Encontro do Mercosul em Bento Gonçalves: após agenda de ministros, é a vez de os presidentes debaterem o futuro do bloco (Diego Vara/Reuters)
Da Redação
Publicado em 5 de dezembro de 2019 às 06h13.
Última atualização em 5 de dezembro de 2019 às 06h31.
São Paulo — Cinco dias antes da posse oficial do presidente eleito na Argentina, Alberto Fernández, presidentes do Mercosul irão se reunir nesta quinta-feira 5 para a 55° cúpula do bloco, na cidade gaúcha de Bento Gonçalves. Além de abordar os recentes protestos na América Latina e tocar no acordo fechado entre Mercosul e União Europeia (UE), o encontro deve ser marcado por um possível rearranjo nas relações de Brasil e Argentina, advertidos pelos Estados Unidos sobre possíveis sobretaxas nas exportações de aço e alumínio.
Fundado em 1991, o Mercado Comum do Sul é um bloco de união aduaneira que une Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, e tem como países associados Chile, Bolívia, Peru, Colômbia e Equador. O encerramento da cúpula desta quinta-feira também assistirá a despedida do liberal argentino Mauricio Macri da presidência do país.
Com Macri, aliado de Bolsonaro, saindo de campo, o relacionamento diplomático entre Brasil e Argentina pode ser comprometido. O presidente brasileiro se absteve de cumprimentar o peronista Alberto Fernández e não assistirá à sua posse em 10 de dezembro. Em entrevista ao Valor Econômico, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse que não está descartada a saída do Brasil do Mercosul. Já Bolsonaro falou “tudo pode acontecer”, a depender das políticas do novo governo de esquerda do país vizinho.
Um problema concreto, no entanto, deve obrigar os países conversar. Na última segunda-feira, o presidente dos EUA, Donald Trump, escreveu em seu Twitter que pretende taxar as exportações de aço e alumínio do Brasil e Argentina, acusando os países, assim com fez com a China, de desvalorizarem propositalmente suas moedas frente ao dólar. O ministro da Produção da Argentina, Dante Sica, disse que as nações devem pautar o tema até o final da semana.
A cúpula irá tratar, ainda, do acordo comercial fechado entre Mercosul e UE após duas décadas de negociação. Para valer, o tratado precisa ser aprovado por todos os países membros da UE, o que vem sendo colocado em xeque, em parte por críticas da comunidade internacional em relação às políticas ambientais do governo brasileiro.
A instabilidade política causada por intensos protestos que tomaram as ruas de países latino-americanos como Chile, Colômbia e Bolívia também deve ser levada à mesa durante o encontro de presidentes, nesta quinta-feira. A cúpula gaúcha deve servir como termômetro do futuro relacionamento entre seus dois principais membros.