Putin reforçou ameaças ao Ocidente, que acredita ser alvo de 'mentira' do presidente russo.
Redator na Exame
Publicado em 27 de setembro de 2024 às 08h01.
O presidente Vladimir Putin aumentou as tensões internacionais ao deixar claro que a Rússia poderia recorrer ao uso de armas nucleares caso o Ocidente permita que a Ucrânia realize ataques profundos em território russo com mísseis de longo alcance fornecidos pelos países aliados. O anúncio marcou um alerta direto aos Estados Unidos e seus parceiros europeus, destacando os riscos de uma escalada nuclear em meio ao conflito em andamento entre Rússia e Ucrânia. As informações são da Reuters.
Putin anunciou mudanças na doutrina nuclear da Rússia, estendendo as circunstâncias em que o uso dessas armas seria considerado, inclusive em resposta a um ataque convencional significativo contra o país. Se um poder nuclear rival, como os EUA ou o Reino Unido, apoiar diretamente um ataque à Rússia, será considerado parte desse ataque, segundo o líder russo. Essa mudança eleva as preocupações de que o apoio militar ocidental à Ucrânia possa provocar uma resposta nuclear, tornando a situação ainda mais crítica.
As declarações de Putin são vistas como uma resposta ao crescente lobby ucraniano junto aos países ocidentais por mísseis de longo alcance, como os ATACMS dos EUA e Storm Shadows britânicos. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, tem defendido esses armamentos para fortalecer a defesa de seu país. No entanto, Putin já havia indicado anteriormente que o uso desses mísseis pela Ucrânia, com o suporte logístico ocidental, seria interpretado como um passo em direção ao uso de armas nucleares pela Rússia.
Embora o Ocidente tenha reagido rapidamente às ameaças de Putin, muitos analistas, inclusive na Ucrânia, acreditam que o presidente russo esteja apenas exercendo pressão psicológica para desestimular o fornecimento de armamentos avançados aos ucranianos. Essa postura, no entanto, não diminui a gravidade do contexto, uma vez que qualquer ação que leve a uma escalada pode ter consequências desastrosas para a região e para o mundo.
Líderes dos EUA e de países europeus, como o secretário de Estado americano Antony Blinken, têm condenado os alertas de Putin, classificando-os como irresponsáveis. Analistas políticos também destacam que, apesar da retórica agressiva, não há sinais imediatos de preparativos russos para o uso de armas nucleares. A ausência de movimentação de ogivas ou a preparação de sistemas de entrega para um ataque tático sugere que as ameaças de Putin, por ora, permanecem no campo da retórica.
As mudanças na doutrina nuclear russa representam um endurecimento da postura de Moscou. Putin, em um discurso divulgado em vídeo, afirmou que o uso de armas nucleares continua sendo uma medida extrema, mas que a Rússia precisaria responder a qualquer ameaça que comprometesse sua soberania. Essa nova diretriz inclui a possibilidade de uso de armas nucleares caso a Rússia seja alvo de ataques convencionais significativos que coloquem em risco sua integridade territorial.
A doutrina nuclear revisada agora cobre também Belarus, vizinho e aliado próximo da Rússia, expandindo a proteção nuclear da Rússia para além de suas fronteiras. Isso sugere que qualquer ataque à Belarus, considerado parte do pacto militar entre os dois países, poderia ser considerado uma provocação passível de resposta nuclear. Essa nova posição endurece ainda mais as relações já tensas entre Moscou e os países ocidentais, que continuam a apoiar militarmente a Ucrânia.