Linha de montagem da GM, em Gravataí: em 2012, unidade zerou o envio de resíduo para aterros (WIECK/Divulgacao)
Vanessa Barbosa
Publicado em 29 de abril de 2014 às 12h03.
São Paulo – Num mundo onde a pressão sobre os recursos naturais só aumenta e a preocupação com o meio ambiente se traduz em leis cada vez mais rígidas, a gestão adequada do lixo virou assunto estratégico dentro das empresas. E daqueles com potencial de falar alto ao bolso, ou melhor, ao caixa. A General Motors sabe bem disso.
No ano passado, a montadora mandou para reciclagem 90 por cento de todos os resíduos gerados no processo de fabricação de seus carros mundo a fora, ao invés de enviá-los para aterros. Os louros foram colhidos: a iniciativa gerou receitas de cerca de R$ 2 bilhões, segundo o último relatório de sustentabilidade da empresa.
Tal façanha foi alcançada com a implementação do programa Landfill Free (livre de aterro sanitário, em tradução livre), que visa reduzir a zero o volume de lixo mandado para aterros. A meta é atingir 125 instalações da empresa em todo o mundo até 2020. Falta pouco.
Hoje, 106 unidades já reciclam 100% dos resíduos. Na lista entra de tudo - de sucata de aço e borra de tinta a caixas de papelão e pneus desgastados.
Experiência brasileira
A primeira planta brasileira a consquistar o status livre de aterro, em 2012, foi a de Gravataí, no Rio Grande do Sul, de onde saem modelos como o Celta, Onix e Prisma.
A unidade atua em duas frentes para reduzir o impacto ambiental de suas operações. Primeiro, busca a redução do desperdício. Somado a isso, desenvolve ações que visem à reciclagem e à reutilização dos materiais.
“Uma empresa de manufatura de automóveis gera uma serie de resíduos, alguns com valor, como os retalhos da estamparia, que são disputados a tapas, e alguns de pouco valor, como borra de tinta, um resíduo perigoso, com metal pesado”, explica Nelson Branco, gerente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da América Latina pela GM.
Peças descontinuadas de automóveis, ou que se quebram - um farol por exemplo -, têm plástico, alumínio e fiação em sua composição. Tudo isso pode ser reciclado e por vezes reutilizado na cadeia de consumo.
Não para aí. Embalagens plásticas são separadas por tipo de plástico e vendidas para empresas de reciclagem. O solvente usado em limpeza de tubulações da linha de pintura também é vendido pra uma empresa que destila esse solvente e o revende.
O que não é reutilizado na fábrica é encaminhado para empresas parceiras que dominam tecnologias específicas de reciclagem para certos resíduos. Quanto mais alternativas surgem para lidar com esses resíduos, mais benefícios são gerados.
“O valor nem sempre é alto, em alguns casos beira o simbólico. Mas é uma forma de nos adiantarmos em relação aos marcos regulatórios”, diz Nelson, referindo-se à Política Nacional de Resíduos Sólidos. “Estamos ganhando terreno”, define.
Para atingir este objetivo, a empresa investe pesado na logística de coleta seletiva, garantindo a correta segregação dos materiais. A colaboração dos funcionários é chave aqui. “Fazemos um trabalho muito grande de conscientização, desde a linha de produção até os escritórios”, sublinha Branco. “Numa empresa, a formação de uma cultura é coisa eterna”.
Em 2003, cada veículo montado em Gravataí gerava 11,08 quilos de resíduos enviados para aterro industrial. Hoje, este número é de 0 quilo por carro. E neste intervalo de tempo, a capacidade instalada de produção da fábrica foi duplicada.
Este ano foi a vez da fábrica de Joinville se tornar “livre de aterro”, e até dezembro a planta de estamparia em Mogi das Cruzes deve cumprir a meta. As fábricas de São José dos Campos e São Cateano do Sul, no estado de São Paulo, têm até 2015 para zerar o envio de resíduos para aterros.