Programa de TV no Marrocos: quadro polêmico quis ensinar mulheres a usarem a maquiagem para esconder sinais de abusos (Reprodução)
Gabriela Ruic
Publicado em 28 de novembro de 2016 às 11h34.
Última atualização em 28 de novembro de 2016 às 11h35.
São Paulo – Um programa de televisão da rede estatal do Marrocos chocou o mundo depois de levar ao ar um quadro no qual foram dadas dicas de maquiagem para ocultar marcas e ferimentos resultado da violência doméstica.
O país é duramente criticado por entidades que defendem os direitos humanos por ter uma legislação considerada frágil no que tange a violência contra a mulher e por não oferecer um sistema adequado de atendimento às vítimas de abusos.
“Esperamos que essas dicas de beleza possam lhe ajudar no seu dia a dia”, disse a apresentadora. De acordo com o jornal britânico The Guardian, o programa foi ao ar no último dia 23, dois dias antes do Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra a Mulher.
A apresentadora aparece sorridente no momento em que anuncia a próxima atração do programa Sabahiyat. Em seguida, a maquiadora, também em clima de tranquilidade, dá início ao processo de camuflagem em uma mulher que está maquiada de modo a simular hematomas na região do rosto.
Nas redes sociais, o clima entre os usuários foi de consternação, com o surgimento de um abaixo-assinado que ordenava que a rede de televisão pedisse desculpas publicamente.
O quadro foi retirado do site do canal, mas ainda está disponível internet afora. Na página oficial do programa no Facebook, a equipe postou um comunicado no qual diz entender que o segmento era inapropriado e que foi um erro de julgamento editorial.
Veja o vídeo:
https://twitter.com/CurioGorilla/status/802496936393711616
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, 1 em cada 3 mulheres em todo o mundo já sofreram algum tipo de violência, seja nas mãos de conhecidos ou desconhecidos, e 38% das mortes violentas de mulheres são de autoria de parceiros.
No Marrocos, os números são tão preocupantes quanto os dados globais. De acordo com a organização não governamental The Advocates for Human Rights, 63% das mulheres relataram ter sido vítima de agressões e em 55% dos casos, os agressores eram os próprios maridos.
Um dos problemas que impedem o país de enfrentar o problema de forma coerente é a falta de uma legislação adequada. O Marrocos até conta com uma lei específica sobre o tema. No entanto, ela não define o que é a violência doméstica e não criminaliza o estupro dentro do casamento. Além disso, sua aprovação está parada desde 2013.