Javier Milei, presidente eleito da Argentina ( Tomas Cuesta/Getty Images)
Agência de notícias
Publicado em 20 de dezembro de 2023 às 13h20.
O governo de Javier Milei passará pelo seu primeiro teste de fogo nesta quarta-feira, 20, conforme grupos sociais começam a se mobilizar para um grande protesto contra suas medidas de ajuste econômico na Argentina.
Historicamente os grupos sociais se reúnem para relembrar o massacre da Praça de Maio que ocorreu durante a crise econômica de 2001. Mas este ano as marchas visam ao pacote de corte de gastos e redução de benefícios do novo governo, que elaborou um protocolo de segurança com previsão de colocar a Força Nacional nas ruas.
Espera-se que centenas de milhares de pessoas se reúnam nesta quarta na Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, e na Praça do Congresso, dois locais unidos pela famosa Avenida de Maio. No entanto, um rigoroso protocolo anunciado pela ministra de Segurança, Patricia Bullrich, na semana passada, promete punir quem bloquear vias e autoriza a polícia a reprimir tais atos. Também foram anunciados cortes de benefícios sociais a quem for flagrado por câmeras de reconhecimento facial fechando vias nas marchas.
A mobilização reúne cerca de 35 organizações sociais de esquerda da Argentina e é liderada pela organização trotskista Polo Obrero, cujo presidente, Eduardo Belliboni, fez a convocatória antes mesmo da posse de Javier Milei. O ativista e prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel prometeu participar da mobilização, bem como sindicatos e grupos peronistas. Porém, históricos movimentos como o Movimiento Evita e Somos Barrios de Pie, que possuem grande poder de mobilização, avisaram que não irão participar.
Os manifestantes se reunirão às 16h30 nas estações Retiro, Constitución e Once para marchar em direção à Praça de Maio.
A data escolhida não é despropositada. Em 2001, em meio a uma efervescência social causada pela crise econômica do corralito - que confiscou o dinheiro nas contas bancárias - uma multidão marchou em 19 de dezembro até a Praça de Maio para pedir a cabeça do ministro da Economia, Domingo Cavallo. As marchas se seguiram pelos próximos dois dias e terminara com o presidente Fernando De La Rúa fugindo da Casa Rosada em um helicóptero. O saldo final foi de 39 mortos e mais de 500 feridos.
Simbólica, a data foi escolhida para marcar o primeiro grande protesto contra o governo de Javier Milei. Se preparando, no último dia 14, a ministra Patricia Bullrich divulgou um protocolo de segurança que visa impedir bloqueios de ruas, vias e pontes em manifestações na cidade de Buenos Aires, epicentro dos grandes protestos na Argentina.
Entre as medidas do protocolo estão:
Também haverá punição a quem levar crianças para os protestos. "Não vamos permitir que eles os usem como escudos", disse a ministra durante o anúncio. Em outro trecho, ela afirmou que as organizações sociais devem pagar os custos das operações de segurança: "Todos os custos ligados às operações de segurança serão faturados às organizações ou indivíduos responsáveis. O Estado não vai pagar pelo uso da força de segurança, as organizações que têm estatuto legal terão de pagar ou os indivíduos terão de suportar o custo das operações".
Esta quarta, a pasta de Bullrich reforçou as regras do protocolo e destacou que: estão proibidas as interrupções de vias, o uso de máscaras ou qualquer coisa que cubra o rosto, o uso de ferramentas com ou sem corte, não está permitida a presença de crianças e adolescentes.
Durante a reunião de gabinete nesta terça, 19, com o presidente, Bullrich traçou seu plano de segurança e forçou que a ideia é "marcar força". "A ideia é tolerância zero: deter a primeira pessoa que tiver uma atitude violenta, fora da lei. É preciso deixar claro que não se pode fazer qualquer coisa. Há uma maioria de argentinos que quer viver em paz e não viver a lei da selva nas ruas", disse o governo. "Não é marketing, é uma batalha cultural".
Nas redes sociais, o Ministério Público da Defesa da Cidade de Buenos Aires divulgou um número de telefone ao qual os argentinos podem recorrer em caso de "violência institucional" durante as marchas.
Alinhado ao protocolo de Bullrich, na segunda-feira, 18, a ministra de Capital Humano, Sandra Pettovello, prometeu retirar benefícios sociais de quem bloquear vias ou levar crianças. A ministra acusa as organizações sociais de extorsão a quem recebe ajuda do governo para ir aos protestos. Alguns benefícios, como o Potenciar Trabajo são intermediados por algumas organizações, mas não é o caso dos auxílios mais acessados: Asignación Universal por Hijo (espécie de Bolsa Família argentino) e cartão alimentação.
"Queremos dar tranquilidade aos beneficiários dos planos sociais. Eles deveriam saber que ninguém pode forçá-los a protestar com a ameaça de cancelar o benefício. Por este motivo, suspenderemos o controle de presença fornecido pelas organizações sociais", afirmou. "Reiteramos: os únicos que não receberão ao auxílios serão os que vão às manifestações e bloqueiam as ruas. Como disse o presidente: "o que bloqueia não recebe".
Em suas redes, Milei divulgou um número de discagem direta em que os argentinos também podem realizar denúncias a supostas extorsões.
Entre os principais benefícios sociais na Argentina estão a AUH e o cartão alimentação. Ambos passaram por reajustes de valores na pacote de Caputo, com a AUH dobrando e o cartão alimentação recebendo um incremento de metade de seu valor atual. As duas únicas medidas do novo governo que visam conter o choque que será a inflação dos próximos meses diante da política de ajuste.