Vladimir Putin, presidente da Rússia (Contributor/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 5 de dezembro de 2023 às 15h39.
Última atualização em 5 de dezembro de 2023 às 15h54.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou uma viagem a Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos nesta quarta-feira, em uma semana em que a agenda externa do líder russo estará voltada para o Oriente Médio.
Isolado pelo bloco ocidental liderado pelos Estados Unidos após a invasão da Ucrânia, o Kremlin tem apostado na região rica em petróleo como uma das vias alternativas para projetar seu poder geopolítico e aprofundar laços comerciais.
Putin embarcará para os Emirados Árabes na quarta-feira, onde se encontrará com o presidente Mohamed bin Zayed al-Nahyan. Ainda na quarta-feira, o presidente russo embarcará para Riad, para uma conversa com o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman. Encerrado o compromisso, Putin volta para Moscou, onde receberá o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, na quinta-feira.
Os compromissos desta semana, contudo, voltam-se para a trinca de países aceita, em agosto, na aliança econômica do Brics. Na época, especialistas em relações internacionais apontaram como a aproximação com os países do Oriente Médio atendia às diferentes pretensões geopolíticas dos integrantes do bloco de penetrar na região. Especificamente sob a ótica russa, o foco seria romper barreiras econômicas e acessar os mercados, sobretudo de Arábia Saudita e Emirados, cujos PIBs somados passam U$ 1,5 trilhão/ano (R$ 7,4 trilhões), segundo o FMI. O Irã entra em um contexto mais político, de oposição ao bloco ocidental.
No bate-volta pelo Oriente Médio, Putin pretende debater sobre questões de cooperação, comércio, investimentos e política internacional, segundo detalhou Peskov. Em Riad e Abu Dhabi, Putin pretende debater também as reduções na produção de petróleo no marco da aliança Opep+, outro ponto de convergência entre a Rússia e as monarquias do Golfo — em que o Brasil confirmou entrada nesta semana.
O porta-voz também afirmou que o presidente russo abordará o conflito entre Israel e Hamas, tema por meio do qual Putin tenta ganhar a simpatia na região, incluindo em países com relações mais estreitas com o Ocidente, apresentando uma versão mais crítica a Israel e pró-Hamas do que o apoio integral apresentado pelos EUA e pela Otan ao Estado judeu.
Desde o primeiro mês da guerra, Putin criticou a ação militar de Israel e denunciou a catástrofe humanitária em Gaza. O presidente chegou a enviar caças armados com mísseis hipersônicos para patrulhar e monitorar dois porta-aviões americanos, que teriam como objetivo declarado de "dissuadir ações hostis" contra o Estado judeu, em uma referência implícita à possível interferência do Irã.
O próprio Hamas reconheceu a atuação do presidente russo, mencionando apreço por Putin ao libertar reféns russos do cativeiro em Gaza.
Pauta similar será discutida com o presidente do Irã, de acordo com o anúncio do Kremlin, em uma conversa entre aliados. Assim como a Rússia, a nação persa é duramente sancionada pelas forças ocidentais. Teerã é acusada de violações de direitos humanos contra a população civil e de fornecer armas à Rússia, para uso na Ucrânia, por exemplo.
"Assuntos bilaterais, incluindo interações econômicas, assim como discussões sobre assuntos regionais e internacionais, especialmente a situação em Gaza, estarão no topo da agenda", disse Peskov a repórteres.
Alvo de um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TRI) pela deportação forçada de crianças ucranianas durante a guerra no Leste Europeu, Putin tem evitado sair do território russo. Ele faltou a compromissos do G20 e do Brics, para evitar eventuais problemas com os organizadores e para marcar uma posição avessa ao Ocidente — durante o G20, por exemplo, Putin ficou na Rússia para receber o líder norte-coreano, Kim Jong-un.
A Rússia também tem usado o reconhecimento internacional aos países árabes e muçulmanos da região, que cada vez mais buscam protagonismo, como moeda de aproximação. O país acatou uma mediação do Catar para devolver crianças ucranianas deportadas às suas famílias.
O grupo de crianças e adolescentes, de 8 a 15 anos, é o segundo a ser repatriado sob um acordo negociado entre os dois países com mediação do Catar, que permitiu o regresso de quatro menores em outubro.