Argélia: pessoas protestam em Argel, na Argélia nesta sexta contra a decisão do presidente Abdelaziz Bouteflika de concorrer ao quinto mandato (Billal Bensalem/NurPhoto/Getty Images)
EFE
Publicado em 22 de fevereiro de 2019 às 14h38.
Argel - Milhares de pessoas marcharam nesta sexta-feira pelas ruas de Argel, a capital da Argélia, para protestar contra o possível quinto mandato do presidente Abdelaziz Bouteflika, que concorrerá à reeleição em abril, no maior protesto visto no país nos últimos anos.
Diversas manifestantes se reuniram após a oração do meio-dia na praça central de Primeiro de Maio, vindos de várias mesquitas da capital argelina, em resposta a uma convocação anônima que circulava há dias pelas redes sociais.
A determinação dos manifestantes era caminhar rápido, em constante movimento, para evitar a intervenção dos milhares de policiais e agentes de segurança espalhados por toda a cidade.
"Estamos cansados de Bouteflika. É um candidato fantasma. Não sabemos onde ele está, nem sequer se está vivo. É uma vergonha para o nosso país", explicou à Agência Efe Mohamad Abu Adel, um jovem estudante universitário.
Em entrevista à imprensa local ontem, o ministro de Interior do país, Norredine Bedui, ameaçou fazer uso dos instrumentos coercitivos para conter os que "tentam semear dúvidas e arruinar o Estado em detrimento da Argélia".
"Cuidado, estamos em nosso Estado, ancorados em nossa Argélia, e construímos a nossa força através das nossas instituições", alertou o ministro.
A manifestação aconteceu poucas horas depois do anúncio do regime argelino de que Bouteflika viajará no domingo a Genebra, na Suíça, para ser submetido a "revisões médicas periódicas"
Segundo a agência estatal de notícias "APS", que citou um comunicado emitido ontem à noite pela presidência argelina, a entrada e a estadia do líder, de 82 anos, em um hospital da Suíça "será curta".
A ausência de Bouteflika coincidirá com uma nova manifestação convocada pela oposição para protestar contra sua decisão de concorrer a um quinto mandato nas eleições presidenciais, apesar de seu estado de saúde.
No poder desde 1999, Bouteflika sofreu um derrame cerebral em 2013 e, desde então, suas aparições públicas são incomuns, reduzidas às imagens retransmitidas pela emissora de televisão estatal devido a um conselho de ministros ou por visitas de autoridades de outros países.
Faz cinco anos que o presidente argelino não fala em público, se locomove somente em cadeira de rodas e não viaja para o exterior. Além disso, cancelou nos dois últimos anos, no último instante, reuniões já confirmadas com líderes internacionais como a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohamad bin Salman.
Apesar das críticas por se manter no poder mesmo com seu estado de saúde delicado, Bouteflika confirmou no domingo que tentará a reeleição pela quinta vez consecutiva.
Desde então, vários grupos de oposição se mostraram abertamente contrários a essa opção, que consideram lesiva para o país.