Joshua Wong: jovem de apenas 17 anos é um dos principais líderes das manifestações pró-democracia que paralisaram Hong Kong (Wikimedia Commons)
Gabriela Ruic
Publicado em 1 de outubro de 2014 às 07h00.
São Paulo – Ele sequer pode dirigir um carro, mas já encabeça um dos movimentos políticos mais significantes de Hong Kong desde o massacre na Praça da Paz Celestial em 1989. Joshua Wong, 17 anos, é chamado de “extremista” pelo governo da China por sua participação nos protestos estudantis que invadiram as ruas do território na última semana.
As manifestações têm como objetivo exigir autonomia nas eleições do próximo chefe do Executivo local, que devem acontecer em 2017. Pequim e o governo atual de Hong Kong, contudo, estão dando sinais de que não vão atender tal demanda.
Wong, em contrapartida, já mostrou que não irá desistir da luta pela democracia. “Você deve enxergar cada batalha como sendo possivelmente a batalha final. Só assim terá determinação para lutar”, declarou o jovem à rede de notícias CNN.
Scholarism
O histórico de Wong no ativismo estudantil começa em 2012, quando, aos 15 anos de idade, liderou uma manifestação com mais de 120 mil pessoas. O grupo, conhecido como “Scholarism”, lutava contra um programa educacional que ensinaria aos alunos da rede pública chinesa sobre as maravilhas do regime comunista em vigor no país.
Depois de uma série de protestos, greves de fome e até a invasão de um prédio do governo, Hong Kong finalmente voltou atrás e cancelou a implementação do projeto. O sucesso do Scholarism fez com que Wong e grande parcela dos jovens do território seguissem batalhando pela democracia.
Revolução dos guarda-chuvas
O estopim para os protestos recentes foram justamente declarações das autoridades de Hong Kong sobre o pleito de 2017. Segundo o governo, cidadãos locais vão poder escolher seu próximo líder, mas apenas candidatos pré-selecionados terão a permissão para participar.
A atitude vai contra o que foi firmado entre China e Grã-Bretanha em 1997, quando os britânicos devolveram Hong Kong ao domínio chinês sob a condição de que fosse dado ao território um futuro democrático.
A forma encontrada pelo governo para resolver o assunto transformou a indignação dos jovens em uma grande mobilização estudantil. Nascia a revolução dos guarda-chuvas, apelidada como tal por conta do modo como os manifestantes se protegem contra os sprays de pimenta da polícia.
Desde que os estudantes tomaram as ruas, o movimento ganhou a simpatia da população. Despertou também a ira do partido comunista chinês. Como consequência de sua ativa participação, Wong acabou preso com outros colegas na sexta passada, teve sua casa revistada e objetos pessoais apreendidos. Foi o último a ser libertado, dias depois.
Futuro
O governo vem fazendo de tudo para tentar anular a voz dos manifestantes. Bloqueou, por exemplo, o acesso dos chineses ao Instagram, rede social de compartilhamento de imagens. Proibiu também que a mídia estatal divulgasse qualquer tipo de notícia sobre o protesto.
A situação vem causando nervosismo na comunidade internacional. Em uma entrevista concedida nesta semana, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, declarou estar profundamente preocupado em relação ao que acontece em Hong Kong e lembrou a obrigação da China de cumprir o que foi acertado na ocasião da “devolução” do território.