As despesas do líder norte-coreano durante a cúpula com Trump vão ser dividas entre a cidade-Estado e a Coreia do Sul (KCNA/Reuters)
AFP
Publicado em 8 de junho de 2018 às 13h38.
Não acostumada a pagar a fatura, a Coreia do Norte deve, desta vez, deixar Seul ou Singapura acertarem a conta de sua participação, na terça-feira (12), da reunião com Donald Trump.
A cidade-Estado se prepara para receber a histórica cúpula entre o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o presidente americano em um hotel de luxo na ilha de Sentosa.
Ambos os protagonistas provavelmente ficarão em hotéis de alto nível. E é provável que a Coreia do Norte, alvo de uma série de sanções, não tenha nada a pagar.
"Pyongyang está acostumado com o fato de que outros paguem por todos os 'compromissos diplomáticos' do regime recluso", explica à AFP Sung-Yoon Lee, da Escola Fletcher de Direito e Diplomacia da Universidade Americana de Tufts.
No último final de semana, o ministro da Defesa de Singapura, Ng Eng Hen, declarou que seu governo estava pronto para assumir algumas das despesas norte-coreanas, a fim de participar dessa "reunião histórica".
A conta provavelmente será salgada, porque a delegação norte-coreana não se hospedará em qualquer lugar. Um imponente edifício colonial à beira-mar, o hotel Fullerton, cinco estrelas, oferece, por exemplo, uma suíte presidencial a 6 mil dólares por noite que poderia agradar Kim Jong-un, cujo gosto pelo luxo não é segredo.
Se não for este o caso, o jovem líder poderia recorrer ao St. Regis, que oferece seus mordomos e uma frota de Bentleys. A pernoite na suíte presidencial custa 6.700 dólares, com café da manhã incluído.
O estabelecimento também possui uma coleção particular de mais de 70 obras de arte, com Picasso e Miró liderando a gôndola.
A questão também gira em torno de como Kim Jong-un e sua comitiva vão chegar a Singapura.
Trump pode contar com o Air Force One, cujo alcance é de 13.000 km.
Mas o "Air Force One" de Kim Jong-un, como é apelidado pela imprensa internacional o Iliushin-62 do regime norte-coreano, é uma aeronave envelhecida de fabricação soviética. E os especialistas em aeronáutica duvidam de sua capacidade de voar até Singapura.
Kim Jong-un poderá ter de ser levado por outra pessoa, ou alugar um avião.
Se quiser algo parecido com o Air Force One, um Boeing 747-200, a PrivateFly.com aluga o modelo por 17.501 dólares por hora.
Com exceção da oferta do ministro de Singapura, os governos estrangeiros não demonstraram nenhuma vontade de pagar pelas despesas da missão de Kim.
"Não vamos pagar seus custos", declarou a porta-voz do Departamento de Estado americano, Heather Nauert.
Um porta-voz do presidente sul-coreano, Moon Jae-in, indicou que este último também não pretendia colocar a mão no bolso.
No entanto, é para os sul-coreanos que os olhos se voltam quando se trata de pagar a conta dos norte-coreanos.
Seul havia liberado 2,86 bilhões de wons (US$ 2,7 milhões) para abrigar a enorme delegação do norte nos Jogos Olímpicos de Inverno de Pyeongchang, que desempenhou um papel central na atual distensão na península.
A Coreia do Sul também pagou pela participação dos norte-coreanos nos Jogos Asiáticos em 2002 e 2014.
A recíproca não é verdadeira, já que Seul também pagou pelas visitas ao Norte de sul-coreanos durante as reuniões familiares organizadas nos últimos anos, segundo o Ministério da Unificação.
Prêmio Nobel da Paz de 2017, a organização Campanha Internacional pela Abolição de Armas Nucleares (ICAN), propôs na segunda-feira colocar a mão na carteira, aproveitando a soma recebida com a distinção de prestígio.
"Se a realização da cúpula for ameaçada por questões de dinheiro, estamos prontos para arcar com os custos, porque é um encontro histórico importante", declarou à AFP Akira Kawasaki, representante da ICAN.
A revista Newsweek informa que o site de viagens HotelPlanner.com se oferece para pagar as acomodações e a cobertura do líder norte-coreano.
No final, no entanto, caberá a um governo pagar a conta, acreditam os especialistas em questões coreanas, que para muitos consideram uma pena que um país que gastou bilhões de dólares para adquirir armas nucleares não pague suas despesas.
"Pensar que o líder norte-coreano não tem dinheiro para viajar para Singapura é um absurdo", diz Sung-Yoon Lee.