Mundo

Putin defende suas forças, Ucrânia denuncia detenção ilegal de marinheiros

Mandatário russo diz que forças cumpriram com "dever" ao capturar três navios ucranianos na costa da Crimeia, enquanto Kiev denunciou detenção "ilegal"

O presidente russo Putin: mandatário resiste a assumir qualquer responsabilidade em relação a incidente com barcos ucranianos (Mikhail Svetlov/Getty Images)

O presidente russo Putin: mandatário resiste a assumir qualquer responsabilidade em relação a incidente com barcos ucranianos (Mikhail Svetlov/Getty Images)

A

AFP

Publicado em 28 de novembro de 2018 às 21h30.

O presidente russo, Vladimir Putin, repetiu nesta quarta-feira, 28, que as forças russas cumpriram com o "seu dever" ao capturar à força três navios ucranianos na costa da Crimeia, enquanto Kiev denunciou a detenção "ilegal" de seus 24 marinheiros capturados.

O incidente de domingo no Mar Negro poderia colocar em perigo o encontro previsto entre os presidentes russo e americano à margem da cúpula do G20, que começará na próxima sexta-feira na Argentina. Donald Trump ameaçou cancelá-lo.

A lei marcial, que o Parlamento ucraniano votou na segunda-feira, entrou em vigor esta quarta-feira. As condições de sua aplicação ainda são vagas: foi introduzida por 30 dias em 10 regiões fronteiriças e litorâneas do país. Com Kiev denunciando o que considera uma agressão de seu vizinho, Vladimir Putin insistiu que a Guarda Costeira russa simplesmente "cumpriu com seu dever militar perfeitamente".

"O que aconteceu? Eles (os ucranianos) não responderam às demandas dos nossos guardas de fronteiras. E entraram em nossas águas territoriais", afirmou o presidente russo, em declarações divulgadas pela televisão. Putin qualificou o incidente como uma "provocação" organizada pelo presidente ucraniano, Petro Poroshenko, a quem as pesquisas não sorriem a alguns meses da eleição presidencial.

Nesta quarta-feira, os últimos nove marinheiros capturados pela Rússia que deviam comparecer ante um tribunal foram declarados em detenção provisória, até 25 de janeiro, como aconteceu na véspera com outros 15 militares. Uma detenção "ilegal" e um ato de "barbárie", denunciou Kiev.

A Chancelaria ucraniana anunciou ter enviado uma nota de protesto ao Ministério russo das Relações Exteriores considerando que esses homens são "prisioneiros de guerra" e exigindo a sua libertação "imediata". Três navios da Marinha ucraniana foram capturados por guarda-costas russos no Mar Negro, em frente à costa da península ucraniana da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.

Tratou-se do primeiro confronto militar aberto entre Moscou e Kiev desde esta anexação e o início, naquele mesmo ano, de um conflito armado no leste da Ucrânia entre forças ucranianas e separatistas pró-Rússia, que deixou mais de 10 mil mortos.

Encontro Trump-Putin em suspenso

O incidente poderia ter repercussões na cúpula do G20. "Talvez não participe dessa reunião" prevista por Putin, advertiu Donald Trump em uma entrevista com o Washington Post, destacando que "essa agressão não lhe agrada".

Posteriormente, segundo a Casa Branca, Trump disse estar "profundamente preocupado" com a captura dos três navios militares ucranianos. Durante uma ligação telefônica entre Trump e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, "os dois líderes expressaram sua profunda preocupação com o incidente no Estreito de Kerch e a apreensão de navios ucranianos e tripulantes", afirmou a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders.

Do lado russo, o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, assegurou que a preparação do encontro continuava. "A preparação (do encontro) segue, o encontro está previsto. Não temos nenhuma informação de nossos colegas americanos", sustentou.

"Ambas as partes precisam igualmente desta reunião", declarou o conselheiro do Kremlin, Yuri Ushakov. O chanceler russo, Serguei Lavrov, acusou os Estados Unidos e "algumas capitais europeias" de tolerar os "caprichos" de Kiev.

Essas tensões russo-ucranianas também se centraram nas conversas separadas entre Erdogan, e seus homólogos russo e ucraniano nesta quarta. Erdogan e Putin falaram sobre "a estabilidade e a segurança no Mar Negro", disse o Kremlin em comunicado.

Poroshenko, por sua vez, "pediu ao presidente turco para reforçar a pressão sobre a Rússia para que liberte marinheiros e navios ucranianos" capturados, indicou a presidência ucraniana. Na terça-feira à noite, Poroshenko acusou a Rússia de ter reforçado drasticamente a sua presença militar na fronteira ucraniana e fez alusão à "ameaça de uma guerra total" com a Rússia.

Neste contexto, a Rússia anunciou o envio - "em um futuro próximo" - de uma nota bateria de mísseis antiaéreos S-400 na Crimeia, que se somará, segundo a Ria Novosti, aos três que já operam na península.

Caráter "preventivo"

Diante das preocupações suscitadas pela lei marcial, as autoridades ucranianas asseguraram que o texto, que permite mobilizar cidadãos, regular a mídia e limitar as manifestações públicas, tem um "caráter preventivo".

"O objetivo da lei marcial é mostrar que o inimigo pagará muito caro se decidir nos atacar. Será como um balde de água fria que deterá os loucos que tenham a intenção de atacar a Ucrânia", declarou na terça-feira à noite o presidente Poroshenko.

O incidente no Mar Negro ocorreu quando os navios da Marinha de guerra ucraniana tentaram cruzar o Estreito de Kerch para entrar no Mar de Azov, que tem uma importância crucial para as exportações de cereais ou aço produzidos no leste da Ucrânia.

As considerações de política interior se misturam aos interesses estratégicos e militares neste novo confronto. A popularidade de Putin caiu pelos problemas econômicos que o país atravessa e pela oposição a uma reforma impopular das aposentadorias. Poroshenko busca, por sua vez, a sua reeleição, e enfrenta problemas semelhantes.

Acompanhe tudo sobre:CrimeiaDiplomaciaEuropaRússiaUcrânia

Mais de Mundo

Argentina registra décimo mês consecutivo de superávit primário em outubro

Biden e Xi participam da cúpula da Apec em meio à expectativa pela nova era Trump

Scholz fala com Putin após 2 anos e pede que negocie para acabar com a guerra

Zelensky diz que a guerra na Ucrânia 'terminará mais cedo' com Trump na Presidência dos EUA