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Quando, como e quantos presos a CIA torturou

A versão classificada do relatório tem mais de 6.000 páginas e é o balanço mais detalhado do programa secreto da CIA para interrogar prisioneiros

Guantánamo: detidos de grande valor foram interrogados em lugares secretos antes de ir à prisão (AFP)

Guantánamo: detidos de grande valor foram interrogados em lugares secretos antes de ir à prisão (AFP)

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Da Redação

Publicado em 9 de dezembro de 2014 às 14h48.

O Senado dos Estados Unidos divulgou nesta terça-feira uma versão reduzida do esperado relatório de uma investigação parlamentar sobre as técnicas de interrogatório da CIA, equiparadas à tortura, utilizadas em suspeitos de pertencer à Al-Qaeda após os atentados de 11 de setembro de 2001.

A versão classificada do relatório tem mais de 6.000 páginas e é o balanço mais detalhado do programa secreto da CIA para interrogar prisioneiros, que tem alguns de seus elementos, no entanto, já conhecidos pela opinião pública.

Datas do programa

O chamado Programa de Detenção e Interrogatório da CIA foi autorizado secretamente pelo governo de George W. Bush em 2002, pouco depois da assinatura pelo presidente de um memorando que autorizava a CIA a matar, capturar e interrogar líderes de alto escalão da Al-Qaeda em qualquer parte do mundo.

A partir de 2002 apareceram rumores sobre maus-tratos e torturas: especialmente em Bagram, Afeganistão.

Organizações não governamentais e legisladores começaram a se perguntar sobre o destino de vários detidos fantasma, sobre os quais o governo americano não diz nada.

Finalmente, em 2005, a imprensa americana denuncia voos secretos da CIA para transferir detidos de alto valor a locais desconhecidos, secretos, nos quais nem mesmo o FBI intervém.

Muitos países, principalmente europeus, permitem que estes voos passem por seus espaços aéreos.

Em dezembro de 2005 o Congresso aprova uma lei que proíbe o tratamento "cruel, desumano e degradante".

Aumenta a polêmica sobre o recurso à tortura, começam investigações administrativas e a CIA admite em 2007 que destruiu gravações de interrogatórios, provocando um escândalo.

O então diretor da CIA, Michael Hayden, admite em fevereiro de 2008 que três detidos foram submetidos à prática do "submarino" (submergir o detido na água até quase afogá-lo), mas afirma que a CIA já não emprega este método há cinco anos.

Khalid Cheikh Mohammed, suposto cérebro dos atentados de 11-S, Abu Zubeida, primeiro líder da Al-Qaeda a ser detido, e Abd Rahim Al-Nashiri, outro membro importante da Al-Qaeda, estão entre os que foram submetidos ao submarino.

O primeiro 183 vezes e Abu Zubeida, 83.

Em janeiro de 2009 o recém-eleito Barack Obama se compromete a respeitar a Convenção de Genebra e promete que sua administração não utilizará a tortura nos interrogatórios de prisioneiros. Suprime oficialmente o programa secreto de interrogatórios.

Em abril de 2009 o Executivo divulga os memorandos do departamento de Justiça de 2002 e 2005 nos quais se justificava o uso de técnicas reforçadas de interrogatório.

Em março de 2009 a Comissão de Inteligência do Senado, controlada pelos democratas, abre sua própria investigação.

Os métodos de interrogatório

Além do submarino, os interrogatórios incluíam, segundo os testemunhos de vários detidos: bofetadas, socos, espancamento, submissão a temperaturas frias, a posições incômodas e dolorosas durante longos períodos e privação do sono, entre outros.

Um relatório interno da CIA de 2004, parcialmente desclassificado em 2009, também menciona as simulações de execuções, assim como o uso de uma pistola e de uma furadeira para aterrorizar Abd Rahim al-Nashiri.

Um agente também teria ameaçado matar a família de Cheikh Mohammed.

Localização das prisões da CIA

Os detidos considerados de grande valor foram interrogados pela CIA em lugares secretos, "locais negros", antes de ser levados à prisão da base militar americana de Guantánamo, na ilha de Cuba, em 2006.

Um relatório do Parlamento Europeu de 2007 acusa sobretudo Polônia e Romênia de terem abrigado, entre 2003 e 2005, centros secretos de detenção em Kiejkuty, nordeste da Polônia, e em Bucareste.

Um local em Antaviliai, na Lituânia, a 20 km da capital, Vilnius, visitado por legisladores europeus, também é suspeito de ter abrigado uma prisão secreta da CIA.

Isso também ocorre com Tailândia e Afeganistão, invadido por uma coalizão internacional liderada pelas Forças Armadas americanas.

O relatório parlamentar, no entanto, não divulgará nomes de países onde existiram prisões secretas da CIA.

Quantos detidos?

Segundo o documento do Senado, cerca de cem detidos foram interrogados pela CIA no âmbito do programa secreto.

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