Mundo

Problemas da maior fabricante mundial de vacinas pioram escassez

Maior fabricante de vacinas do mundo, o Serum foi escolhido no ano passado como principal fornecedor de imunizantes contra a Covid-19 para a Covax

A Covax se comprometeu a enviar vacinas para cerca de 92 países, mas até agora recebeu apenas 30 milhões do mínimo de 200 milhões de doses que encomendou do Serum (Amanda Perobelli/Reuters)

A Covax se comprometeu a enviar vacinas para cerca de 92 países, mas até agora recebeu apenas 30 milhões do mínimo de 200 milhões de doses que encomendou do Serum (Amanda Perobelli/Reuters)

B

Bloomberg

Publicado em 9 de junho de 2021 às 21h50.

No mundo todo, epicentros vulneráveis de covid-19 enfrentam atrasos em seus programas de vacinação devido à falta de imunizantes. Grande parte dessa escassez pode ser atribuída a uma única empresa: Serum Institute of India.

Maior fabricante de vacinas do mundo, o Serum foi escolhido no ano passado como principal fornecedor de imunizantes contra a Covid-19 para a Covax, a iniciativa apoiada pela Organização Mundial da Saúde que busca garantir uma distribuição global equitativa. Mas a empresa indiana tem enfrentado contratempos, desde a proibição das exportações a um incêndio em uma fábrica, o que prejudicou a capacidade de atender os pedidos.

A Covax se comprometeu a enviar vacinas para cerca de 92 países, mas até agora recebeu apenas 30 milhões do mínimo de 200 milhões de doses que encomendou do Serum, que deveria fornecer a maior parte do suprimento inicial. Os problemas do Serum ilustram como o esforço de vacinar contra a Covid falhou no mundo em desenvolvimento e servem como alerta contra se apoiar muito em apenas um fabricante em meio à crise global.

A OMS e especialistas em saúde pública alertam que os baixos níveis de vacinação em países mais pobres podem favorecer o surgimento de variantes perigosas do coronavírus e prolongar a pandemia. Outros fabricantes também tiveram problemas para cumprir metas ou aumentar a produção de vacinas contra a Covid, mas as deficiências do Serum são particularmente preocupantes porque a Covax e países emergentes dependiam muito dos suprimentos da empresa.

O Serum não exporta nenhuma dose desde abril, quando o governo indiano proibiu as exportações de vacinas em meio à segunda onda de Covid-19 no país. Mas alguns dos problemas do Serum começaram muito antes.

No ano passado, o CEO do Serum, Adar Poonawalla, prometeu que sua gigante de vacinas produziria 400 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca para países de baixa e média renda até o final de 2020. Em janeiro de 2021, disse que havia fabricado apenas 70 milhões de doses, porque a empresa não tinha certeza de quando receberia uma licença da Índia e não havia espaço de armazenamento suficiente.

Vários países também firmaram contratos diretos com o Serum e, agora, se apressam para encontrar novos fornecedores. No Nepal - onde um grave surto de Covid atingiu até o acampamento-base do Monte Everest -, o governo diz que recebeu apenas metade dos 2 milhões de doses que encomendou diretamente do Serum, sediado na cidade de Pune, Índia. O restante deveria ter chegado em março.

“Temos problemas devido à falta de vacinas”, disse Tara Nath Pokhrel, diretora da divisão de bem-estar familiar do Ministério da Saúde do Nepal.

No total, o país de 28 milhões de habitantes afirma ter recebido apenas 2,38 milhões de doses: 1 milhão diretamente do Serum, outro 1 milhão em doações da Índia e o restante da Covax. O Nepal contava com 13 milhões de doses ao todo da Covax. Mas esses fluxos secaram, uma vez que a Covax dependia muito do Serum para o abastecimento e a empresa indiana não está mais exportando por causa das restrições do governo.

A decisão de escolher o Serum como grande fornecedor da Covax “foi baseada, em grande parte, na capacidade de produção em massa da empresa, capacidade de entrega a baixo custo e o fato de que sua vacina foi uma das primeiras a entrar na lista de uso emergencial da OMS”, disse Seth Berkley, diretor-presidente da aliança de vacinas Gavi, que tem trabalhado com a Covax e ajudado a financiar os pedidos.

Berkley diz que a capacidade de fabricação do Serum está se expandindo, o que ajudará a Índia. Ainda assim, a Covax e muitos países em desenvolvimento agora buscam novas fontes de vacinas, pois o Serum disse nas últimas semanas que as exportações não devem ser retomadas até o final de 2021, devido às necessidades da Índia.

É um vazio que poderia ser preenchido por fabricantes chinesas como Sinovac Biotech e Sinopharm. As vacinas de ambas recentemente receberam aprovação da OMS para uso global. Bangladesh parou de aplicar as primeiras doses devido à falta de vacinas do Serum e agora interrompeu a campanha por completo. Após a chegada de um número limitado de imunizantes da Sinopharm, o país do sul da Ásia retomou a vacinação de trabalhadores da linha de frente e de emergência, mas ainda não iniciou um programa de vacinação em massa.

O Serum não respondeu a perguntas da Bloomberg, e um porta-voz disse que Poonawalla não estava disponível para entrevista.

Dentro da empresa, há frustração sobre como a produção foi afetada, disse uma pessoa a par das operações do Serum. Um dos principais motivos pelos quais as promessas não foram cumpridas foi porque o cenário global para as vacinas contra a Covid mudava continuamente em termos de regulamentações, aprovações e outros controles do governo da Índia após cada meta anunciada, disse a pessoa. A empresa se viu de mãos atadas pela proibição das exportações pela Índia e outras regras do governo, segundo a fonte.

Fique por dentro das principais notícias do Brasil e do mundo. Assine a EXAME

Acompanhe tudo sobre:CoronavírusÍndiaPandemiavacina contra coronavírusVacinas

Mais de Mundo

Empresa chinesa rebate acusações de inadimplência no Panamá

China anuncia incentivos para impulsionar mercado de ações

Como hotéis de luxo de Washington fazem para receber presidentes com discrição

Venezuela mobiliza 150 mil homens em exercícios militares para 'garantir soberania'