Retratos de Erdogan e de seu adversário, o pregador Fethullah Gülen (Ozan Kose/AFP)
Gabriela Ruic
Publicado em 18 de julho de 2016 às 09h21.
Última atualização em 23 de dezembro de 2016 às 09h54.
São Paulo – A última sexta-feira foi de tensão e caos na Turquia. No fim daquela noite, um grupo de militares tomou as ruas da capital Ancara e de Istambul com tanques, interditou pontes, fechou aeroportos, declarou toque de recolher, manteve o chefe do Estado Maior como refém e divulgou ter tomado o controle de todo o país.
A alegação se provou falsa depois que o presidente Recep Tayyip Erdogan levou a população a se manifestar em apoio ao seu governo e as forças armadas leais a ele esmagavam a ação da facção. Quando os ânimos se acalmaram, começou o expurgo: 5 generais, 29 coroneis e 2.745 juízes foram destituídos, 6 mil pessoas foram presas e quase 300 morreram.
Enquanto busca cercar os nomes por trás dessa conspiração para derrubá-lo, Erdogan apontou o dedo diretamente a Fethullah Gülen, um clérigo turco exilado nos Estados Unidos que um dia fora seu aliado.
Nascido em uma família religiosa na cidade de Erzurum em 1941, Gülen vive nos EUA desde 1999 e é exaltado no mundo islâmico como um importante intelectual. Ele é líder do movimento Gülen, também conhecido como Hizmet, e que se descreve como “um movimento inspirado na fé, não politizado, cultural e educacional baseado nos valores universais do Islã”.
O movimento é dono de milhares de escolas em todo o mundo e acumula seguidores por todas as partes. De acordo com números do jornal britânico The Guardian, 10% da população turca é simpática ao Hizmet. Acredita-se que muitas dessas pessoas estejam dentro das forças armadas e do judiciário da Turquia.
Essa suposta influência incomodava Erdogan, que tentou barrar o crescimento desse movimento ao editar uma lei que proibiria a existência de centros educacionais particulares. Coincidentemente ou não, a maioria deles era ligada a Gülen.
A relação azedou de vez em 2013, quando foram deflagradas investigações de corrupção focadas no filho do atual presidente por autoridades policiais e do judiciário que, segundo Erdogan, seriam apoiadoras do movimento.
O clérigo foi eventualmente foi colocado na lista de terroristas mais procurados da Turquia e virou centro das atenções neste final de semana ao ser novamente acusado por Erdogan de ter conspirado contra o seu governo. Agora, o presidente quer a sua extradição a todo o custo. Os EUA, por sua vez, querem provas dessas alegações.
Em sua defesa, Gülen negou participação no incidente e que tomar o poder a força não é o caminho para mudança. Disse ainda que essa tentativa de golpe poderia ser uma farsa e que essa acusação poderá ser usada contra ele no futuro.