Stacey Abrams: política da Geórgia é a primeira mulher negra encarregada da tarefa de responder ao discurso presidencial sobre Estado da União (Jessica McGowan/Getty Images)
Gabriela Ruic
Publicado em 4 de fevereiro de 2019 às 11h09.
Última atualização em 4 de fevereiro de 2019 às 15h35.
São Paulo - Stacey Abrams se tornou uma estrela em ascensão no Partido Democrata depois das eleições legislativas de 2018. Candidata ao governo da Geórgia, chegou perto de se tornar a primeira governadora negra da história dos Estados Unidos, justamente em um estado atormentado pelo passado escravagista e segregacionista.
Stacey perdeu para o republicano Brian Kemp, que obteve uma vantagem de meros 54.801 votos, após uma eleição permeada de acusações de fraude, irregularidades e tensão racial. Ainda assim, roubou os holofotes entre os democratas pela forma como conquistou o eleitorado. Como resultado da força da sua candidatura, conseguiu mais votos que qualquer outro político democrata na Geórgia.
Agora, está encarregada da tarefa de responder, em nome do partido, ao discurso de Donald Trump durante o “Estado da União”, evento anual no qual o presidente em exercício fala ao Congresso sobre a situação do país. Tradicionalmente, o partido de oposição escolhe um nome dos seus quadros para retrucar o mandatário. E ela será a primeira mulher negra a fazer isso nesta terça-feira, 5 de fevereiro.
Stacey Abrams nasceu em 1973 e viveu parte da sua infância no estado do Mississipi. De família pobre e religiosa, se formou em Direito na prestigiada Universidade de Yale e fundou em 2015 o “New Georgia Project” (Projeto da Nova Geórgia), no qual atuou em prol do registro eleitoral de mais de 200 mil eleitores negros.
Foi eleita duas vezes como representante democrata para o legislativo estadual e tem um histórico de defesa de pautas progressistas. Segundo o jornal americano The New York Times, Stacey simboliza a identidade que o Partido Democrata quer assumir para as eleições presidenciais em 2020 e que é a de uma coalizão diversa, com mulheres como maioria e extremamente crítica ao presidente Trump e sua agenda.
Embora a composição demográfica das eleições americanas de 2020 ainda não esteja totalmente consolidada, o que vem se desenhando é uma participação recorde das minorias, uma base eleitoral fundamental para os democratas.
Projeções do Pew Research Center mostram que o eleitorado terá ao menos 32 milhões de hispânicos, 30 milhões de negros e 11 milhões de asiáticos. Além disso, um em cada dez eleitores terá entre 18 e 23 anos de idade. Esses números podem se traduzir em oportunidades para candidatas e candidatos democratas, uma vez que eleitores não brancos e jovens, lembra a entidade, são mais inclinados a apoiar o partido.
E, ao que tudo indica, Stacey pode ser a resposta para essas pessoas. Na edição de fevereiro da tradicional revista Foreign Affairs, ela revelou o que pensa sobre política, gênero e raça em um artigo em resposta ao consagrado cientista político Francis Fukuyama, da Universidade de Stanford. O intelectual vem criticando os movimentos de esquerda nos Estados Unidos, acusando-os de dividir o país ao apostar na política de identidade.
“Os marginalizados não criaram a política de identidade. Suas identidades foram impostas por um grupo dominante, e a política é o método mais eficaz de revolta”, escreveu Stacey, “o que Fukuyama lamenta como “fratura” é resultado de grupos marginalizados terem finalmente superado séculos de esforços para apagá-los da política - e esse é um ativismo que irá fortalecer o sistema democrático, não ameaçá-lo. ”
Os olhos agora se voltam ao seu discurso nesta terça e cresce a especulação em torno dos seus próximos passos. Há diferentes expectativas: ela pode se candidatar para o Senado, concorrer como vice-presidente ou até mesmo encabeçar uma chapa na posição de candidata à presidência, aumentando a lista de pretendentes democratas. Stacey, contudo, ainda mantém o silêncio sobre o espaço na cédula que levará seu nome.
“Eu certamente me candidatarei novamente”, disse após reconhecer a derrota no pleito estadual, “minha responsabilidade é estar certa de que serei a melhor pessoa para o cargo que vou disputar”. Segundo o jornal The Washington Post, a advogada se deu um prazo até março para definir a próxima empreitada, mas é a partir da sua fala nesta terça que seus planos começam a ficar mais claros para os Estados Unidos e o mundo.