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Quem é Sahra Wagenknecht, líder do partido que está em 3° lugar nas eleições regionais da Alemanha

A legenda BSW parece unir nacionalismo de direita e socialismo de esquerda

Agência o Globo
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Publicado em 2 de setembro de 2024 às 07h40.

Última atualização em 2 de setembro de 2024 às 15h16.

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Sahra Wagenknecht, que nunca conheceu um partido político que pudesse tolerar, fundou a sua própria legenda e está sacudindo a política alemã com uma combinação de nacionalismo de direita e socialismo de esquerda, articulados com seriedade e fluência.

Depois de uma carreira na política comunista e de esquerda, Wagenknecht, de 55 anos, fundou a Aliança Sahra Wagenknecht (BSW, na sigla em alemão), em janeiro. O partido decolou como um foguete, ficando em terceiro lugar em três estados nas eleições que começaram no domingo, 1, todos na antiga Alemanha Oriental, onde ela cresceu.

As pesquisas de boca de urna mostraram que o BSW obteve entre 14,5% e 16% dos votos na Turíngia e entre 11,5% e 12% na Saxônia, bem à frente de qualquer um dos três partidos no governo em Berlim, mas atrás da Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema direita. Nacionalmente, seu partido aparece nas pesquisas com até 9%, forçando sua entrada na conversa antes das eleições federais em setembro de 2025.

Os principais partidos da Alemanha estão perdendo seu domínio. Wagenknecht se beneficiou do desmoronamento da velha ordem. No novo universo político do país, ela é uma espécie de elétron solto, difícil de caracterizar, aumentando a volatilidade e precipitando ainda mais o colapso de um espectro político em que a esquerda e a direita já foram organizadas de forma clara e previsível.

Embora venha da esquerda, sua força deriva, em parte, do fato de compartilhar muitas das mesmas posições da AfD, incluindo o pedido de uma redução acentuada da imigração e o fim da ajuda à Ucrânia, mas sem qualquer matiz neonazista.

Ela apoia a democracia constitucional da Alemanha e rejeita deixar a União Europeia e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), ao contrário da AfD. Por isso, ela é considerada um voto mais seguro para os alemães irritados com o atual governo, chateados com a migração, preocupados com a guerra com a Rússia e com a influência americana sobre a Alemanha, mas não dispostos a apoiar um partido protofascista.

Em uma entrevista ao New York Times, Wagenknecht rejeitou a rotulagem ideológica.

"Não usamos esses filtros", disse ela. "Se você considera a luta por justiça social, por menos desigualdade, como algo de esquerda, então, é claro que somos de esquerda nesse sentido. Ao mesmo tempo, somos a favor da limitação da migração, o que supostamente não é tão de esquerda. Portanto, para muitas pessoas, as categorias de esquerda e direita não são mais compreensíveis".

Wagenknecht é particularmente mordaz ao atacar a corrente principal da esquerda por seu desejo de curar o mundo antes de lidar com os problemas dos alemães. O Partido Verde, membro da coalizão federal, “é considerado de esquerda, mas se tornou um belicista” por apoiar a Ucrânia, afirmou. Ela acredita que o presidente Vladimir Putin, da Rússia, tem razão ao rejeitar a expansão da Otan, que, segundo ela, “obviamente não garantiu a paz, mas, ao contrário, aumentou o confronto”.

Embora condene a invasão da Ucrânia por Putin, Wagenknecht deseja um fim rápido e negociado para a guerra e o fim do apoio alemão a Kiev.

"Não há outra maneira além da negociação para impedir que as pessoas morram", afirmou. "Não confio nem um pouco em Putin, mas temos que tentar encontrar um meio-termo".

Arco de vida notável

Wagenknecht é considerada, até mesmo por seus oponentes, uma excelente comunicadora e mestre em tocar o ponto fraco da população. Pode-se discutir com ela, e ela parece não ter um senso de humor perceptível, mas parece dizer o que quer dizer.

O arco de sua vida e de sua política é notável. Ela nasceu em 1969 na Alemanha Oriental, filha de uma mãe alemã negociante de arte e de um iraniano que tinha ido a Berlim Ocidental para estudar. Quando ela tinha 3 anos, seu pai voltou para o Irã; ela foi criada pelos avós em um pequeno vilarejo na Turíngia, onde, segundo ela, era regularmente insultada por ser mestiça e ter uma cor mais escura.

Depois de 1989, foi para a universidade e acabou obtendo um doutorado, mas permaneceu fiel ao partido da antiga liderança, rejeitando o capitalismo e a capitulação ao Ocidente. Ela foi eleita para o Parlamento Europeu em 2004. Posteriormente, atuou no comitê executivo do partido Die Linke (A Esquerda), que resultou de uma fusão com esquerdistas ocidentais em 2007.

Depois de um divórcio precoce, se casou mais tarde com Oskar Lafontaine, um dos fundadores do partido, a quem ela já havia chamado de “social-democrata”. No Bundestag, se tornou uma importante porta-voz do partido, mas teve conflitos com seus líderes, um padrão seu, e finalmente deixou a sigla em outubro passado antes de fundar a sua própria.

Perguntada se ela se considera, como faz a mídia alemã, “uma perturbadora” que se sente desconfortável em qualquer partido do qual tenha participado, Wagenknecht disse que não. A esquerda acabou “se alienando de seus eleitores, e as questões sociais importantes "bons salários, boas aposentadorias — não eram mais seu foco. Em vez disso, a política identitária despertou", afirmou.

Quanto aos partidos centristas tradicionais, ela avalia que abraçaram a privatização, a desregulamentação e o “neoliberalismo, uma agenda política que fez com que a maioria da sociedade ficasse em situação pior e suas vidas menos estáveis”.

"Isso é algo que muitas pessoas rejeitam, e é por isso que esses partidos não têm mais muito apoio", acrescentou. "O apoio que estamos recebendo confirma isso".

Antes de seu partido, “as pessoas inconvenientes que queriam expressar seu protesto” não tinham outra alternativa a não ser a AfD, afirmou:

"Agora oferecemos a elas uma maneira respeitável de expressar seu descontentamento".

'Encarnação do antiamericanismo'

A ascensão de seu partido é um indicativo de uma mudança maior na Alemanha, argumentou Jan Techau, diretor para a Europa do Eurasia Group.

"O cenário partidário está em uma transição ampla e rápida, mesmo que não pareça assim em Berlim", comentou. "Essas eleições de outono tornarão essa mudança ampla visível pela primeira vez, e isso terá um impacto nas eleições nacionais do próximo ano".

"A AfD e Wagenknecht estão pressionando por “uma série de questões não atendidas que os principais partidos têm muita preguiça ou muito medo ou ideologicamente muita vergonha de abordar", disse Techau, citando o aumento da criminalidade, a migração, o fracasso em integrar os migrantes e a pressão que eles exercem sobre comunidades anteriormente homogêneas.

Carsten Schneider, um turíngio que representa o governo federal no leste da Alemanha, prefere enfatizar a volatilidade da lealdade partidária na região após a queda do muro. Para ele, Wagenknecht joga habilmente com “o antiamericanismo simplório, a Alemanha como uma grande Suíça” entre as superpotências, a reação contra a imigração e o antielitismo”.

"Digamos que ela está tocando piano", declarou, com um pouco de admiração relutante.

Na visão de Bodo Ramelow, o atual líder da Turíngia da Esquerda, “ela se torna a encarnação do antiamericanismo; atinge o ponto fraco das pessoas” e é excelente em jogar “a política da emoção”.

Em uma entrevista recente ao jornal Die Zeit, Wolf Biermann, de 87 anos, cantor e compositor alemão e ex-dissidente da Alemanha Oriental, foi tipicamente mais contundente.

"Sahra Wagenknecht é a chefe anacrônica de um partido de culto à personalidade, a estrutura típica dos aparatos partidários totalitários" comparou.

Quando perguntei se o partido dela, que mantém o número de membros pequeno e secreto, foi criado com base nas linhas leninistas, Wagenknecht se irritou.

"Isso não tem nada a ver com leninismo", disse ela, mas apenas com a tentativa de criar um partido que não “atraia muitos aventureiros ou radicais”, referindo-se à AfD, que começou como um partido de economistas conservadores, observou.

Wagenknecht é clara ao dizer que seu foco está nas eleições federais do próximo ano. Mas se os partidos da coalizão federal se saírem mal nessas votações estaduais, juntamente com suas disputas internas e fadiga, ela gostaria de ter eleições antecipadas — presumivelmente antes que seu próprio partido seja contaminado pela política real.

"Muitas pessoas desejam eleições antecipadas", afirmou. "Elas desejam que essa coalizão, que não tem mais nada em comum, não tem nenhum plano, nenhum conceito, não se agarre ao poder por mais um ano".

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