Mundo

Putin reconhece tensão nuclear crescente, mas descarta ser o primeiro a usar essa arma

"Não ficamos loucos, sabemos o que são as armas nucleares", declarou presidente da Rússia em uma reunião televisionada com o Conselho de Direitos Humanos russo

Putin (AFP/AFP Photo)

Putin (AFP/AFP Photo)

A

AFP

Publicado em 8 de dezembro de 2022 às 06h54.

Última atualização em 8 de dezembro de 2022 às 06h54.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, reconheceu nesta quarta-feira (7) um aumento na tensão nuclear, embora tenha insistido em que não será o primeiro a usar esse tipo de arma no conflito com a Ucrânia.

Em reunião com o Conselho de Direitos Humanos russo transmitida pela TV, Putin admitiu que o conflito na Ucrânia pode se prolongar.

Quer receber os fatos mais relevantes do Brasil e do mundo direto no seu e-mail toda manhã? Clique aqui e cadastre-se na newsletter gratuita EXAME Desperta.

Desde o início da invasão, em 24 de fevereiro, na Ucrânia, altos funcionários russos evocaram a possibilidade de recorrer a armas nucleares caso o Estado russo se visse ameaçado em sua integridade territorial, o que inclui as regiões anexadas da Ucrânia.

Essas declarações despertaram temores e acusações em todo o mundo. Mas a declaração de Putin pareceu afastar essas preocupações, ao menos no que se refere a um apocalipse desencadeado pela Rússia.

"Não ficamos loucos, sabemos o que são as armas nucleares", declarou Putin em uma reunião televisionada com o Conselho de Direitos Humanos russo.

"Consideramos as armas de destruição em massa, a arma nuclear, como um meio de defesa. (Usá-la) se baseia no que chamamos de 'ataque em represália': se nos atacam, respondemos", afirmou.

No entanto, acrescentou que "a ameaça de uma guerra nuclear está crescendo" e culpou por isso os americanos e os europeus, que dão forte apoio financeiro e militar à Ucrânia.

O porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price, negou-se a responder diretamente a Putin, mas apontou que "qualquer conversa fiada sobre armas nucleares é absolutamente irresponsável".

O chanceler alemão, Olaf Scholz, disse que o risco de uso de armas nucleares no conflito na Ucrânia diminuiu, graças à pressão internacional sobre a Rússia. "Há algo que mudou por enquanto: a Rússia cessou suas ameaças de usar a arma nuclear", assinalou Scholz em entrevista ao grupo de mídia alemão Funke e ao jornal francês "Ouest-France".

O chanceler acrescentou que "a prioridade é que a Rússia ponha fim à guerra e retire suas tropas da Ucrânia, mas é verdade que mais tarde precisaremos saber como garantir a segurança na Europa".

Processo longo

O presidente russo acusou a ONU e outras organizações internacionais, assim como a mídia ocidental, de assumir uma posição tendenciosa contra a Rússia no caso e de propagar "mentiras flagrantes".

Putin reconheceu que o conflito dura mais do que pensava, mas alegou que a Rússia obteve nesses nove meses "resultados significativos", em referência à anexação por Moscou de quatro regiões ucranianas.

Nas últimas semanas, as tropas russas sofreram, porém, vários reveses diante de uma contraofensiva ucraniana, sendo obrigados a se retirarem da cidade de Kherson.

A invasão da ex-república soviética foi justificada pelo Kremlin como uma tentativa de defender a população russófona e romper a aliança entre Kiev e o Ocidente, que considera uma ameaça estratégica.

A União Europeia propôs nesta quarta-feira adotar sanções contra as forças armadas e outros três bancos da Rússia, como parte de um novo pacote de medidas restritivas impostas devido à guerra na Ucrânia.

'Ecocídio'

Putin disse que já enviou à Ucrânia 150 mil reservistas, metade dos 300 mil mobilizados em setembro. Entre esses recrutas, cerca de 77 mil estão na linha de frente, detalhou. Por enquanto, ele descartou uma nova mobilização de reservistas.

Os bombardeios continuaram nesta quarta-feira, com uma investida russa contra a cidade de Kurakhove, próxima a Donetsk, onde se concentra atualmente a maior parte dos combates.

"Um mercado, um terminal rodoviário, postos de gasolina e prédios residenciais foram alvos dos ataques", afirmou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, acrescentando que os mesmos mataram 10 civis.

Na véspera, em Donetsk, sob controle dos separatistas pró-Rússia desde 2014, seis civis morreram em ataques ucranianos, segundo autoridades locais.

Antes de seus repetidos reveses, o Kremlin decidiu em outubro concentrar seus bombardeios nas instalações energéticas ucranianas, privando a população de eletricidade, água e calefação, com o inverno chegando.

A fauna ucraniana também pagou um alto preço, com a morte de milhares de golfinhos no mar Negro nos últimos meses.

Zelensky, que foi nomeado pessoa do ano de 2022 pela revista Time, disse que seu país está "reunindo provas desses crimes" para "responsabilizar a Rússia" por esse "ecocídio".

Acompanhe tudo sobre:Armas nuclearesGuerrasRússiaUcrânia

Mais de Mundo

Trump nomeia Robert Kennedy Jr. para liderar Departamento de Saúde

Cristina Kirchner perde aposentadoria vitalícia após condenação por corrupção

Justiça de Nova York multa a casa de leilões Sotheby's em R$ 36 milhões por fraude fiscal

Xi Jinping inaugura megaporto de US$ 1,3 bilhão no Peru