Mundo

Quem é Friedrich Merz, novo chanceler da Alemanha que quer independência dos EUA

Partido de Merz venceu as eleições com 28,5% dos votos e assume a Alemanha com propostas focadas na economia, imigração e relações internacionais

Merz, 69 anos, é advogado e iniciou sua carreira política no Parlamento Europeu em 1989 (INA FASSBENDER/AFP)

Merz, 69 anos, é advogado e iniciou sua carreira política no Parlamento Europeu em 1989 (INA FASSBENDER/AFP)

Publicado em 24 de fevereiro de 2025 às 07h56.

Última atualização em 24 de fevereiro de 2025 às 09h07.

Tudo sobreAlemanha
Saiba mais

Friedrich Merz, da União Democrata Cristã (CDU), venceu as eleições federais alemãs de 23 de fevereiro e assume o cargo de chanceler com uma agenda de reformas políticas e econômicas. Seu partido conquistou 28,5% dos votos, superando o Partido Social-Democrata (SPD), do ex-chanceler Olaf Scholz, que ficou em terceiro lugar. Agora, Merz precisará negociar alianças para consolidar sua governabilidade.

Merz, 69 anos, é advogado e iniciou sua carreira política no Parlamento Europeu em 1989. No Bundestag, ganhou destaque no início dos anos 2000, mas deixou a política em 2009 para atuar no setor privado, chegando a presidir a divisão alemã da BlackRock, uma das maiores gestoras de ativos do mundo. Em 2021, retornou ao cenário político para liderar a CDU após a aposentadoria de Angela Merkel.

Durante a campanha, Merz se posicionou contra a imigração irregular, propondo regras mais rígidas para a entrada de imigrantes no país. Essa posição consolidou seu eleitorado, mas também gerou controvérsias. No Parlamento, ele chegou a propor restrições migratórias que contaram com votos do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), o que causou protestos e críticas dentro e fora de sua legenda.

No campo econômico, Merz defende reduzir os impostos e os preços da energia para impulsionar o crescimento e atrair investimentos. No entanto, ele enfrenta um dilema: equilibrar a retomada econômica com os compromissos ambientais da Alemanha. Seu governo precisará decidir o ritmo da transição energética, uma questão delicada tanto para o setor industrial quanto para a população.

Outro grande desafio será a formação de um governo de coalizão, já que a CDU não obteve maioria absoluta. Merz se comprometeu a fechar alianças em até dois meses, mas terá que negociar com partidos de diferentes espectros políticos para garantir estabilidade ao governo.

Da rivalidade com Merkel ao topo do governo

A relação de Merz com seu próprio partido é marcada por altos e baixos.

No início dos anos 2000, ele era um nome forte dentro da CDU, mas perdeu espaço para Merkel, que assumiu a liderança da legenda e o deixou marginalizado. Enquanto Merkel adotou um conservadorismo mais moderado, Merz sempre defendeu posições mais rígidas.

Após anos no setor privado, ele retornou ao Bundestag com um discurso de renovação da direita alemã. Mesmo assim, sua ascensão ao topo não foi linear: perdeu duas disputas internas pela liderança da CDU antes de assumir finalmente o comando em 2021. Agora, no cargo de chanceler, ele tentará consolidar sua marca na política alemã.

Aliança histórica em transformação

A relação entre Alemanha e Estados Unidos, historicamente próxima, deve passar por uma reconfiguração sob o governo Merz.

O novo chanceler defende que a Europa deve se fortalecer rapidamente para reduzir sua dependência dos EUA e garantir maior autonomia política e econômica no cenário global.

"A prioridade absoluta será fortalecer a Europa o mais rapidamente possível para que, passo a passo, possamos realmente alcançar independência dos Estados Unidos", afirmou Merz em um discurso recente. A declaração marca uma mudança na política externa alemã, que tradicionalmente via Washington como seu principal parceiro estratégico.

Desde a Segunda Guerra Mundial, os EUA foram fundamentais para a reconstrução da Alemanha Ocidental, fornecendo suporte econômico por meio do Plano Dawes e estreitando laços institucionais com organizações como a Atlantik-Brücke e o American Council on Germany. Além disso, os EUA sempre foram um pilar de segurança dentro da OTAN, aliança que garantiu estabilidade à Europa Ocidental.

Mesmo no campo econômico, a interdependência entre os dois países é notável. Até recentemente, a China era o maior parceiro comercial da Alemanha. Em 2024 os EUA assumiram esse posto.

Mas o cenário político mudou. A reeleição de Donald Trump nos EUA e as eleições alemãs de 2025 criaram tensões. Merz acredita que a nova administração americana está "largamente indiferente ao destino da Europa" e expressou preocupações sobre uma possível interferência dos EUA na política alemã, incluindo um suposto apoio a grupos de extrema-direita no país.

A chegada de Merz ao governo também atrai atenção no cenário internacional. Líderes da União Europeia acompanham de perto seus primeiros passos, especialmente em temas como política energética, relação com a China e apoio à Ucrânia. Bruxelas espera que sua administração traga mais clareza sobre o papel da Alemanha em um momento de crescentes tensões geopolíticas.

Os próximos meses serão determinantes para entender até onde a Alemanha pode avançar na busca por autonomia – e como Washington e o mundo responderão a essa nova dinâmica.

Acompanhe tudo sobre:AlemanhaEleiçõesEstados Unidos (EUA)

Mais de Mundo

Zelensky abre cúpula internacional de apoio a Ucrânia após três anos de guerra

Emmanuel Macron apresentará a Trump 'propostas' para a paz na Ucrânia

Xi Jinping conversa com Putin por telefone e diz que país vê 'esforços positivos' para fim da guerra

Hamas diz que não vai retomar negociação com Israel até que país solte detentos palestinos