Homens mascarados em San Antonio del Táchira, na Venezuela: grupos paralelos aterrorizaram milhares de pessoas que tentavam levar ajuda humanitária via pela Colômbia (Carlos Eduardo Ramirez/Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 3 de março de 2019 às 06h00.
Última atualização em 3 de março de 2019 às 06h00.
Os motociclistas mascarados invadiram a cidade fronteiriça, disparando suas pistolas para o alto, enquanto manifestantes assustados corriam para se esconder na entrada das casas ou entrar no lar de estranhos. Eles formaram barricadas para aterrorizar os dissidentes e percorreram as ruas cheias de escombros até tarde da noite em patrulhas ensurdecedoras.
Em San Antonio del Táchira, na Venezuela, os "colectivos" - gangues leais ao autocrático presidente Nicolás Maduro - encabeçaram o ataque contra aqueles que desafiaram o regime no último fim de semana. Eles aterrorizaram milhares de pessoas que tentavam levar ajuda humanitária para o faminto país pela Colômbia, atacando-as brutalmente a um quarteirão da ponte internacional onde alimentos e remédios estavam à espera.
"Estávamos completamente impotentes", disse Ismael Oropeza, 39, que fez parte das multidões que marcharam pela avenida principal na manhã de sábado. Enquanto os manifestantes enfrentavam os guardas nacionais venezuelanos, homens com o rosto coberto por máscaras de esqui e bandanas surgiram de trás de uma fileira de soldados e abriram fogo, disse Oropeza. "Se seu governo atira em você como a um cachorro na rua, a quem você pode recorrer?"
Enquanto Maduro faz manobras para se defender das tentativas do líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, de derrubá-lo, mobilizar os colectivos é uma aposta arriscada. A última vez que ele recorreu às gangues em grande escala foi durante os meses de protestos em 2017, confrontos brutais que consolidaram a imagem autocrática do regime. Agora, com a atenção do mundo voltada para Maduro, a selvageria desses grupos está sendo condenada e parece impulsionar os esforços internacionais para derrocá-lo.
"Chegou o dia do juízo final para Maduro e os colectivos", disse Alejandro Velasco, professor associado de estudos latino-americanos da Universidade de Nova York. "Eles não estão pensando em tentar vencer uma guerra de ótica. Eles estão tentando vencer uma guerra, ponto final."
No último sábado, a violência assolou as fronteiras da Venezuela, enquanto Guaidó e seus apoiadores - que incluem os EUA e outros 50 países - reuniam suprimentos em pontos de entrada na Colômbia e no Brasil. A ajuda destinava-se a sustentar um país rico em petróleo que sofre com anos de corrupção e má administração. Também tinha o objetivo de demonstrar a liderança de Guaidó, 35, que alega ser o líder legítimo do país de acordo com a constituição, porque Maduro roubou a eleição do ano passado.
Maduro assegura que os comboios eram um pretexto para uma invasão estrangeira, e suas forças frustraram essa tentativa com gás lacrimogêneo, balas de borracha e, em muitos casos, balas de verdade. Pelo menos 200 pessoas ficaram feridas e, na remota cidade de Santa Elena de Uairén, pelo menos quatro morreram enquanto tropas e colectivos corriam soltos, segundo testemunhas oculares.
O senador norte-americano Marco Rubio, da Flórida, e o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, condenaram o uso de gangues para reprimir civis. "Eles em breve vão perceber o quanto se excederam", tuitou o senador republicano, que ajudou a moldar a política dos EUA. Michelle Bachelet, alta comissária das Nações Unidas para os direitos humanos e ex-presidente chilena, condenou as "cenas vergonhosas".