Trégua: os rebeldes afirmam ter respeitado o cessar-fogo em todo o território sírio, mas alegam que o regime e seus aliados não param de disparar (Reuters)
AFP
Publicado em 3 de janeiro de 2017 às 13h40.
Depois de suportar quatro dias com dificuldades, a trégua na Síria parecia nesta terça-feira mais frágil do que nunca, depois que parte dos rebeldes congelou sua participação nos preparativos das negociações de paz, acusando o regime de violar o cessar-fogo.
A decisão de vários grupos rebeldes ameaça o processo que deve começar no final de janeiro em Astana, promovido por Moscou e Teerã e com o apoio do regime e Ancara, aliado dos insurgentes.
O Exército sírio voltou a bombardear nesta segunda-feira uma região rebelde perto de Damasco para tentar recuperar o controle de fontes de água vitais para a capital, porém, os insurgentes denunciaram uma violação da trégua e suspenderam o diálogo.
Dez grupos rebeldes anunciaram que suspendiam qualquer discussão em resposta às "violações" da trégua.
"Estas violações continuam. Os grupos rebeldes anunciam a suspensão de qualquer discussão relacionada com as negociações de Astana", indicaram em um comunicado.
Há duas semanas, antes da trégua apadrinhada pela Rússia e pela Turquia, a Força Aérea bombardeou essa área quase que diariamente, e as tropas do governo avançavam nesta segunda-feira para os arredores de Ain al-Fige, uma importante fonte de água.
Os rebeldes afirmam ter respeitado o cessar-fogo em todo o território sírio, mas alegam que o regime e seus aliados não param de disparar, especialmente nas regiões (rebeldes) de Wadi Barada e Guta oriental, ambas situadas na província de Damasco.
Entre os grupos que assinaram o texto figuram os rebeldes islamitas Jaij al Islam e Faylaq al Rahman, presentes em Damasco, assim como o grupo Sultan Murad, apoiado pela Turquia e Jaij al Ezza, ativo na província de Hama (centro).
A ofensiva das forças do regime, apoiadas por combatentes do movimento xiita libanês Hezbollah, continuava nesta terça-feira em Wadi Baradi, uma região controlada pelos rebeldes a 15 km de Damasco, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
Este setor é estratégico, já que abriga as principais fontes de fornecimento de água potável para os quatro milhões de habitantes da capital e seus arredores.
Segundo o OSDH, as tropas do regime usam helicópteros e realizam disparos de artilharia.
O governo sírio acusa os rebeldes de danificar as infraestruturas, em particular contaminando com diesel as reservas de água e cortando a rede de abastecimento para Damasco.
Os rebeldes respondem dizendo que são os bombardeios que danificam as instalações e prejudicam o abastecimento.
O regime de Damasco também afirma que o grupo Fateh al Sham (ex-frente Al Nosra, a Al-Qaeda na Síria) está presente em Wadi Barada, o que os rebeldes negam. O grupo Fateh al Sham está excluído da trégua e das negociações.
O OSDH também falou de outras violações da trégua na Síria, em particular ataques aéreos contra Jan Seijun, na província de Idleb, que está em grande parte controlada pelos rebeldes. Uma mulher grávida morreu e três civis ficaram feridos.
Para o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman, a trégua está em uma "fase crítica" e ameaçada se a Rússia e a Turquia não interferirem para resgatar o pacto.
Moscou, que opera na linha de frente, obteve no sábado um apoio de compromisso do Conselho de Segurança da ONU a seu plano de paz.
Em plena transição política antes da posse de Donald Trump, os Estados Unidos, que apoiam a oposição ao regime de Assad, não foram associados a esta iniciativa, pela primeira vez desde o início da guerra, em março de 2011.
Em compensação, é a primeira vez que a Turquia, que se aproximou da Rússia, participa de um acordo.