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Da Redação
Publicado em 24 de março de 2011 às 11h01.
Viena - Há duas semanas, o mundo da ciência acompanha com interesse máximo o deslocamento da radiação procedente da usina nuclear japonesa de Fukushima, cujas partículas já se encontram sobre a Islândia, rumo à Europa continental.
Os especialistas baseiam seus cálculos nos dados que recebem diariamente das estações de medição da comissão preparatória da Organização do Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares (CTBTO).
Com sede em Viena, essa instituição das Nações Unidas, até agora pouco conhecida, ainda não se encontra em pleno funcionamento, à espera que uma dezena de Estados com grandes programas nucleares ratifiquem um tratado assinado em 1996 por 182 países.
O objetivo da CTBTO é montar uma rede de 337 estações de medição sísmica, hidroacústica, subsônica e também de radioisótopos para poder detectar qualquer detonação atômica. As instalações se encontram em 89 países e em arquipélagos situados em todos os oceanos do planeta.
Desde 2000, quando a rede de supervisão foi lançada, a organização montou 264 das estações, com um investimento de cerca de US$ 1 bilhão procedente dos países signatários.
Algumas das instalações estão em lugares bastante afastados, como a Ilha de Páscoa, no Chile, e a Antártida, mas também em centros urbanos como Buenos Aires, Pequim e Melbourne (Austrália).
No Japão, há duas estações de medição, uma na ilha de Okinawa e outra em Gunma, perto de Tóquio.
Os supostos vestígios de partículas radioativas de Fukushima foram detectados desde o começo do desastre nas estações de Havaí, Wake Island, Sacramento e Charlottesville (todas nos Estados Unidos) e desde domingo passado também na Islândia.
"São equipamentos de última tecnologia que requerem uma atenção científica local para poder transmitir dados todos os dias do ano para a central da CTBTO (em Viena)", explicou à Agência Efe o físico nuclear austríaco Robert Werzi, responsável pela manutenção das estações de medição da entidade.
Um dos pontos de medição do ar se encontra no telhado da sede da ONU em Viena, que acolhe também a CTBTO e seus 260 empregados.
A estação primeiramente absorve o ar e o passa por um filtro especial que depois é comprimido em pequenos discos, que são analisados pelos cientistas da entidade em equipamentos de máxima sensibilidade para determinar a presença de partículas radioativas e o nível de contaminação.
"A rede foi desenhada para níveis muito baixos de radioatividade, por isso não foi difícil detectá-la depois do acidente de Fukushima", afirmou Werzi.
Os discos com os filtros de ar são enviados das estações de todo o mundo a Viena, onde são arquivados nas instalações da organização.
Segundo o físico nuclear, esses discos têm grande importância científica, já que são a única evidência sobre a poluição ou radiação medida em um determinado momento.
A CTBTO entrega seus dados a cerca de 1,2 mil instituições acadêmicas e científicas de 120 países-membros, que podem dispor livremente dessas informações, como é feito desde a semana passada pela central meteorológica da Áustria (Zamg), que divulga os dados.
A Zamg confirmou nesta quarta-feira que rastros de iodo-131 radioativo foram detectados na estação de medição de Reykjavík, capital da Islândia, mas em quantidades tão reduzidas que não representam perigo algum para a saúde humana.
Para facilitar o trabalho dos na área do desastre no Japão, a CTBTO passou a compartilhar nesta semana suas informações com a Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) e a Organização Mundial da Saúde (OMS).