Ativistas do Greenpeace queimam símbolo químico do dióxido de carbono, em protesto na usina geradora de energia em Klingenberg, em Berlim (AFP/Arquivo / Theo Heimann)
Da Redação
Publicado em 21 de novembro de 2011 às 15h58.
Paris - Uma nova rodada de negociações climáticas, sob o guarda-chuva da ONU, começa na próxima semana na África do Sul, tendo como pano de fundo o anúncio de emissões recorde de gases estufa em 2010, mas também a frustração que tem marcado a busca de soluções para a crise do clima.
Às vésperas do encontro de 12 dias em Durban, entre 28 de novembro e 9 de dezembro, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) anunciou esta segunda-feira que o dióxido de carbono (CO2), o principal gás causador do efeito estufa, atingiu um novo recorde em 2010.
"Mesmo se conseguíssemos cortar pela metade nossas emissões atuais - e este não é o caso, de longe - elas permaneceriam na atmosfera por décadas e, assim, continuariam a afetar o delicado equilíbrio do nosso planeta vivo e do nosso clima", afirmou o secretário-geral da OMM, Michel Jarraud.
Segundo analistas, a ONU ainda está sob o impacto da conturbada Cúpula de Copenhague, em 2009, e que Durban pode se tornar o cenário de disputas sobre o Protocolo de Kyoto, o único acordo a estabelecer controles legais de gases de efeito estufa.
Enaltecido por seus defensores como um modelo de cooperação entre ricos e pobres, o primeiro período de compromissos do tratado expira no final de 2012.
Mas o pacto foi gravemente enfraquecido pela ausência dos Estados Unidos e pela falta de restrições vinculantes a grandes emergentes, como Índia e China.
O palco está montado para uma "dança muito complicada" sobre o futuro de Kyoto, comparou Alden Meyer, veterano de negociações climáticas da União de Cientistas Preocupados, ONG baseada em Washington.
"O pior cenário levará à pane e ao colapso do sistema como um todo", afirmou.
Canadá, Japão e Rússia já se recusaram a assinar o tratado por um segundo período de compromisso, alegando falta de vínculos legais para os maiores emissores de carbono do planeta.
A Europa acena com uma continuidade, desde que China e Estados Unidos aceitem fazer parte de um acordo "global e abrangente".
Para alguns analistas, fazer com que Kyoto fique obsoleto aumentaria as chances de um acordo global.
"Embora o protocolo continue sendo uma marca importante do multilateralismo, tornou-se, na realidade, mais um impedimento do que um processo genuíno", escreveu Elliot Diringer, do 'thin tank' americano Center for Climate and Energy Sollutions, na edição da semana passada da revista Nature.
Outros temem que deixar Kyoto cair no limbo possa ser politicamente devastador.
Em junho do ano que vem, líderes mundiais se reúnem para a conferência Rio+20, no 20º aniversário da Cúpula do Rio, onde a Convenção-quadro sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC, na sigla em inglês) foi criada.
"Durban é a última oportunidade real para que países possam dar convicção em um futuro regime climático", avaliou o grupo ambientalista Fundo Mundial para a Natureza (WWF).
"Os cidadãos do mundo esperam por um sinal claro sobre o que os países farão em um segundo período de compromisso que ajude a salvar o planeta e seu povo", acrescentou.
Mas esta retórica grandiloquente de alto perfil contrasta com o pragmatismo que marca o processo climático atualmente, situação aguçada pela crise financeira e pelas consequentes medidas de austeridade.
A nova matriz é o Acordo de Copenhague, que estabelece como meta limitar o aquecimento a 2ºC, formalmente adotada pela ONU na cúpula do ano passado, em Cancún (México).
No entanto, não foram estabelecidos prazos ou ferramentas para atingir este objetivo, além de um pacto voluntário de cortes de emissões.
"A partir das garantias que estão sobre a mesa agora, nós consideramos que talvez se consiga 60% do que precisa ser feito para ficarmos abaixo dos 2ºC", afirmou Artur Runge-Metzger, alto negociador da União Europeia.
As negociações em Durban começam ao nível de altos representantes e terminam com a presença de ministros de Meio Ambiente.
O encontro também tem como tarefa avançar na proposta de um Fundo Climático Verde, esboçada em Copenhague e lançada em Cancún.
A meta é alavancar a arrecadação de fundos a pelo menos 100 bilhões de dólares ao ano até 2020 para ajudar os países pobres a enfrentar as mudanças climáticas e se adaptar a cheias, secas e tempestades mais intensas.
Mas as negociações sobre o desenho do Fundo estão obstruídas, com as objeções de Estados Unidos e Arábia Saudita.