Donald Trump, presidente dos Estados Unidos (Jeff Kowalsky/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 30 de abril de 2025 às 10h38.
Última atualização em 30 de abril de 2025 às 11h21.
O produto interno bruto (PIB) dos Estados Unidos teve retração de 0,3% no primeiro trimestre de 2025, na taxa anualizada, segundo o Escritório de Análises Econômicas (BEA), órgão do governo americano. É uma queda forte em relação ao final de 2024, quando o país havia crescido 2,4%.
Uma das principais razões para essa queda foi o aumento da importação de produtos. Nos cálculos do BEA, a alta nas compras de fora gera retração do PIB, pois, com isso, haveria menos produção interna.
As importações cresceram no ritmo de 41,3%, enquanto as exportações aumentaram em ritmo mais devagar, de 1,8%, no primeiro trimestre. Assim, a alta nas importações representou uma queda de cerca de 5% no indicador usado pelo BEA, o que levou à queda geral de 0,3%. Os gastos do governo também encolheram, cerca de 0,5%.
Os outros indicadores usados para compor o PIB americano tiveram alta. São eles gastos de consumidores (cerca de 1,5%), investimentos (quase 4%) e exportações (pouco acima de 0,5%).
"Esse avanço relevante das importações reflete a preocupação de famílias e empresas com as novas tarifas comerciais impostas pelo governo Trump, o que levou a um adiantamento das compras externas", avalia Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.
Sung pondera que essas altas em outras áreas mostram um cenário menos negativo. "A atividade norte-americana, apesar das incertezas envolvendo as políticas econômicas anunciadas recentemente, mostra certa resiliência, sustentada por um mercado de trabalho ainda equilibrado", diz.
Os americanos correram para fazer compras no exterior antes que o presidente Donald Trump impusesse tarifas de importação, medida que ele prometeu na campanha. As primeiras medidas foram anunciadas pouco depois da posse, contra Canadá e México. Isso levou empresas a acelerarem importações, como forma de tentar se proteger sobre tarifas futuras.
Ao mesmo tempo, indicadores apontam que os consumidores estão menos confiantes para comprarem, dado o cenário incerto.
"Como esperado, uma pequena retração já apareceu no 1º trimestre, como efeito do choque tarifário, em um primeiro momento por conta do aumento de importação. Mas deve piorar no segundo trimestre, pois o choque maior ocorreu bem no início do trimestre", diz Sérgio Vale, economista da MB Associados.
O maior pacote de tarifas foi anunciado em 2 de abril, data já no segundo trimestre do ano. Quase todos os países foram taxados, com uma tarifa mínima de 10%. Taxas extras, com exceção da China, foram adiadas até julho. Há ainda cobranças extras sobre carros importados, aço, alumínio e outros itens.
O vaivém das tarifas gerou tensão no mercado, e as bolsas americanas tiveram quedas históricas nos últimos meses.
O presidente defende que as tarifas atrairão mais indústrias aos Estados Unidos e trarão benefícios a longo prazo, embora ele reconheça que a medida poderá gerar problemas na economia durante o que ele chamou de "período de transição".
O republicano culpou o antecessor pelos números ruins. "Este é o mercado de ações de Biden, não o de Trump. Eu só assumi em 20 de janeiro. As tarifas em breve começarão a entrar em vigor, e as empresas estão começando a se mudar para os EUA em números recordes. Nosso país vai decolar, mas precisamos nos livrar da 'sombra' deixada por Biden. Isso vai levar um tempo, NÃO TEM NADA A VER COM AS TARIFAS, apenas que ele nos deixou com números ruins", disse, em uma postagem na rede Truth Social.