Manifestantes israelenses durante protesto pedindo a libertação de Jonathan Pollard, preso nos Estados Unidos (Ammar Awad/Reuters)
Da Redação
Publicado em 1 de abril de 2014 às 21h49.
Washington - Uma proposta dos Estados Unidos de estudar a libertação de um espião israelense preso no país pegou muitos funcionários da inteligência norte-americana desprevenidos e vai enfrentar forte oposição se o governo do presidente Barack Obama decidir levá-la adiante, em uma tentativa de salvar as negociações de paz no Oriente Médio, disseram autoridades.
As negociações sobre o destino de Jonathan Pollard, ex-analista de inteligência naval cumprindo pena de prisão perpétua por espionagem, alimentaram profunda preocupação nas fileiras dos serviços de espionagem dos EUA que ainda se recuperam dos vazamentos orquestrados pelo ex-prestador de serviços de segurança nacional Edward Snowden.
Legisladores mais proeminentes, incluindo a senadora Dianne Feinstein, presidente do Comitê de Inteligência do Senado, fincaram posições nesta terça-feira igualmente hostis à ideia, que começou a tomar forma nesta semana em conversas entre o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
"Ele não deve ser libertado. Ele tem de cumprir plenamente", afirmou o senador republicano Mark Kirk, um reservista da Inteligência da Marinha, ao ser questionado sobre o destino de Pollard. "Espero que ele apodreça no inferno da cadeia por um longo tempo." Embora a comunidade de inteligência venha desencorajando sucessivos governos a ceder aos apelos de Israel para a libertação de Pollard, o último impulso parece estar ganhando força.
Alguns veteranos de inteligência reconhecem em particular que, já que Pollard cumpriu quase três décadas na prisão e pode estar apto para obter liberdade condicional em novembro de 2015, desta vez pode ser mais difícil convencer o governo Obama a abandonar a ideia.
Mas cerca de meia dúzia de oficiais de inteligência, atuais e antigos, disseram à Reuters que se opõem fortemente à libertação antecipada de Pollard, argumentando que tal iniciativa seria uma traição à comunidade de inteligência, especialmente porque muitos acham que os Estados Unidos não estão recebendo o suficiente de Israel em troca.
As autoridades disseram que Pollard entregou a contatos israelenses o que um ex-funcionário descreveu como "malas" cheias de documentos altamente confidenciais, incluindo relatórios de inteligência operacional.
A proposta de soltar Pollard foi lançada como parte de uma fórmula para manter vivas as vacilantes negociações de paz entre israelenses e palestinos. A libertação de Pollard, que seria muito popular em Israel, serviria como um incentivo político para Netanyahu ir em frente com a soltura de um quarto grupo de prisioneiros palestinos.
Sob o acordo proposto, Israel pode impor um congelamento parcial dos assentamentos em território ocupado e, em troca, os palestinos concordariam em estender as negociações de paz para além do prazo de 29 de abril, até 2015.
Ato de Desespero
Embora o presidente Obama ainda tenha de assinar qualquer acordo, Aaron David Miller, ex-negociador de paz dos EUA, disse que mesmo considerar tal decisão é uma mostra do desespero diante de mais um processo de paz em ruínas.
"Libertar um cara que é responsável por uma das maiores violações de segurança nacional dos EUA já faz com que pareça que eles estejam em pânico sobre o estado das negociações", disse Miller, analista de Oriente Médio do Wilson Center, em Washington.
Miller tem experiência pessoal com o caso Pollard. Ele estava envolvido nas negociações de Wye River, em 1998, quando Netanyahu, em um mandato anterior como primeiro-ministro, pressionou o presidente Bill Clinton para libertar Pollard como condição para a aceitação de um acordo de paz provisório de Israel com os palestinos.
Clinton inicialmente concordou em rever o caso, mas abandonou a ideia depois que o então chefe da CIA, George Tenet, ameaçou renunciar.
Mesmo 16 anos depois, Miller disse que uma libertação antecipada para Pollard na "era de Snowden" iria enviar o sinal errado sobre as consequências de espionagem em solo americano.
A avaliação de muitos legisladores foi igualmente contundente.
"É difícil, para mim, ver como isso iria impulsionar o processo de paz no Oriente Médio", disse Dianne Feinstein, parlamentar do Partido Democrata. "É uma coisa após um acordo. É totalmente outra coisa antes de um acordo."