Visão geral dos prédios danificados pelo que os ativistas dizem ter sido um ataque aéreo das forças leias ao presidente Bashar al-Assad em Alepo, na Síria (Hosam Katan/Reuters)
Da Redação
Publicado em 18 de março de 2014 às 20h58.
Genebra - Os investigadores da Organização das Nações Unidas (ONU) informaram nesta terça-feira que ampliaram sua lista de suspeitos de crimes de guerra em ambos os lados na guerra civil da Síria e as provas são suficientemente sólidas para embasarem qualquer acusação.
O inquérito da ONU identificou indivíduos, unidades militares e agências de segurança, bem como grupos insurgentes suspeitos de cometer abusos, como tortura e bombardeio de áreas civis, diz o relatório para o Conselho de Direitos Humanos da organização.
Cerca de 20 investigadores realizaram 2.700 entrevistas com vítimas, testemunhas e desertores na região e por meio do Skype na Síria, mas nunca foram autorizados a entrar no país, agora em seu quarto ano de um conflito cada vez mais sectário.
No entanto, apesar do acúmulo de provas, diplomatas dizem ser improvável que a Síria seja encaminhada, em um curto prazo, ao Tribunal Penal Internacional (TPI), que julga suspeitos de crimes de guerra em Haia.
Como a Síria não é signatária dos estatutos de Roma que criaram o TPI, seria preciso que o Conselho de Segurança da ONU fizesse o encaminhamento.
Mas a Rússia, apoiada pela China, tem protegido a Síria, sua aliada, durante a guerra civil, já tendo vetado três resoluções de condenação ao governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, e com ameaça de possíveis sanções.
"Não nos faltam informações sobre crimes ou até mesmo os criminosos. O que nos falta é um meio pelo qual alcançar a justiça e a culpabilidade, mas isso não está em nosso poder", disse o presidente da comissão de investigação da ONU sobre a Síria, Paulo Pinheiro, em entrevista à imprensa.
Segundo a comissão, o período de 20 janeiro a 10 março foi caracterizado pela crescente hostilidade entre grupos insurgentes em todas as províncias do norte e do nordeste, quando redutos de rebeldes islâmicos foram atacados.
As forças do governo lançaram bombas de barril em Aleppo e em outras cidades, causando grandes baixas entre os civis em áreas sem nenhum alvo militar claro, e torturaram severamente os detidos.
Os insurgentes muçulmanos sunitas que buscam derrubar Assad - que pertence à seita muçulmana alauíta, uma ramificação do islamismo xiita, minoritária no país - usam carros e homens-bombas contra áreas civis, também em violação ao direito internacional, disse a comissão.
Combatentes do grupo Estado Islâmico do Iraque e do Levante, uma dissidência da Al-Qaeda, executaram detidos, incluindo civis e soldados capturados, em Aleppo, Idlib e al Raqqa antes de ficarem sob ataque de outros grupos armados, como a Frente Islâmica, diz o relatório.
Foram redigidas quatro listas confidenciais de suspeitos, incluindo os nomes dos responsáveis pela tomada de reféns, tortura e execução, disse Pinheiro.
"Elas também contêm os nomes dos chefes dos ramos de inteligência e prisões onde os detidos são torturados, os nomes dos comandantes militares que atacam civis, aeroportos a partir do qual os ataques com bombas de barris são planejados e executados e grupos armados envolvidos em ataque e expulsão de civis", disse ele.