Muralha: sugestão inspirada na série foi idealizada para ocupar o governo com "projetos ridículos que sirvam para combater o ódio" (Facebook/Reprodução)
EFE
Publicado em 18 de abril de 2017 às 14h41.
Chicago - Terminado o prazo para a entrega de propostas para a construção do muro na fronteira com o México, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já analisa as primeiras ideias apresentadas.
E os projetos são os mais variados. Vão desde construções tradicionais, similares à Muralha da China, a conceitos baseados em mais de três mil quilômetros de painéis solares, um fosso com resíduos radioativos e até uma parede de gelo, inspirada na popular série "Game of Thrones".
Em um tom mais amigável, uma arquiteta venezuelana propôs um "anti-muro" e o aproveitamento do espaço comum entre os dois países para criar oportunidades de desenvolvimento que façam diminuir a migração ilegal do México.
Victoria Benatar, radicada em Nova York e responsável pelo projeto, disse à Agência Efe que a fronteira não deve ser uma "linha virtual ou terra de ninguém", ou uma faixa de tensões intermitentes entre os dois países, senão um "espaço binacional" com recursos compartilhados.
Nesse sentido, em vez de um muro para reforçar a separação, Victoria propõe desenvolver uma área de 100 quilômetros com urbanização, infraestrutura, oportunidades de emprego e inovação tecnológica para mexicanos e americanos.
Na mesma linha, um grupo de arquitetos de México e EUA propõe o projeto "Outra nação: a última fronteira", que ao invés de um muro sugere construir "o corredor de transporte mais rápido e sustentável" do mundo.
No trajeto entre San Diego e Tijuana, um trem elétrico e futurista percorreria sobre trilhos elevados uma faixa de território autônomo, onde cidadãos dos dois países poderiam viver em liberdade e harmonia, de acordo com os planejadores desta ideia.
Trump declarou recentemente que já analisou pelo menos dez projetos, sem dar detalhes sobre eles, e assegurou que se envolveu pessoalmente na concretização de uma de suas principais promessas de campanha, para a qual tomará "uma decisão muito em breve".
A ideia, no entanto, levanta dúvidas logísticas por conta da dimensão da obra e pelo custo, que poderia triplicar o orçamento inicial de US$ 12 bilhões estimado pelo Departamento de Segurança Nacional (DHS).
De acordo com a convocação do processo de licitação, o muro, que seria construído em três etapas e demandaria três anos e meio de trabalho, terá mais de nove metros de altura e deverá ser resistente a danos intencionais.
Para construir o "grande muro" prometido por Trump, a empresa Crisis Resolution Security Services, de Clarence (Illinois), se inspirou na grande Muralha da China e propôs uma parede de concreto dupla de oito metros de altura, com uma terraplenagem no meio.
Sobre a parede seria construído um passeio que poderia ser transitado por turistas, a pé ou de bicicleta, e também, certamente, por guardas da Patrulha Fronteiriça.
Já a Concrete Contractors Interstate, de Poway (Califórnia), quer construir uma parede de cimento, que seria decorada em ambos os lados; enquanto a Tridipanel, de Carlsbad (Califórnia), propõe um muro de concreto leve, mas que pode suportar um peso de 100 toneladas, e que seria resistente ao fogo e a tornados.
Thomas E. Gleason, da empresa Gleason Partners de Las Vegas (Nevada), disse à Efe que o muro deve ser modular e fácil de construir, e sugeriu que as partes sejam cobertas por painéis solares que aproveitariam as temperaturas do deserto.
"Meu muro seria muito resistente, impossível de escalar e se autofinanciaria com a produção de eletricidade", explicou Gleason, que acrescentou que o projeto prevê o uso de sensores para avisar da presença de intrusos.
Dennis M. O'Leary, diretor executivo da DarkPulse, se mostrou de acordo que os sensores sejam parte integral de qualquer solução para vigiar a fronteira.
Sua empresa propôs um muro de concreto reforçado, que suportaria o impacto de uma bala de canhão, e conteria sensores em toda sua estrutura para alertar à Patrulha Fronteiriça sobre tentativas de escalar a estrutura e, inclusive, da escavação de túneis.
Em um tom mais apocalíptico, a empresa de Pittsburg (Pensilvânia) Clayton Industries apresentou uma ideia baseada em um canal de 30 metros de profundidade ao longo de 3.200 quilômetros de extensão da fronteira, o qual estaria cheio de resíduos nucleares e protegidos por sensores e um muro de metal.
A esta ideia, que parece tirada de uma série de ficção, se soma o muro de gelo proposto pelo arquiteto Keith Briggs, da Flórida, que até o momento só existe na mente dos roteiristas da série "Game of Thrones".
Briggs, um opositor à construção do "muro de Trump", declarou que sua proposta não era mais do que uma "brincadeira ou protesto", idealizada para ocupar o governo com "projetos ridículos que sirvam para combater o ódio".
Agora, só resta esperar até o início de junho, quando o Escritório de Imigração e Alfândegas (ICE) dos EUA deve anunciar as dez empresas selecionadas que poderão construir protótipos de seus projetos, de 9 metros de comprimento e 5,5 a 9 metros de altura, em uma área da cidade fronteiriça de San Diego, na Califórnia.