadifi, detida em 23 de março.
Treze pessoas, entre elas dois bombeiros e um funcionário público, foram mortas quando participavam dos protestos de sexta-feira. As autoridades acusam os manifestantes pelas mortes.
Fontes próximas aos protestos, entretanto, falam em até 25 vítimas fatais da repressão policial.
O movimento, que começou na cidade de Deraa - onde desde 18 de março já são contado dezenas de mortos, se ampliou até Sanamein, Daael, Damasco, Duma, Banias e Hama - palco, em 1982, de uma rebelião da Irmandade Muçulmana duramente reprimida.
Uma estimativa da organização Anistia Internacional indica que 55 pessoas morreram em uma semana apenas na província de Daraa, no sul, uma área tribal na fronteira com a Jordânia.
Na quinta-feira, as autoridades sírias prometeram estudar a anulação do estado de emergência, instaurado em 1963, além de implantar medidas de combate à corrupção e libertar opositores. Um aumento dos salários dos funcionários também foi oferecido pelo regime autoritário, no poder há 40 anos, que tenta a todo custo conter a revolta.