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Quer salvar o mundo da ira climática? "Controle a carne"

Nosso apetite voraz por produtos de origem animal é tão prejudicial para o clima do planeta quanto o vício por carros, diz estudo


	Carne bovina: sozinha, a pecuária responde por quase 15% das emissões mundiais, volume superior às emissões da maior economia do globo, os EUA
 (Chung Sung-Jun/Getty Images)

Carne bovina: sozinha, a pecuária responde por quase 15% das emissões mundiais, volume superior às emissões da maior economia do globo, os EUA (Chung Sung-Jun/Getty Images)

Vanessa Barbosa

Vanessa Barbosa

Publicado em 5 de dezembro de 2014 às 14h06.

São Paulo - O bife suculento de hoje é o desastre climático de amanhã. Em um primeiro momento, a afirmação pode soar estranha. Mas tem explicação. Nosso apetite voraz por carne e seus derivados tem se revelado um dos vilões do aquecimento global.

Segundo um novo relatório produzido pelo thinktank britânico Chatham House, a pecuária emite mais gases de efeito estufa que todos os tipos de transportes juntos.

Sozinha, a atividade responde por quase 15% das emissões mundiais, volume superior às emissões nacionais da maior economia do globo, os Estados Unidos.

Conforme a pesquisa, mesmo que o mundo reduza a emissões de outros setores-chave, como a energia e o transporte, o aumento no consumo de carne pode pôr tudo a perder.

A procura por produtos animais cresce vertiginosamente.

Em 2050, o consumo de carne e lácteos deverá aumentar 76 por cento e 65 por cento, respectivamente, em relação ao consumo de 2005 a 2007.

Atualmente, os maiores consumidores de carne são a China, a União Europeia, os Estados Unidos e o Brasil. Grandes consumidores de produtos lácteos incluem China, Índia, União Europeia e os Estados Unidos.

Lidar com essa crescente demanda por proteína animal é essencial para manter a mudança climática dentro dos “limites aceitáveis”.

DO ARROTO DO BOI AO BIFE SUCULENTO

(SXC.Hu)

Mas afinal, como a criação de gado ajuda a “esquentar” o planeta?

Através da liberação de gases perigosos na atmosfera.

O setor pecuário é o grande responsável pela emissão de metano, um gás de efeito estufa com potencial de aquecimento 25 vezes maior que o dióxido de carbono (CO2).

A fermentação entérica, como é chamada a digestão de materiais orgânicos pelos ruminantes, libera metano pela flatulência e arrotos de animais, como vacas, cabras e ovelhas.

No Brasil, a agropecuária foi responsável por 26,6% das emissões totais de gases efeito estufa em 2013, segundo dados do Observatório do Clima. A fermentação entérica é responsável por mais da metade disso (56,4%)

Além disso, o estrume que é depositado no solo das pastagens contribui para as emissões globais de óxido nitroso (N2O), outro potente gás que contribui para o aquecimento global.

Soma-se a isso o fator desmatamento. Quando as florestas são derrubadas para dar lugar a pastos, ou são degradadas pela expansão de áreas de cultivo agrícola, que servem à produção de ração animal, toneladas de dióxido de carbono também são liberadas na atmosfera.

POLÍTICA DA CARNE

O problema, no entanto, é que os governos têm sido notoriamente cautelosos para abordar a a relação dos hábitos de consumo das pessoas de forma geral. Grosso modo, eles evitam se intrometer naquilo que comemos.

Pelo menos, é o que os autores do relatório disseram ao jornal britânico The Guardian.

"Muita coisa está sendo feita sobre o desmatamento e o transporte, mas há uma enorme lacuna no setor pecuário. Há uma profunda relutância de se envolver por causa da crença comum de que não cabe aos governos ou a sociedade civil se intrometer na vida das pessoas e dizer-lhes o que comer", disse Rob Bailey, o principal autor do relatório.

A pesquisa mostra que a falta de atenção dada ao assunto pelos governos contribui para uma significativa incompreensão por parte da população sobre as relações entre a pecuária e as mudanças climáticas. É o que o relatório chama de “gap de consciência”.

Segundo o Chatham House, o fraco conhecimento se traduz em uma falta de vontade de mudar o comportamento e, consequentemente, de reduzir as emissões.

NÃO PRECISA RADICALIZAR

(Justin Sullivan/Getty Images)

Quer dizer então que todo mundo precisa abdicar dos prazeres da carne? Calma lá.

O relatório do Chatham House sugere que simplesmente mudar os padrões de consumo para comer o que a maioria dos nutricionistas recomendam, ou seja, comer uma quantidade razoável de carne como parte de uma dieta equilibrada, já seria suficiente para garantir o equilíbrio ambiental.

Portanto, não se trata de renunciar à carne, mas de reduzir seu consumo, a começar em países conhecidos pelo apetite voraz. Nos Estados Unidos, por exemplo, cada pessoa consome, em média, 160 quilos de carne em um ano.

Isso dá quase meio quilo de carne por dia, sendo que, para suprir as necessidades nutricionais da maior parte dos indivíduos, recomenda-se entre 100 e 120 gramas, em média.

Segundo um estudo, publicado no periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences, 60% das terras agrícolas do mundo são usadas para a produção de carne bovina e para o cultivo de grãos que servem de ração para os animais.

É o excesso que pesa no orçamento planetário.

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