Protestos no Iêmen: oposição quer aumentar pressão para queda do presidente (Gamal Noman/AFP)
Da Redação
Publicado em 1 de março de 2011 às 16h32.
Sana, Iêmen - Os protestos populares contra o regime político do Iêmen se estenderam nesta terça-feira, no chamado "Dia da Ira", pelas principais cidades do país para exigir a renúncia do presidente Ali Abdullah Saleh, que acusou Israel de comandar as revoltas no mundo árabe.
De norte a sul, e de leste a oeste, centenas de milhares de pessoas, segundo fontes da oposição, tomaram as ruas de diversas cidades iemenitas para participar de manifestações contrárias ao regime de Saleh.
A convocação deste "Dia da Ira" é uma nova tentativa dos grupos opositores de intensificar a pressão sobre o governante iemenita, que rejeita abandonar o poder, embora tente negociar com a oposição.
Coincidindo com essas grandes manifestações, Saleh acusou Israel de incitar os protestos nos países árabes, que reivindicam a derrocada de seus regimes, ao calor das revoltas de Tunísia e Egito.
"Todos esses protestos são financiados pelos sionistas em Israel e são dirigidos em uma sala de operações em Tel Aviv", afirmou Saleh em discurso proferidos aos professores universitários na capital iemenita, Sana.
Justo nessa cidade e em uma praça diante da universidade, dezenas de milhares de ativistas da oposição se congregaram desde o início da manhã, como a Agência Efe pôde constatar.
Este lugar já é um símbolo da revolta popular e os manifestantes o chamam de "praça das mudanças", já que é palco dia e noite de protestos há uma semana.
"Pacífica, pacífica, nossa revolução é pacífica" e "O povo quer a derrocada do regime" foram alguns dos lemas gritados pelos manifestantes.
Outra das frases era "Não ao diálogo! A saída (do poder) é a alternativa", em alusão aos reiterados pedidos de diálogo realizados pelo presidente e rechaçados pela oposição.
Na terça-feira, Saleh se mostrou disposto a formar em breve um Governo de união nacional, mas nesta terça-feira a agência oficial de notícias "Saba" indicou que essa oferta foi prorrogada até que se chegue a um acordo com os partidos opositores.
Também houve protestos em massa contra o presidente nas cidades de Taiz e Lahij, localizadas no sul; Amran e Saada, no norte; e Hadhramaut, no leste, algumas das quais já tinham registrado manifestações em dias anteriores.
Em Aden, principal cidade do sul, está previsto para esta noite uma manifestação antigovernamental, o que levou as forças de segurança a interditarem os acessos aos principais bairros da cidade, segundo testemunhas.
Após um mês de protestos, que, de acordo com os últimos números, já deixaram 17 mortos e centenas de feridos, os iemenitas não perdem energia em suas reivindicações, embora o presidente também não pareça disposto a fazer mais concessões.
Saleh se mostrou aberto ao diálogo na segunda-feira, mas nesta terça ele disse que os manifestantes são "um bando de anarquistas sem responsabilidade".
Em seu discurso em Sana, além de acusar Israel, o líder iemenita criticou o que chamou de "ingerência" do presidente americano, Barack Obama, nos assuntos dos países árabes.
"O que Obama tem a ver com os países árabes? É o presidente dos Estados Unidos ou o presidente dos países árabes?", perguntou-se.
Por outro lado, Saleh destituiu nesta terça-feira os governadores das províncias de Aden, Lahij, Abyan, Hadhramaut e Al Hodeidah, que têm sido palco de fortes protestos desde 27 de janeiro, e os transferiu a postos governamentais em Sana.
E se os protestos contra o regime se estendem, também há manifestações a favor do presidente na capital, onde nesta terça-feira se reuniram cerca de 100 mil simpatizantes do Governo.
Na praça Tahrir, no centro da capital, os manifestantes portavam cartazes com os dizeres "Sim ao diálogo" e "Não à fitna (conflito sectário)", enquanto gritavam palavras de ordem como "O povo quer Ali Abdullah Saleh" e "Com a alma e o sangue, nos sacrificamos por ti, ó Ali".
Apesar dessas demonstrações de apoio, intensificou-se a pressão contra Saleh, que já perdeu a lealdade de destacados chefes tribais e de vários deputados de seu partido, em protesto ao uso da violência contra os manifestantes.