Beppe Grillo: comediante se tornou a voz dos italianos insatisfeitos com a classe política tradicional na Itália (Remo Casilli/Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 5 de dezembro de 2016 às 11h37.
Última atualização em 5 de dezembro de 2016 às 17h03.
São Paulo – Após o que chamou de “evidente e extraordinária derrota”, Matteo Renzi, primeiro-ministro da Itália renunciou ao cargo. Neste domingo, os italianos foram às urnas votar uma reforma constitucional, a maior desde a Segunda Guerra Mundial, na qual a proposta de Renzi foi derrotada.
Ao menos 70% dos 50 milhões de eleitores italianos compareceram aos locais de votação e cerca de 60% deles votaram pelo “Não” contra 40% dos que votaram pelo “Sim”. (Entenda o que foi esse referento)
Mas, se Renzi saiu derrotado, há duas figuras que se consagraram vencedoras e estão agora fortalecidas no cenário político da instável Itália: o comediante Beppe Grillo e o grupo anti-establishment do qual é líder, o Movimento 5 Estrelas (M5E), opositores da reforma arquitetada pelo então primeiro-ministro.
Grillo e o M5E
Nascido em Gênova em 1948, Grillo é um comediante com uma extensa carreira no mundo artístico italiano e é conhecido pelas declarações polêmicas e incendiárias. Em 1987, chegou a ser banido da televisão após ter ofendido Bettino Craxi, primeiro-ministro na época, e seu Partido Socialista.
Em 2009, movido por um discurso de insatisfação com a classe política tradicional, o artista fundou o M5E. Não demorou até que o movimento, que diz ser nem de direita e nem de esquerda, conquistasse um número interessante de seguidores. O grupo também rechaça ser visto como um partido, mas sim como uma organização antipartidária.
Grillo e o M5E eram observados com desdém pelos políticos e pela imprensa, acusados de serem demagogos e populistas. A presença marcante do comediante nas redes sociais, no entanto, o tornou um dos blogueiros e comentaristas políticos mais influentes da Itália.
O que querem?
O posicionamento do comediante e seu movimento é vago. Mas, em linhas gerais, são contra a corrupção, o sistema político atual da Itália, medidas de austeridade e impostos.
Querem uma democracia com a participação direta por meio de votações na internet, o corte dos subsídios aos partidos e salários dos políticos. Além disso, defendem a saída do país da zona do euro e querem um referendo nos moldes do Brexit.
Embora tenha se tornado uma das forças políticas mais importantes na Itália, o M5E é formado por pessoas de diferentes backgrounds políticos que vivem em colisão justamente na definição das políticas que serão defendidas. Como resultado, mostrou a revista The Economist, o movimento tem uma estrutura fragmentada.
Trajetória surpreendente
Em 2013, o recém-fundado grupo conquistou 8 milhões de votos nas eleições gerais, mostrando a tendência de crescimento da insatisfação dos italianos com a velha política. Na ocasião, a revista alemã Der Spiegel classificou Grillo como “o homem mais perigoso da Europa”.
Pouco depois, em 2014, o M5E elegeu 17 nomes para a representação italiana no Parlamento Europeu que rapidamente se alinharam ao Ukip, partido conservador britânico que defendeu o Brexit.
Hoje, 2016, o movimento controla duas importantes prefeituras. Em Roma, a advogada Virginia Raggi foi eleita com 67% dos votos e, em Turim, Chiara Appendino também conquistou uma percentagem invejável de eleitores e se viu prefeita com 54% deles.
Às vésperas de 2017, Grillo e o seu M5E podem se vangloriar de mais um feito: ter derrubado o primeiro-ministro mais jovem da história da Itália.