Ataque em Londres: "A estratégia é impulsionar e reforçar os simpatizantes, bem como seus seguidores e os lobos solitários" (Peter Nicholls/Reuters)
EFE
Publicado em 6 de junho de 2017 às 16h51.
Cairo - O último atentado em Londres, que foi reivindicado pelo Estado Islâmico (EI), evidencia a rentabilidade midiática e logística para os jihadistas de fomentar os ataques contra os civis.
Uma caminhonete, várias facas e falsos coletes de explosivos foram suficientes para que três terroristas acabassem com a vida de sete pessoas no sábado passado e causassem ferimentos em outros 48 civis.
"Do ponto de vista logístico é fácil, tanto é assim que os autores não necessitam saber como construir uma bomba ou usar armas de fogo. Hoje, os alvos da vida diária estão sendo usados para perpetrar as ações mais horrendas", comentou à Agência Efe a analista Dalia Ghanem Yazbeck.
O grupo terrorista de inspiração islamita estimula este tipo de ataque na Europa há muito tempo, como o atropelamento de quatro cidadãos e um policial por um homem ao volante de um veículo no último dia 22 de março em frente ao parlamento britânico.
Outros exemplos foram as mortes de 12 pessoas em um mercado natalino de Berlim em 19 de julho de 2016, atropeladas por um caminhão, e o ataque de outro "lobo solitário" ao volante de outro veículo de carga na cidade francesa de Nice, em 14 de julho do ano passado, no qual 84 pessoas morreram.
"A estratégia é impulsionar e reforçar os simpatizantes, bem como seus seguidores e os lobos solitários", declarou Ghanem Yazbeck, analista do centro Carnagie do Oriente Médio, para quem o EI, com estas ações, lança várias mensagens importantes.
"Aos seus seguidores diz: 'Vocês têm que acreditar na organização porque ainda podemos causar dano, levantem-se e façam seu trabalho'. E aos seus inimigos diz: 'Podemos atuar onde quisermos e quando quisermos", explicou a especialista, que considera que estes ataques "em pequena escala, mas de grande impacto" continuarão.
A sua mensagem flui entre os meios de informação e pelas redes sociais e é repetida constantemente, como um disco arranhado.
A agência "Amaq", vinculada ao EI, lançou nesta segunda-feira através do Instagram uma nova ameaça em francês, assinada por supostos "soldados do Estado Islâmico na França", que ameaça com novas "operações de invasão e de horror" se o povo da França não exigir que seu governo detenha sua campanha contra o grupo Estado Islâmico.
Simbolicamente, destacou a especialista, "é uma mensagem muito forte porque estende o terror nos corações de todos. Todos os cidadãos de Londres e Manchester hoje caminham com medo, medo de ser esfaqueado ou atropelado".
Para Ghanem Yazbeck, os meios de comunicação contribuem para a propaganda do EI com uma "campanha gratuita de relações públicas" por meio de uma cobertura "massiva" de seus atos.
"A publicidade é o oxigênio dos terroristas", ressaltou a especialista.
Por sua vez, Timothy E. Kaldas, especialista do Instituto Tahrir, acredita que estes ataques permitem também que o EI tire a atenção do Oriente Médio, onde o grupo está perdendo terreno a passos agigantados, tanto na cidade iraquiana de Mossul, como em Al Raqqa, capital do califado na Síria.
"Se o EI existisse apenas no Oriente Médio seria visto como um perdedor, mas estes ataques mostram que tem capacidade de ação, distintos braços. Definitivamente, querem projetar uma imagem que são efetivos e estão ganhando", frisou Kaldas.
O analista do centro Tahrir criticou também as reações políticas de condenação contra as comunidades muçulmanas em cada vez que há um destes ataques.
Segundo Kaldas, isto favorece que os seus membros mais marginalizados se sintam mais isolados e, portanto, seja mais fácil que caiam nas redes dos extremistas.
"Quanta maior é a tensão entre a comunidade muçulmana e o resto dos europeus, mais fácil é para os jihadistas encontrar apoio", assegurou Kaldas.
"A sociedade precisa oferecer a estes potenciais 'lobos solitários' um sentimento de pertinência, satisfazer sua sede de reconhecimento e dar-lhes um objetivo na vida, antes que caiam nos braços dos grupos jihadistas", concluiu Ghanem Yazbeck, para evitar, assim, que levantem suas facas ou pisem no acelerador contra seus concidadãos.