Vladimir Putin: enquanto o crescimento russo vacila e o rublo desaba, os capitais continuam saindo do país (Carsten Koall/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 14 de março de 2014 às 15h02.
Moscou - Desde seu retorno à presidência da Rússia, em 2012, Vladimir Putin conseguiu calar seus opositores, fez os planos ocidentais na Síria fracassarem e se prepara para anexar a Crimeia, mas suas decisões podem isolar o país.
O controle da Crimeia, península de maioria de língua russa no sul da Ucrânia, por soldados russos representa uma afirmação de seu poder, diante das críticas das capitais ocidentais e das novas autoridades pró-europeias de Kiev.
A intervenção na Crimeia é resultado de um aumento de seu poder, coroado recentemente pelos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi.
"Ninguém está disposto a lutar pela Crimeia. Os ocidentais deverão quebrar a cabeça para encontrar uma saída", afirmou o cientista político Gleb Pavlovksi.
A Rússia cedeu esta península à Ucrânia em 1954, quando as duas ex-repúblicas formavam parte da URSS. No entanto, Moscou manteve no porto de Sebastopol, na Crimeia, a base de sua frota no Mar Negro.
"Putin está atualmente no centro desta crise, o que multiplica suas possibilidades. Agora é Putin, e não os ocidentais, quem decide o futuro da revolução ucraniana", acrescentou este ex-conselheiro do Kremlin.
Debilidade do Ocidente
O presidente russo sente que "o Ocidente é fraco, que as regras do jogo mudarão e que o primeiro a jogar vencerá", avaliou o professor da Escola Superior de Economia de Moscou, Nikolai Petrov.
Em setembro, Putin marcou um gol ao evitar um ataque americano iminente contra seu aliado sírio Bashar al-Assad, graças a uma iniciativa diplomática sobre o desmantelamento do arsenal químico sírio.
O chefe de Estado russo soube, anteriormente, calar seus opositores e os meios de comunicação com uma combinação de repressão e gestos inesperados, como a libertação do ex-oligarca e opositor russo Mikhail Khodorkovsky.
Agora, a intervenção militar na Crimeia corresponderia a um roteiro bem elaborado, que terminaria com a anexação deste território à Rússia após o referendo de domingo.
"O regime se transforma em um poder autoritário", indicou Petrov, para quem Putin "mata dois coelhos com uma cajadada só", já que a reação ocidental contribui para que a popularidade do presidente aumente entre os cidadãos e que a elite russa perca sua independência em benefício do Kremlin.
Putin, ex-agente do KGB de 61 anos, chegou pela primeira vez à presidência da Rússia em 2000. Desde então, se converteu no único líder de seu país e em uma das pessoas mais poderosas do mundo.
No entanto, os analistas consideram que a opção escolhida pelo Kremlin na Ucrânia não conta com uma visão estratégica e que a rota traçada pode se converter em um beco sem saída.
"Putin venceu, mas a um preço estratégico e econômico muito elevado", indicou Gleb Pavlovski. "É um preço que ninguém sensato estaria disposto a pagar", acrescentou.
Jogador tático, mas não estratégico
Enquanto o crescimento russo vacila e o rublo desaba, os capitais continuam saindo do país. Os ocidentais também ameaçam com sanções econômicas, o que, segundo certos especialistas, pode prejudicar muito a Rússia.
Este confronto dirige o país a "um estado de tipo soviético, com um orçamento militarista", estimou a pesquisadora da área russa do Centro Carnegie, Lilia Shevtsova.
"Putin tomou o caminho da URSS", afirmou esta analista, que afirmou que esta via está condenada ao fracasso.
O presidente russo é "um ilustre jogador tático, mas não estratégico", afirmou Nikolai Petrov, para quem a Rússia é, neste momento, refém da política de Vladimir Putin.