A Igreja que o novo pontífice vai encontrar tem pendente o tema da colegialidade (relação entre a Cúria e os episcopados nacionais), um dos pontos que ficaram sem ser resolvidos na era de Bento XVI (REUTERS/100eos1d)
Da Redação
Publicado em 13 de março de 2013 às 21h52.
Cidade do Vaticano - O papa Francisco I tem que enfrentar grandes desafios dentro da Igreja, como uma maior colegialidade, a reforma da cúria, para torná-la mais eficaz e transparente, e estimular a evangelização em um mundo cada vez secularizado.
O pontífice deverá prosseguir com o desenvolvimento do Concílio Vaticano II, que não está esgotado, e estimular o ecumenismo em prol da unidade dos cristãos.
O novo papa deverá lidar, além disso, com os casos de clérigos pedófilos, seguindo as linhas de tolerância zero adotada por Bento XVI, a escassez de vocações, o celibato sacerdotal, uma maior presença da mulher nas instituições da Igreja e a melhora das relações com o Islã e, sobretudo, com os judeus.
Em um mundo cada vez secularizado, onde a religião, como denunciou em várias ocasiões o papa emérito Bento XVI, é relegada ao âmbito privado, o 226º sucessor de São Pedro deverá traçar as linhas para recuperar esse espaço e terá que contar com uma maior participação laica.
A descristianização do Ocidente, sobretudo da Europa, levou Bento XVI a criar um dicastério para a Nova Evangelização. Para isso, ele convocou um sínodo de bispos.
O papa Francisco terá que canalizar as propostas dos prelados, entre elas uma catequese adequada e o uso de novas linguagens para mostrar Cristo.
A Igreja que o novo pontífice vai encontrar tem pendente o tema da colegialidade, ou seja, a relação entre a Cúria e os episcopados nacionais, um dos pontos que ficaram sem ser resolvidos na era de Bento XVI.
Vários bispos consideram que é preciso estimular o governo comum da Igreja e aumentar as atribuições das conferências episcopais, enquanto na cúria vaticana são muitos os que pensam que deve prevalecer o governo central da Igreja.
O caminho rumo à colegialidade é longo e, segundo o teólogo heterodoxo Hans Kung, Roma continua exibindo um Igreja forte, absolutista, que reúne em suas mãos os poderes legislativos, executivos e judicial, que não leva em conta a universalidade da mesma.
A reforma da cúria romana é urgente, sobretudo após o escândalo Vatileaks, que revelou intrigas e confrontos na cúria. Outro ponto é a escassez de vocações e a consequente diminuição de sacerdotes. A cada dia há mais paróquias sem sacerdotes e estes têm que cobrir vários povos.
Perante este problema, volta a surgir o tema do celibato.
Bento XVI defendeu o celibato sacerdotal e manteve fechadas as portas do sacerdócio aos homossexuais, mas concedeu mais dispensas que seu antecessor a clérigos para que se casassem.
O papel da mulher na Igreja é outro tema pendente. Bento XVI, como João Paulo II, ressaltou em várias ocasiões o trabalho da mulher, mas ficou nisso e insistiu que não podem ser ordenadas sacerdotes do sexo feminino.
Visto que não parece que os tempos estejam maduros para o sacerdócio feminino, as mulheres exigem uma maior participação nas tarefas da paróquia, da mesma forma que os laicos.
Outro problema pendente é a admissão aos sacramentos dos católicos divorciados e que voltaram a se casar.
Segundo o Conselho Pontifício para os Textos Legislativos, essa proibição é 'lei divina', ou seja, que nem sequer a Igreja pode modificar.
A moral sexual é outro ponto pendente. A Igreja é contrária às relações pré-matrimoniais, uso de anticoncepcionais, etc. Também rejeita o uso de preservativos contra a Aids e considera o homossexualismo como um desvio.
As relações com o islã sofreram um retrocesso com Bento XVI, após citar em discurso uam frase do imperador bizantino Manuel II Paleólogo 'Maomé não tinha trazido nada de inovador, exceto a ordem de estender a fé por meio da espada'.
Com os judeus, as relações se deterioraram após a decisão de Bento XVI de revogar a excomunhão ao bispo que nega o Holocausto judeu, após declarar 'Venerável' - primeiro passo à santidade- Pio XII, a quem acusam de ter se calado perante o Holocausto, e a recuperação da prece da Sexta-Feira Santa na qual se pedia, antes do Concílio Vaticano, a 'conversão' dos judeus.
O papa Francisco terá que prosseguir, por expresso desejo de Bento XVI, as negociações com os lefebvrianos, que provocaram um cisma em 1988, ao ordenarem quatro bispos sem a permissão de papa e por não reconhecerem o Concílio Vaticano II.
O novo pontífice também terá que seguir o caminho de Bento XVI em defesa da natureza. Ratzinger foi um dos papas que mostrou maior sensibilidade pela ecologia, denunciando a erosão, o desmatamento, o espólio dos recursos minerais e dos oceanos.