Montanhas sagradas de Gran Canaria reúnem vestígios de uma cultura aborígine que habitou a ilha vulcânica (JulieanneBirch/Getty Images)
AFP
Publicado em 7 de julho de 2019 às 13h55.
Última atualização em 7 de julho de 2019 às 13h57.
A Unesco inscreveu neste domingo em sua lista do Patrimônio Mundial a paisagem espanhola de Risco Caído e as montanhas sagradas de Gran Canaria, que reúnem vestígios de uma cultura aborígine que habitou esta ilha vulcânica até o fim do século XV.
Descrita pelo escritor espanhol Miguel de Unamuno como "a tempestade petrificada", a paisagem, localizada no interior da ilha de Gran Canaria, é uma zona íngreme, com barrancos e uma grande caldeira gerada por uma erupção vulcânica.
O espaço protegido inclui 10 jazidas com povoados e locais de culto que são uma amostra da vida desta sociedade, originária da cultura berbere do norte da África e que se desenvolveu de forma isolada por 1.500 anos. Entre eles se destaca o antigo povoado troglodita de Risco Caído.
"É uma cultura isolada em uma pequena ilha, que não conhece o metal, com recursos muito limitados. É surpreendente o grau de sofisticação que alcança", disse o diretor do projeto de candidatura à Unesco, José de León. "Tinham conhecimentos astronômicos muito avançados, um conhecimento de geometria poderoso, eram bons desenhistas", assinalou.
Com a incorporação de Risco Caído, a Espanha soma 48 bens no Patrimônio Mundial da Unesco, sendo o terceiro país com maior presença nesta lista, em que também foi incluído um sítio aborígine mais antigo do que as pirâmides do Egito e onde as populações indígenas da Austrália desenvolveram há milhares de anos uma rede sofisticada de aquicultura.
A paisagem cultural Budj Bim, situada no sudeste da Austrália, foi criada pela nação Gunditjmara, há cerca de 6,6 mil anos. No local, encontram-se os restos dos canais de pedra construídos para capturar enguias procedentes de um lago e de pântanos.
O sítio, que inclui restos de casas de pedra, contradiz a lenda segundo a qual os aborígines eram simples caçadores nômades sem colônias estabelecidas ou meios de produção alimentar sofisticados.
Ao anunciar ontem a inscrição do sítio no Patrimônio Mundial, a Unesco explicou que os Gunditjmara criaram "uma das maiores e mais antigas redes de aquicultura do mundo".
Seus canais, diques e represas serviam para represar a água das cheias e "criar estanques para prender, armazenar e capturar" enguias, o que "proporcionou à população uma base econômica e social por seis milênos", assinalou a Unesco.
Budj Bim, no estado de Victoria, é o primeiro sítio australiano a entrar na lista do Patrimônio Mundial exclusivamente devido à importância de sua cultura aborígine.