Mundo

Próximo número do Charlie Hebdo terá caricaturas de Maomé

O próximo número do jornal, feito pelos sobreviventes do atentado contra a publicação, irá criticar políticas e religiões, e incluirá caricaturas de Maomé

Capa da última edição da revista Charlie Hebdo é vista em frente à embaixada francesa de Madri (Garard Julien/AFP)

Capa da última edição da revista Charlie Hebdo é vista em frente à embaixada francesa de Madri (Garard Julien/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 12 de janeiro de 2015 às 18h28.

Paris - O próximo número do Charlie Hebdo, preparado pelos sobreviventes do sangrento atentado contra o jornal, em Paris, criticará, como de hábito, políticas e religiões, e incluirá caricaturas de Maomé, informou o advogado da publicação nesta segunda-feira.

"Evidentemente", respondeu Richard Malka ao ser perguntado sobre a possibilidade de haver desenhos do profeta no número que estará disponível a partir de quarta-feira nas bancas. "Não cederemos em nada, senão tudo isto não faria sentido", acrescentou.

O Charlie Hebdo "dos sobreviventes", elaborado na sede do jornal Libération, terá uma tiragem de 3 milhões de exemplares e será "traduzido para 16 idiomas", informou nesta segunda-feira o médico e cronista Patrick Pelloux.

No dia seguinte às manifestações que levaram para as ruas de várias cidades francesas quase quatro milhões de pessoas, em repúdio aos atentados e em defesa da liberdade de expressão, os autores do próximo número mantêm firmemente sua linha editorial.

"Rimos de nós mesmos, das políticas, das religiões, é um estado de ânimo", disse o advogado.

Em 2006, o Charlie Hebdo reproduziu as caricaturas de Maomé, cuja publicação no jornal dinamarquês JyllandsPosten desencadeou violentos protestos. A partir de então, o jornal satírico francês sofreu um incêndio criminoso e várias ameaças.

Os dois jihadistas que mataram 12 pessoas na sede do jornal, na semana passada, saíram gritando, "Vingamos o profeta! Matamos o Charlie Hebdo!".

Para Richard Malka, "nunca temos o direito a criticar um judeu por ser judeu, um muçulmano por ser muçulmano, um cristão por ser cristão, mas podemos dizer tudo o que quisermos, as coisas mais horríveis, e as dizemos sobre o cristianismo, o judaísmo e o Islã, porque além da unidade dos belos lemas, esta é a realidade do Charlie Hebdo".

O número de quarta-feira está sendo preparado exclusivamente por membros da equipe do jornal e não incluirá desenhos de cartunistas externos que publicaram incontáveis esboços em homenagem às vítimas depois do atentado.

Nos Estados Unidos, o Clube de Imprensa de Los Angeles anunciou que o jornal receberá este ano o prêmio Daniel Pearl à coragem e à integridade jornalística. O anúncio foi feito na presença dos pais do jornalista americano, assassinado em 2002 no Paquistão.

"Nenhum ato terrorista deve frear a liberdade de expressão. Dar o prêmio Daniel Pearl ao Charlie Hebdo é uma forte mensagem neste sentido", anunciou em um comunicado o presidente do clube de imprensa local e apresentador do canal NBC4, Robert Kovacik.

O editor-chefe do jornal, Gerard Biard, disse se sentir "profundamente honrado" em receber este tributo. "Evidentemente, vamos aceitá-lo", afirmou.

O prêmio será entregue pelos pais de Pearl, Ruth e Judea, em 28 de junho, durante um jantar no hotel Biltmore de Los Angeles.

Nas últimas edições, o prêmio recompensou o correspondente da emissora NBC Richard Engel pela cobertura em conflitos no Oriente Médio; Bob Woodruff, ferido em 2006 quando fazia reportagens sobre a guerra no Iraque, e a jornalista russa assassinada Anna Politkovskaya.

"Choramos e estamos unidos ao povo francês e com as famílias das vítimas do massacre de Paris", afirmaram Ruth e Judea no mesmo comunicado.

"Os corações valentes do Charlie Hebdo protegeram nossa liberdade durante várias décadas. Agora, nosso dever é proteger sua visão para as próximas gerações", acrescentaram.

Acompanhe tudo sobre:Ataques terroristasEuropaFrançaJornaisMetrópoles globaisPaíses ricosParis (França)Terrorismo

Mais de Mundo

Em fórum com Trump, Milei defende nova aliança política, comercial e militar com EUA

À espera de Trump, um G20 dividido busca o diálogo no Rio de Janeiro

Milei chama vitória de Trump de 'maior retorno' da história

RFK Jr promete reformular FDA e sinaliza confronto com a indústria farmacêutica