Responsável pelo parque Olímpico de Londres para os jogos de 2012, Jon Pettifer enfatizou a necessidade do planejamento para Copa de 2014 no Brasil (.)
Vanessa Barbosa
Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.
São Paulo - É possível uma Copa sustentável em 2014 no Brasil? A questão foi lançada no evento 2010-2014: Quatro anos para uma Copa Verde no Brasil, que o Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sianenco) promoveu nesta quarta-feira (09), em São Paulo.
Vontade por parte dos arquitetos envolvidos no projeto da Copa 2014 não falta. Mas os desafios são grandes e dizem respeitos não só à possibilidade de se realizar um evento de baixo impacto ambiental, mas também de corrigir falhas de infraestrutura nas 12 cidades brasileiras que sediarão os jogos.
Mas será que conseguiremos fazer isso a tempo? Já se passaram 31 meses desde o anúncio da FIFA de que o país sede da Copa 2014 seria o Brasil. Por isso, a preocupação com prazos para o planejamento e execução, além da sustentabilidade dos projetos, dominou os debates.
O presidente da regional de São Paulo do Sinaenco, José Roberto Bernasconi, mostrou preocupação diante da empreitada. "Nós deixamos o tempo passar por falta de planejamento, já estamos atrasados para Copa de 2014", disse. Segundo ele, o Brasil tem muito o que ganhar com a Copa, mas apenas se houver planejamento a partir de agora.
"Todos os serviços ligados ao evento devem ser envolvidos no conceito da Copa Verde. Se o país conseguir focar na construção sustentável para a Copa do Mundo, será referência mundial de economia verde", disse Bernasconi. A idéia é realizar a maior ação coordenada de edificações verde já feitas por um país.
<hr> <p class="pagina">Planejar, planejar e planejar. Foram essas as palavras iniciais (e a dica para o Brasil) do convidado inglês Jon Pettifer, diretor da empresa britânica Mace, que assina projetos de arquitetura como o London Eye. Responsável pela implantação do parque Olímpico de Londres para os jogos de 2012, Jon enfatizou a necessidade do planejamento estratégico em mega eventos esportivos do porte da uma olimpíada ou uma copa.<br><br>"O projeto é o DNA de qualquer empreendimento que pretenda se concretizar com sucesso", disse. "Surpresas sempre existem, mas elas podem ser remediadas com planejamento". Ao contrário da África do Sul, que possui obras em andamento a poucos dias do mundial de futebol, as construções londrinas para os jogos olímpicos vão de vento em pompa. "Estamos de 7 a 9 meses adiantados em relação ao prazo previsto. Mas tudo isso à custa de muito planejamento", ressaltou.<br><br>Responsável pelo projeto da Copa Verde, o arquiteto Vicente Castro Mello ressaltou a sustentabilidade financeira dos estádios após a competição. "Queremos evitar que o Brasil tenha no futuro 12 estádios inúteis, ou seja, que se construam grandes obras visando apenas às necessidades do mundial que depois se tornem elefantes brancos, geradores de despesas para os responsáveis pela sua operação", disse.<br><br>De acordo com Vicente, todos os projetos de estádios brasileiros seguiram preceitos do que ele chama EcoArenas, tais como: painéis fotovoltaicos, que produzem energia a partir da luz solar; sistemas de captação da água da chuva; utilização de materiais sustentáveis em sua construção e de mão de obra local.<br><br>Outro palestrante, o presidente do Instituto Trata Brasil, André Castro, destacou a necessidade de melhorar a cobertura de saneamento do país, que, segundo ele, é o "9º no ranking mundial da vergonha" com 13 milhões de habitantes sem acesso a banheiro. Sete crianças morrem por dia por diarréia e mais de 700 mil são internadas todos os anos com esse problema. "Nossa cobertura de saneamento não combina com um país que além de sediar uma Copa que ser a quinta maior economia do mundo". Entre as cidades mais deficientes estão Manaus, Recife, Cuiabá e Natal. "Há muito trabalho pela frente", concluiu.<br> </p>