China: o governo definiu em dezembro um prazo de dois anos para a reestruturação do sistema para as empresas venderem ações nas bolsas de valores do país (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 6 de março de 2016 às 12h50.
Xangai - Líderes chineses sinalizaram que novas regras para a abertura de capital de empresas serão introduzidas mais tarde do que muitos investidores estavam esperando, no mais recente sinal de que assegurar a estabilidade tornou-se prioridade da política de Pequim.
Em uma omissão surpresa, o premiê Li Keqiang não fez qualquer referência à introdução planejada há muito tempo de um chamado "sistema baseado em registro" para ofertas públicas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês), quando entregou seu relatório de trabalho, na abertura da sessão anual do Parlamento da China, neste sábado.
A reforma, que muitos investidores esperavam acontecer em maio deste ano, tiraria alguns dos poderes do regulador do mercado de ações chinês para aprovar listagens, dando às empresas e investidores mais influência para decidir se proceder com o IPO.
O gabinete ministerial chinês definiu em dezembro um prazo de dois anos para a reestruturação do sistema para as empresas venderem ações nas bolsas de valores do país.
Ainda assim, a ausência de qualquer referência às novas medidas no discurso de Li é um sinal de como a atitude de Pequim sobre a reforma econômica baseada no mercado mudou nos últimos 12 meses, período em que as ações chinesas primeiro subiram e, em seguida, recuaram rapidamente.
Em seu relatório equivalente de um ano atrás, Li - a segunda autoridade mais poderosa na China, depois do presidente Xi Jinping - tinha prometido "implementar o novo sistema de registro de emissão de ações" no ano seguinte.
"A reforma do IPO definitivamente está sendo adiada porque a ênfase é sobre a estabilidade do mercado", disse uma pessoa com conhecimento do assunto ao The Wall Street Journal.
Em seu discurso de duas horas no sábado, Li salientou a necessidade de "aumentar o nível de estado de direito" nos mercados de ações e títulos da China, indicando uma preocupação contínua das autoridades em reprimir fraudes e irregularidades no mercado.
Na mesma ocasião, no ano passado, Pequim estava prevendo colocar a reforma do mercado de ações no centro de seus planos econômicos.
A esperança era que as empresas chinesas confiariam mais no capital próprio em vez de buscar mais dívida, por sua vez, aliviando a carga sobre o sistema bancário da China.
Por outro lado, a participação acionária mais difundida iria, esperava-se, ajudar a acelerar a mudança da China para um crescimento mais liderado pelo consumo.
Quando Li falou em março passado, as ações chinesas estavam no meio de uma corrida de touros, em parte graças ao estímulo oficial para os investidores pedirem dinheiro emprestado para comprar mais ações.
Os papéis em Xangai, o principal mercado de ações da China, subiram 58% em pouco mais de três meses, atingindo o pico em junho do ano passado. Mas começaram a cair drasticamente durante o verão chinês, e continuaram o movimento este ano, com uma queda de 19% somente em 2016.
Pequim fez diversos esforços para travar a queda do mercado. Fundos de investimento apoiados pelo governo, que ficaram conhecidos como a "seleção nacional", compraram ações periodicamente durante o outono.
Em janeiro, o regulador do mercado introduziu novos "circuit breakers", que interromperam negociação quando os mercados caíram 7% em um dia. O sistema só incentivou vendas de ações ainda mais pesadas e foi desfeito apenas quatro dias após seu lançamento.
A saída, no mês passado, de Xiao Gang, ex-regulador, que tinha sido fortemente criticado por sua má gestão da crise do mercado de ações, também parece ter desempenhado um papel no atraso da reforma do IPO.
"O novo presidente acaba de chegar e ele precisa de tempo para rever um monte de coisas", disse a pessoa com conhecimento do assunto, referindo-se Liu Shiyu, que substituiu Mr. Xiao. O regulador do mercado chinês, a China Securities Regulatory Commission, não pôde ser encontrada para comentar.