Mulher síria chora pela morte de parentes em Treimsa, em 15 de julho (Unsmis/AFP)
Da Redação
Publicado em 19 de julho de 2012 às 22h02.
Amã - Rebeldes assumiram o controle de trechos das fronteiras da Síria e incendiaram a principal delegacia de polícia na Cidade Velha da capital Damasco, avançando de forma implacável depois de matarem na véspera importantes membros do governo do presidente sírio, Bashar al-Assad.
A batalha pelo controle de partes da capital perdurou até as primeiras horas da sexta-feira (hora local), com cadáveres se amontoando nas ruas. Em alguns bairros, moradores disseram haver sinais de que a presença do governo está diminuindo.
Autoridades do vizinho Iraque confirmaram que rebeldes sírios assumiram o controle no lado sírio do posto de fronteiriço de Abu Kamal, na rodovia que acompanha o rio Eufrates, uma das principais rotas comerciais do Oriente Médio.
Os rebeldes também dominam pelo menos dois postos de controle na fronteira com a Turquia, em Bab al-Hawa e Jarablus, no que parece ser uma campanha coordenada para dominar as fronteiras da Síria.
Imagens feitas por rebeldes em Bab al-Hawa mostraram-nos subindo em telhados e rasgando um pôster de Assad.
"A passagem está sob nosso controle. Eles retiraram seus blindados", disse um rebelde, identificado apenas como Ali, que estava sendo tratado no lado turco depois de ser ferido.
Dois oficiais do Exército Sírio Livre (grupo rebelde) disseram que os combatentes estavam ocupados, nas primeiras horas de sexta-feira, desmontando sistemas de informática, apreendendo prontuários de segurança e esvaziando as prateleiras da loja "duty free".
Pelo menos 30 tanques do governo na área não foram mobilizados para tentar recuperar o posto de fronteira, segundo Ahmad Zaidan, um comandante graduado do Exército Sírio Livre.
Recorde de mortos
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos denunciou que mais de 250 pessoas foram mortas na Síria nesta quinta-feira, o maior número de mortos em um único dia desde o início da revolta contra Assad, há 16 meses.
O grupo, sediado na Grã-Bretanha, afirmou que 155 civis, incluindo 44 pessoas em Damasco, onde batalhas acontecem há cinco dias, e 93 membros das forças de segurança foram mortos.
O Observatório declarou que ainda estava coletando informações sobre o número de combatentes rebeldes mortos junto a fontes no terreno e que espera que o número de mortos suba significativamente.
Refugiados
No vizinho Líbano, autoridades disseram que refugiados cruzam a fronteira em grande número. Uma fonte de segurança estimou que 20 mil deles tenham entrado no Líbano só nesta quinta-feira.
Em Damasco, uma testemunha no bairro de Qanawat, na Cidade Velha, disse que a enorme sede da Polícia Provincial de Damasco foi queimada e saqueada pelos rebeldes e que seus funcionários fugiram.
"Três carros de patrulha vieram ao local e foram atingidos por bombas nas calçadas", disse o ativista Abu Rateb por telefone. "Vi três corpos em um carro. Outros disseram que dezenas de homens da segurança e shabbiha (milícias pró-Assad) caíram mortos ou feridos ao longo da rua Khaled bin al-Walid, antes que ambulâncias os levassem embora."
Os próximos dias serão cruciais para determinar se o governo de Assad conseguirá se recuperar do devastador golpe do atentado a bomba de quarta-feira, que eliminou boa parte da estrutura de comando do regime e destruiu a aura de invulnerabilidade do seu círculo íntimo.
O poderoso cunhado de Assad, o seu ministro da Defesa e um general de alta patente foram mortos no atentado de quarta-feira. O chefe de inteligência e o ministro do Interior ficaram feridos.
As forças do governo reagiram bombardeando a sua própria capital com helicópteros e canhões posicionados em montanhas próximas.
A sensação de fragilidade do regime ficou ainda maior pelo fato de Assad ter passado mais de 24 horas sem aparecer depois do ataque. Ele finalmente foi mostrado nesta quinta-feira pela TV estatal, dando posse a um novo ministro da Defesa, num local não revelado.
Diplomacia atropelada
Os esforços diplomáticos, rapidamente atropelados pelos fatos no terreno, sofreram um novo revés nesta quinta-feira, quando Rússia e China vetaram uma resolução do Conselho de Segurança que poderia levar à imposição de sanções à Síria. Os Estados Unidos disseram que o Conselho "fracassou absolutamente".
Essa resolução, que também renovaria o mandato de uma pequena missão de observação da ONU na Síria, foi o terceiro texto a ser vetado por China e Rússia, que se opõem a qualquer medida que possa abrir caminho para uma ação militar internacional contra seu aliado Assad.
Para substituir o texto vetado, a Grã-Bretanha propôs uma resolução de quatro parágrafos que pelo menos renovaria por 30 dias o mandato dos monitores internacionais, sem abrir espaço para sanções. O embaixador da Rússia na ONU disse que pedirá ao seu governo que a leve em consideração.
Enquanto isso, em Damasco, ativistas disseram que os rebeldes assumiram o controle do bairro de Barzeh, na zona norte, de onde soldados e blindados teriam se retirado.
O Exército também abandonou as localidades de Tel e Dumair, ao norte de Damasco, depois de sofrerem pesadas baixas, disseram os ativistas. Por outro lado, eles disseram que as forças do governo continuam bombardeando durante a noite o bairro de Mezzeh, na zona oeste da capital, com metralhadoras e canhões antiaéreos.
Os relatos não puderam ser confirmados por causa das restrições impostas pelo governo sírio a jornalistas estrangeiros.
Um morador que percorreu boa parte da cidade na noite desta quinta-feira disse ter visto sinais de que a presença governamental está diminuindo, e que há apenas postos de controle esporádicos, e tanques em algumas áreas. O Ministério do Interior, na importante praça Marjeh, está vigiado por um contingente bem menor que o habitual.
Disparos podiam ser ouvidos no subúrbio de Mouadamiyeh (sudoeste) vindos de morros próximos, onde fica a sede da Quarta Divisão do Exército, comandada por um irmão de Assad, Maher.
A TV síria mostrou os corpos de cerca de 20 homens de jeans e camisetas e com armas ao seu lado, espalhados por uma rua no bairro de Qaboun. A reportagem os descreveu como terroristas mortos em combate.