Claudia Sheinbaum durante comício na Cidade do México celebrando a vitória (CARL DE SOUZA/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 3 de junho de 2024 às 06h43.
Ex-prefeita da Cidade do México e candidata do atual presidente Andrés Manuel López Obrador, Claudia Sheinbaum será a primeira mulher a comandar o México, projeta o Instituto Nacional Eleitoral Mexicano nesta segunda-feira. Sheinbaum tem de 58,3% a 60,7% dos votos, enquanto sua adversária Xóchiti Gálvez tem de 26,6% a 28,6% dos votos.
Ela fez parte do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU (IPCC) que ganhou um Prêmio Nobel da Paz em 2007 e foi prefeita da capital (2018-2023) em dois momentos críticos: na pandemia e durante a queda de uma linha do metrô.
Tanto na sua militância estudantil nos anos 1980 como em seu primeiro cargo público como secretária do Meio Ambiente da Cidade do México (2000-2006), mostrava seriedade e foco. Para vê-la sorrindo ou se divertindo, é necessário recorrer às fotos ou aos filmes antigos da família.
A campanha, porém, revelou uma mulher carinhosa e sorridente que distribuiu beijos e abraços entre milhares de apoiadores, e defendeu apaixonadamente a “quarta transformação”, projeto do presidente em exercício Andrés Manuel López Obrador.
“Neste dia 2 de junho vamos fazer história. A transformação continuará avançando”, proclamou na quarta-feira em Zócalo, a principal praça pública do México, durante o encerramento de sua campanha.
"Nem ela nem eu éramos de socializar com todo mundo", recorda Guillermo Robles, que foi seu colega no mestrado de engenharia energética da Unam em 1987.
Depois Sheinbaum fez um doutorado em engenharia ambiental na Unam, para o qual pesquisou durante quatro anos nos Estados Unidos, e fez parte do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU (IPCC) que ganhou um Prêmio Nobel da Paz em 2007.O magnetismo dessa jovem de ascendência judia estava enraizado em suas convicções de esquerda que a tornaram militante do Conselho Estudantil Universitário (CEU), opina Robles.
Esse coletivo freou uma tentativa de privatização da universidade pública e foi terreno fértil para nomes do atual governo de Andrés Manuel López Obrador, seu padrinho político.
Embora Sheinbaum "não fosse das principais" líderes, segundo Robles, seu comprometimento não diminuiu, mesmo estando grávida de sua filha, Mariana, hoje com 36 anos.
Essa convicção tem veia familiar. Sua mãe, Annie Pardo, renomada bióloga, foi expulsa como professora universitária por denunciar o massacre de estudantes de 1968 na praça Tlatelolco.
Presença e discrição são as marcas da atuação de Sheinbaum, cujos avós chegaram ao México vindos da Bulgária e Lituânia fugindo da Segunda Guerra Mundial.
Como prefeita de um distrito da Cidade do México, enfrentou o desmoronamento de um colégio durante o terremoto de 2017 que matou 26 pessoas, incluindo 19 crianças.Metodicamente, insistiu que as irregularidades encontradas na construção não eram culpa da prefeitura.
Também gerenciou com destreza um dos momentos mais difíceis como prefeita da capital (2018-2023): a pandemia e a queda de uma linha do metrô.
O uso de métodos científicos e ferramentas tecnológicas refletiu a marca de Sheibaum na gestão da covid, que, no entanto, deixou uma elevada mortalidade.
"Tem uma capacidade de análise impressionante, de ler dados e encontrar soluções muito práticas", comenta Tatiana Clouthier, ex-ministra da Eonomia de López Obrador, hoje sua porta-voz de campanha.
Após o colapso de uma linha de metrô que deixou 27 mortos e 80 feridos em 2021, defendeu sua equipe e optou por uma polêmica negociação com a construtora da obra - propriedade do magnata Carlos Slim - para indenizar as vítimas e evitar julgamentos."Governar é tomar decisões. Tem que tomar a decisão e assumir as pressões que podem ocorrer", argumenta no documentário Sheinbaum, que lidera as intenções de voto para as eleições do próximo domingo por mais de 20 pontos percentuais, segundo as últimas pesquisas.
Durante a campanha, uma câmera a flagrou reclamando com raiva do tratamento injusto do partido enquanto ela disputava a candidatura presidencial com o ex-ministro das Relações Exteriores Marcelo Ebrard, cujos ataques também não conseguiram exasperá-la.
Mas essa frieza também funcionou contra ela.
Ela nunca olhou ou chamou sua principal oponente, a centro-direitista Xóchitl Gálvez, pelo nome durante três debates nos quais Gálvez a atacou duramente.
“Você ainda é fria, sem coração, eu a chamaria de dama de gelo”, disse Gálvez a ela durante o primeiro confronto, acusando-a de não ter o “carisma” de López Obrador.
Mas a campanha também revelou uma Sheinbaum afetuosa e sorridente, formas que ela geralmente reserva para as pessoas mais próximas. Ela distribuiu beijos e abraços entre milhares de apoiadores e colocou graça e humor nos vídeos do TikTok.
Também compartilhou, em novembro de 2023, a notícia de seu novo casamento com Jesús Tarriba, seu namorado de faculdade com quem se reencontrou pelo Facebook em 2016.
Ela é atenciosa com as mulheres de sua equipe de campanha e apoia a liderança horizontal.
“Apesar de ser uma cientista, ela é uma lutadora social, o que faz uma combinação muito boa de mente e coração”, diz Clouthier.