Mundo

Receber refugiados é investimento para Canadá, diz Trudeau

Primeiro-ministro do Canadá classificou como irracional a atitude de alguns países, que anunciaram o fechamento de fronteiras para os refugiados


	Justin Trudeau: "Não existe um ponto que chegamos, e pensamos 'não cabe mais ninguém aqui, estamos satisfeitos com essa população'", criticou
 (Chris Wattie/Reuters/Reuters)

Justin Trudeau: "Não existe um ponto que chegamos, e pensamos 'não cabe mais ninguém aqui, estamos satisfeitos com essa população'", criticou (Chris Wattie/Reuters/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 7 de março de 2016 às 21h42.

São Paulo - O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, falou ao Huffington Post que sua política de receber refugiados é um investimento para o país, que tem uma composição populacional bastante homogênea.

"O Canadá tem que saber separar o país da nação. Não existe o 'canadense típico'", afirmou, dizendo que para ser um canadense, é necessário, acima de tudo, aceitar e compartilhar determinados valores.

Trudeau classificou como irracional a atitude de alguns países, que anunciaram o fechamento de fronteiras para os refugiados, e disse confiar que os refugiados que chegam hoje ao Canadá vão trabalhar duro para construir um país - que chamarão de lar - melhor.

Prime Minister Justin Trudeau on Canada's ongoing role in the refugee crisis. WATCH HERE: http://huff.to/1TmApyF

Publicado por The Huffington Post Canada em Segunda, 7 de março de 2016


Nesta segunda-feira (7), o premiê foi à redação do HuffPost Canadá, onde respondeu perguntas de leitores, de jornalistas do Huff e de uma pequena plateia.

Além da questão dos refugiados, tema recorrente em seu governo, e falou também sobre outros assuntos delicados, como a relação do Canadá com Israel e sobre a possibilidade que o bilionário americano Donald Trump se torne presidente dos EUA.

"Não existe um ponto que chegamos, e pensamos 'não cabe mais ninguém aqui, estamos satisfeitos com essa população'", criticou o líder, que se elegeu em outubro com a proposta de aumentar o número de refugiados no país e, desde então, recebeu mais de 30 mil sírios e iraquianos que fogem da guerra e da violência em seus países natais.

A fala do premiê coincide com mais um momento complicado na crise dos refugiados vivida pela União Europeia.

Muitos países estão impondo controles ainda mais severos, e milhares de refugiados, que chegam ao continente todos os dias pelo Mar Mediterrâneo estão 'represados' na Grécia e em nações vizinhas, que já afirmaram não ter recursos - financeiros e humanos - para lidar com o crescente número de pessoas.

Ainda na mesma linha, Trudeau falou sobre o papel do Canadá na paz mundial, e sobre a situação na Síria. "Precisamos olhar para um futuro na Síria que não inclua Bashar Al-Assad", afirmou Trudeau.

"Se olharmos para um futuro estável num médio prazo na Síria, é preciso envolver outra liderança que não seja Assad, mas o que vai acontecer até lá, e como chegaremos até lá, depende muito da Rússia e de esforços diplomáticos", falou Trudeau, que classificou o ditador como parte do problema, mas também como parte de uma possível solução transitória para que o país saia da guerra civil, que completa cinco anos neste mês e já deixou quase 500 mil mortos.

Em termos de política externa, um dos principais assuntos foi a relação do Canadá com Israel.

Questionado a respeito do tema, Trudeau foi categórico: "Israel é um amigo, é um aliado, é um país com o qual compartilhamos valores e que está alinhado conosco em muitos aspectos".

No entanto, não é por isso que a relação entre as duas nações será um mar de rosas. "Mesmo assim, não vamos hesitar em falar sobre passos que são improdutivos, como os assentamentos", comentou Trudeau sobre o conflito entre Israel e a Palestina.

"É isso que as pessoas esperam do Canadá: há vezes em que não concordamos com nossos amigos, e não vamos hesitar em dizer isso. Há vezes que concordamos e ficamos do lado de nossos amigos e há vezes que, mesmo não concordando, damos nosso apoio à nações parceiras".

Donald Trump

Outro tópico que rendeu assunto foi o pré-candidato republicano à presidência dos EUA, o bilionário Donald Trump.

No entanto, se Trump não tem papas na língua, Trudeau usou e abusou da diplomacia para evitar o assunto, e para se sair bem nas respostas.

"Responder perguntar hipotéticas não é o meu forte, mas a realidade é que vamos trabalhar ao lado dos nossos vizinhos e aliados, independente de suas escolhas políticas".

O premiê foi categórico: "Eu não vou comprar uma briga com Trump agora, tampouco vou apoiá-lo, mas observo o momento com muita atenção", disse ele, que afirmou ainda que é necessário observar as frustrações que fomentam o trumpismo nos EUA e no mundo.

Trump defende, além da construção de um extenso muro na fronteira dos EUA com o México, a deportação de milhares de imigrante e a proibição da entrada de muçulmanos no país.

"independente do resultado do processo eleitoral, eu espero manter nossa relação forte e contínua."

Trudeau, no entanto, não hesitou em apontar diferenças do sistema de financiamento de campanha eleitoral canadense e americano, e disse que esse pode ser um tema que seus vizinhos precisem rever.

"O que fizemos, há alguns anos, foi mudar o papel do dinheiro na política e isso mudou toda a estrutura e as obrigações do poder" - atualmente, apenas indivíduos podem fazer doações limitadas para campanhas políticas no Canadá.

"É algo que sei que um número de americanos e políticos deseja refletir sobre, e que talvez possa ser feito depois de novembro", falou ele, se referindo ao processo de escolha do novo presidente dos EUA.

Acompanhe tudo sobre:CanadáCelebridadesDonald TrumpEmpresáriosEstados Unidos (EUA)Justin TrudeauPaíses ricosRefugiados

Mais de Mundo

Justiça da Bolívia retira Evo Morales da chefia do partido governista após quase 3 décadas

Aerolineas Argentinas fecha acordo com sindicatos após meses de conflito

Agricultores franceses jogam esterco em prédio em ação contra acordo com Mercosul

Em fórum com Trump, Milei defende nova aliança política, comercial e militar com EUA