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PT opera para impedir que crise do Esporte atinja Agnelo Queiroz

Lula foi a campo para evitar que o PCdoB cumprisse a ameaça de enredar o governador do Distrito Federal em acusações. Mas o escândalo continua latente

Os comunistas insinuam que o esquema de desvio de verbas também tinha como sócio majoritário Agnelo Queiroz, o petista que governa Brasília (VEJA)

Os comunistas insinuam que o esquema de desvio de verbas também tinha como sócio majoritário Agnelo Queiroz, o petista que governa Brasília (VEJA)

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Da Redação

Publicado em 30 de outubro de 2011 às 09h36.

São Paulo - Desde junho passado, quando o petista Antonio Palocci foi obrigado a deixar a Casa Civil sob suspeita de enri-quecimento ilícito e tráfico de influência, a presidente Dilma Rousseff já realizou seis mudanças no ministério — uma impressionante marca de uma troca a cada 24 dias.

A última delas ocorreu na quarta-feira, quando Orlando Silva se demitiu da pasta do Esporte, depois de ser acusado de receber propina e participar de um esquema de desvio de recursos públicos para o caixa de seu partido, o PCdoB. Silva foi o quinto ministro a deixar o governo abatido por denúncias de irregularidades.

Foi também o quinto ministro herdado da gestão do ex-presidente Lula a ser exonerado por Dilma. A escalada de substituições no primeiro escalão rendeu à presidente pontos a mais em popularidade. No campo político, no entanto, acentuou a insatisfação de Lula e do PT com a “faxina ética” em curso. Na lógica do petismo, Dilma estaria carimbando a pecha de corrupção na legenda e, pior, pondo em risco companheiros que estão à frente de cargos importantes. Caso do governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz.

Foi justamente a preocupação com Agnelo que levou Lula a sair a campo, mais uma vez, para defender um de seus ministros mantidos no novo governo. O ex-presidente orientou o PT e o PCdoB a pressionar Dilma a não demitir Orlando Silva. Lançou mão de dois argumentos. Um deles é recorrente: o comunista, como os mensaleiros, não passaria de vítima de uma conspiração destinada a desestabilizar o governo. O outro argumento de Lula, o pragmático, era a necessidade de blindar o governador do Distrito Federal. Agnelo comandou o Ministério do Esporte entre 2003 e 2006.

Foi quem tirou do papel o programa Segundo Tempo, canal usado pelo PCdoB para irrigar as arcas comunistas. Na época, ele era filiado ao PCdoB e tinha como secretário executivo o próprio Orlando Silva. Com a ajuda do ex-ministro José Dirceu, Lula deixou claro aos petistas que a demissão de Silva e a perda do controle do ministério pelo PCdoB poderiam resultar num revide, com os comunistas divulgando informações que comprometeriam o governador, agora no PT. Ou seja: se não sabia quando era presidente, Lula parece saber agora o que o colega Agnelo fez no verão passado.


A ação de Lula e Dirceu foi catalisada por ameaças feitas por integrantes do PCdoB. Ainda quando tentava se manter no cargo, Orlando Silva afirmou que recebeu o policial militar João Dias a pedido do ex-ministro Agnelo. Dias foi quem contou a VEJA que Orlando Silva recebeu uma caixa com notas de 50 e 100 reais na garagem do ministério, dinheiro amealhado em organizações não governamentais beneficiadas pelo programa Segundo Tempo e que lhe custou o cargo.

Publicamente, o deputado Protógenes Queiroz, também do PCdoB, reforçou o coro de ameaças no Twitter: “Reconhecemos a queda. Mas preparem-se. Vamos levantar muita poeira...”. Levantar poeira, no caso, não seria nada trabalhoso. Agnelo, Orlando, João Dias e outros petistas e comunistas estão juntos no mesmo enredo — e há quem aposte que o escândalo dos desvios ainda fará outras vítimas.

A ameaça ao PT, por isso mesmo, surtiu o efeito desejado pelo PCdoB. Ao retornar da África, a presidente Dilma se reuniu com ministros para tomar pé das denúncias contra Orlando Silva. No dia seguinte, já estava desenhada a demis-são dele. Dilma também cogitou tirar do PCdoB o controle do ministério.

A ideia era dar à legenda o comando da Cultura. A troca seria uma questão de justiça. O PCdoB, na avaliação da presidente, teria uma bancada parlamentar incompatível — devido ao seu pequeno número de integrantes — com o orçamento e os projetos do Esporte — entre eles, a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. A dança de cadeiras não foi realizada devido às ameaças dos comunistas de atacar Agnelo. Depois de viajar com Lula a Manaus na última segunda-feira, a presidente recuou e definiu que o substituto de Orlando Silva seria do PCdoB. A disputa, então, deixou de ser travada entre PT e PCdoB para ser encenada entre os comunistas e o Palácio do Planalto.

Na quarta-feira, logo depois de Orlando Silva pedir demissão, o PCdoB sugeriu o nome do deputado Aldo Rebelo como substituto. Apesar de ele ter sido ministro de Lula e presidente da Câmara, a presidente não gostou da indicação. Dilma acha que Aldo terá dificuldade para punir os camaradas lotados no ministério e desmontar o esquema de desvio de verbas. Também pesava contra Aldo o fato de, ao relatar o Código Florestal na Câmara, não ter seguido as reco-mendações da presidente.

Apesar disso, Dilma aceitou a indicação de Aldo Rebelo. Ela não fez o sucessor que desejava, mas deu fim a mais uma crise política. Já o PCdoB não salvou Orlando Silva, mas manteve o controle do cofre. E o PT não evitou a degola de um aliado, mas calou, pelo menos até a última sexta-feira, os comunistas que se levantavam contra o governador Agnelo Queiroz. Uma saída clássica do atual sistema de governabilidade.

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