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Quem ganhou e quem perdeu o primeiro round de debates do Partido Democrata

O primeiro ciclo de debates entre os pré-candidatos à presidência dos EUA pelo Partido Democrata evidenciou falhas e habilidades. Veja os destaques

Pré-candidatos do Partido Democrata participam dos primeiros debates (Mike Segar/Reuters)

Pré-candidatos do Partido Democrata participam dos primeiros debates (Mike Segar/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 29 de junho de 2019 às 06h00.

Última atualização em 29 de junho de 2019 às 06h01.

Em artigo recente para a Exame, pouco antes do primeiro dia dos debates dos Democratas nos Estado Unidos, apontei os oito candidatos mais relevantes até agora entre a longa lista de postulantes na disputa pela nomeação do partido para disputar a presidência dos Estados Unidos com Donald Trump nas eleições americanas em 2020.

Com a conclusão desse primeiro ciclo de debates, dividido em duas noites por causa do número de candidatos, já podemos fazer um primeiro balanço. Dentre aqueles que parecem ter aproveitado melhor a oportunidade, destacam-se Elizabeth Warren na primeira noite, e Kamala Harris na segunda.

No sorteio feito pelo Partido Democrata, Warren acabou sendo a única entre os 10 participantes no debate realizado na quarta-feira que ocupava as primeiras posições nas pesquisas. Nenhum dos demais 9 candidatos que debateram com ela estavam sequer entre os primeiros 5 colocados. Nessas condições, Warren acabou recebendo mais atenção por parte dos mediadores e seu tom professoral acabou funcionando para expor suas propostas.

Harris, por outro lado, dividiu o palco com os líderes nas pesquisas de opinião até o momento. Isso fez com que a atenção fosse melhor distribuída entre mais candidatos, e aqueles menos cotados muitas vezes tinham que fazer interrupções para tentar inserir um comentário e aparecer. Harris soube aproveitar essa confusão e portou-se como a adulta na sala e até chamou a atenção dos colegas, o que lhe rendeu efusivos aplausos da plateia.

O momento mais comentado, entretanto, foi quando a senadora da Califórnia enfrentou o líder Joe Biden acerca de suas posições sobre questões de segregação racial quando ele era congressista nos anos 70. Harris soube ser firme e emocional no confronto o que levou muitos analistas pós-debate a vislumbrá-la como a melhor opção para enfrentar Donald Trump nos debates.

Por outro lado, os atuais líderes nas pesquisas tiveram uma performance relativamente medíocre, mas por razões distintas. Biden foi preparado para ignorar os concorrentes e focar em dois nomes: Trump e Obama.

Com o segundo, Biden buscava associar sua imagem como vice de um dos Democratas mais populares no partido. Com o primeiro, queria se mostrar como o mais capaz de derrota-lo, o que as pesquisas indicam como a principal qualidade buscada pelo eleitor Democrata.

De fato, Biden abriu sua primeira fala do debate mencionando Trump. No entanto, o ex-vice-presidente pareceu despreparado para os previsíveis ataques que sofreu por parte dos colegas, inclusive a respeito de sua idade.

A confrontação com Harris em especial pareceu ter abalado o veterano político que, no meio de uma resposta pouco convincente, parou abruptamente e disse uma frase que talvez tenha sido o pior momento de um candidato no debate: “Enfim, meu tempo acabou”.

A maioria das análises logo após o evento apontavam Biden como um perdedor, mas não está claro ainda qual será o impacto disso na campanha. Sua liderança atualmente é tão significativa, que ele pode aguentar a perda de alguns pontos percentuais.

Sanders, por outro lado, sofreu com um fator já esperado: a concorrência com outros nomes que defendem propostas tão ou mais progressistas que as suas. Ao contrário de 2016, quando sua candidatura era uma novidade, no atual ciclo eleitores mais à esquerda tem um leque vasto de opções para escolher. A guinada do Partido Democrata para a esquerda nos últimos anos fez Sanders mais um entre outros nomes e isso ficou claro ao longo dos debates.

Além disso, pressionado pelos debatedores a detalhar melhor algumas de suas propostas, como um sistema governamental de saúde único e universidade gratuita para todos, o senador de Vermont teve que admitir que terá que aumentar impostos para a classe média.

Sanders não teve um claro mau momento como Biden, mas parece não ter mais o mesmo brilho de 2016. Arriscaria dizer que as próximas pesquisas já devem mostra-lo sendo ultrapassado por Warren.

Entre o pelotão dos candidatos que devem ter saídos satisfeitos com os resultados do debate podemos ainda incluir Pete Buttigieg. Se é bem verdade que o jovem prefeito não tenha tido um momento memorável capaz de viralizar nas redes, ele teve uma performance ponderada e sólida.

No momento mais delicado, quando teve que explicar o baixo número de policiais negros na cidade que administra, Buttigieg saiu-se com uma resposta direta e honesta, admitindo que falhou nesse tema.

O debate dessa quinta-feira foi a primeira oportunidade para muitos eleitores Democratas terem um primeiro contato com o relativamente desconhecido prefeito de South Bend, Indiana, e ele soube aproveitar bem a oportunidade.

A outra jovem estrela do partido, por outro lado, não teve o mesmo sucesso. Talvez o maior derrotado desse primeiro ciclo de debates tenha sido o texano Beto O’Rourke. Com respostas evasivas, O’Rourke teve um desempenho bastante criticado e ficou marcado pelo confronto com o também texano Julián Castro que se referiu ao rival, em uma discussão sobre imigração, como alguém que “não fez a lição de casa”.

Na tentativa de estabelecer um contraste com Trump, O’Rourke fez da imigração um dos temas centrais de sua campanha, mas, confrontado com um candidato com uma posição mais liberal do que a sua no tema, não soube como revidar de forma efetiva.

Castro, o ex-Secretário de Habitação de Obama que mal chegava a 1% nas pesquisas de opinião, teve um expressivo aumento no interesse em sua candidatura, e as buscas pelo seu nome no Google dispararam.

Ao contrário de O’Rourke, que é descendente de irlandeses e cujo primeiro nome é Robert, Castro é latino, filho de mãe mexicana. Ambos arriscaram frases em espanhol durante o debate, mas Castro mostrou-se muito mais confortável com o idioma. As chances de Castro avançar continuam exíguas, mas ele pode ultrapassar O’Rourke em breve e ocupar espaço entre os top 8.

Os outros dois candidatos desse pelotão principal, Cory Booker e Amy Klobuchar, tiveram um desempenho considerado bom. Booker aproveitou sua conhecida eloquência retórica, foi o candidato que falou por mais tempo e um dos mais buscados no Google durante o primeiro debate. Klobuchar foi razoavelmente bem-sucedida em seu esforço de apelar para a camada mais centrista do partido.

Ambos os senadores souberam aproveitar o debate para se apresentar a uma audiência mais ampla e falar sobre propostas concretas. Com tantos candidatos, entretanto, não está claro se foi o suficiente para se destacarem nesse momento.

Dentre os nomes menos cotados, além de Castro, talvez valha uma menção à deputada havaiana Tulsi Gabbard. Ela conseguiu aproveitar a sua experiência como veterana da Guerra do Iraque para brilhar em um debate sobre política externa com um assustado Tim Ryan, um deputado de Ohio que confundia Talibã com Al-Qaeda.

Quanto ao demais, talvez ainda tenham que esperar os próximos 11 debates programados pelo Partido Democrata para ter uma chance de aparecer.

*Carlos Gustavo Poggio é professor dos cursos de relações internacionais da FAAP e da PUC-SP, do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas, e coordenador do NEPEU – Núcleo de Estudos sobre a Política Externa dos Estados Unidos.

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