O ex-presidente islamita deposto no Egito, Mohamed Mursi: desde a derrubada de Mursi, o "Hamas está em estado de choque e ainda não fez nenhuma declaração oficial", segundo analista político (Jin Lee/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 18 de julho de 2013 às 09h22.
Gaza - A queda da Irmandade Muçulmana no Egito e a derrubada de seu presidente, Mohamed Mursi, deixou mais isolado do que nunca o movimento islâmico Hamas, que governa Gaza e esperava tempos melhores com a ascensão ao poder de seu líder.
"O Hamas sofreu um duro golpe com o ocorrido no Egito", afirmou à Agência Efe Hassan Abdo, analista político de Gaza especializado em movimentos islâmicos. O enfraquecimento da Irmandade não é o único golpe que atingiu o Hamas nos últimos tempos: a deteriorada relação com a Síria e com a milícia xiita libanesa Hezbollah, por sua decisão de não apoiar o regime de Bashar al Assad, está cobrando a conta e deteriorando suas relações com Teerã, outro de seus apoios chave.
Abdo fala inclusive da "perda" dos aliados tradicionais do Hamas, cuja cúpula política no exílio fugiu de Damasco com o crescimento do conflito interno e a mudança de base para o Catar.
O Hamas, considerado uma extensão da Irmandade Muçulmana e fundado em Gaza em 1987, cresceu com o controle da faixa em junho de 2007, após expulsar as forças leais à Autoridade Nacional Palestina (ANP), liderada por Mahmoud Abbas e que desde então governa só a Cisjordânia.
Os islâmicos palestinos se opõem aos acordos de paz assinados entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) que, da mesma forma que a ANP, está controlada pelo partido rival, o nacionalista Fatah, e cometeram diversos atentados suicidas contra israelenses para sabotar as tentativas de paz.
Em 2006, o Hamas se candidatou às eleições legislativas e ganhou com maioria absoluta, mas formou um governo que não foi reconhecido pela comunidade internacional - que em boa parte considera o grupo uma organização terrorista e exige o fim da violência e o reconhecimento dos acordos assinados e da existência de Israel.
O boicote internacional ao Hamas, que rejeita abandonar a violência, se uniu em junho de 2007 a um ferrenho bloqueio a Gaza imposto por Israel com a cooperação do então presidente egípcio Hosni Mubarak, que destruiu o comércio, o emprego e o tecido industrial e fez a maioria de seus habitantes dependentes da ajuda humanitária.
A via de escape ao isolamento foi então o eixo formado por Irã, Síria e Hezbollah, que lhe forneciam suporte político, refúgio a seus dirigentes e enorme apoio militar e econômico, bases que começaram a ruir.
Segundo veículos de comunicação locais, o Irã retirou nos últimos meses uma ajuda ao Hamas de mais de US$ 20 milhões por mês, além de cortar a colaboração militar, que facilitava armas e treinamento a seus milicianos, em resposta à posição contrária ao regime de Damasco, que conta com o apoio do Hezbollah. A cúpula do Hamas chegou a ter que desmentir a participação de seus membros em algumas das batalhas do lado dos rebeldes.
"A falta da ajuda financeira que o Hamas recebia do Irã depois de apoiar a insurreição armada contra Assad e criticar o Hezbollah no Líbano debilitaram o movimento", disse Abdo. Agora, a queda da Irmandade no Egito "deixou totalmente isolados" os islâmicos palestinos.
A redução do apoio externo, segundo Abdo, vem acompanhada de uma perda de popularidade entre os palestinos, já que o "Hamas nasceu como um movimento de resistência armada e obteve um grande apoio por sê-lo", por isso "sua trégua a longo prazo com Israel o fez perder muito apoio popular".
Mujaimar Abu Saada, professor de Ciência Política da Universidade de Azhar de Gaza, acredita que a Turquia é agora o único aliado que resta ao Hamas. Por isso, o movimento não teria outra solução a não ser tentar "manter bons laços" com o novo governo egípcio.
Em 2011, o Hamas apoiou as revoltas conhecidas como "Primavera árabe", que conseguiram mudar os regimes de Tunísia, Líbia, Egito e Iêmen, mas não na Síria.
Hani Habeeb, analista político de Gaza, declarou que desde que Mursi foi deposto pelas Forças Armadas egípcias em 3 de julho, o "Hamas está em estado de choque e ainda não fez nenhuma declaração oficial. Agora são cientes do perigo de que se rompa a corda que esticaram para fortalecer sua relação com a Irmandade Muçulmana", afirmou Habeeb, que explica assim o silêncio oficial e a multiplicação de reuniões intensivas da liderança na faixa nas últimas semanas.
Em um esforço para se mostrar otimista, o dirigente do Hamas Ahmad Yousef afirmou que seu movimento "não tem medo pela queda do governo da Irmandade Muçulmana no Egito, mas está preocupado com as mudanças dramáticas e as consequências da instabilidade política" no país vizinho. O Hamas, segundo Yousef, quer que a calma volte a imperar ao Egito já que o drama em suas ruas afeta a estabilidade de toda a região.