Donald Trump: o ex-presidente defendeu o uso do termo em 18 de março durante entrevista coletiva. "Porque vem da China. Não é racista de forma alguma" (BRENDAN SMIALOWSKI/AFP/Getty Images)
André Martins
Publicado em 22 de março de 2021 às 12h37.
Última atualização em 22 de março de 2021 às 15h11.
Um novo estudo descobriu que o primeiro tuíte do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, falando que o novo coronavírus era um "vírus chinês" desencadeou um aumento nas hashtags anti-asiáticas no Twitter.
Publicado na quinta-feira, 17, e revisado por pares, o estudo foi realizado por pesquisadores da Universidade da Califórnia nos EUA.
No dia 16 de março de 2020, o então presidente dos EUA, Donald Trump, publicou no seu perfil do Twitter: "Os Estados Unidos apoiarão fortemente essas indústrias, como companhias aéreas e outras, que são particularmente afetadas pelo vírus chinês. Seremos mais fortes do que nunca!"
Os pesquisadores analisaram quase 700.000 tuítes que usaram "#covid19" ou "#chinesevirus" de 9 a 23 de março. Eles disseram que 50% das publicações que usaram "#chinesevirus" e 20% dos que usaram "#covid19" mostraram sentimento anti-asiático.
Na semana que começou em 9 de março de 2020, a hashtag #covid19 foi mais utilizada do que #chinesevirus. Além disso, o número de hashtags anti-asiáticas associadas a estas frases eram relativamente baixas e estáveis.
No entanto, após o tuíte do ex-presidente houve um aumento no volume de publicações com as hashtags #covid19 e #chineseviruse. As menções juntas saltaram de 53 mil a 1,2 milhão no período estudado.
"Ao comparar a semana antes de 16 de março de 2020 com a semana seguinte, houve um aumento significativamente maior nas hashtags anti-asiáticas associadas ao #chinesevirus em comparação com o #covid19", explicaram os pesquisadores.
Trump usou o termo repetidas vezes em suas redes sociais, durante entrevistas e pronunciamentos até o final do seu mandato. No momento que escreveu o primeiro tuíte relacionando o coronavírus como um "vírus chinês", haviam 153.000 casos confirmados de covid-19 em todo o mundo, e alguns estados dos EUA começaram a adotar medidas para frear o contágio.
O ex-presidente defendeu o uso do termo em 18 de março durante entrevista coletiva. "Porque vem da China. Não é racista de forma alguma", referindo-se ao fato de que o novo coronavírus foi encontrado pela primeira vez em Wuhan, China.
.@CeciliaVega asks Trump: Why do you keep calling it the Chinese virus?
Trump: “Because it comes from China. it’s not racist at all.” https://t.co/PV7700qZmK pic.twitter.com/yoVS8aF9wm
— Dan Linden (@DanLinden) March 18, 2020
O uso de termos como "vírus chinês" e "gripe kung", que Trump disse publicamente também em um comício em junho de 2020, resultou em um aumento no sentimento racista em relação aos asiáticos nos Estados Unidos.
Uma pesquisa da Ipsos realizada no final de abril de 2020, descobriu que mais de 30% dos americanos disseram ter testemunhado alguém culpando pessoas de ascendência asiática pela pandemia do novo coronavírus.
Outro estudo, desta vez do Centro para o Estudo de Ódio e Extremismo da Universidade da Califórnia, descobriu que os ataques contra asiáticos nos EUA aumentaram 150% em 2020.
Em uma audiência no Congresso na quinta-feira, 18, sobre o aumento da violência contra os americanos de origem asiática, a deputada Democrata Grace Meng disse que Donald Trump e outras figuras do Partido Republicano colocaram "um alvo nas costas dos americanos de origem asiática".
A questão da violência anti-asiática voltou às manchetes na semana passada, depois que um homem branco de 21 anos matou oito pessoas, seis das quais eram asiáticas, em Atlanta na última terça-feira, 16.
O ex-presidente segue banidos das redes sociais como Twitter, Facebook e Instagram após a invasão do Capitólio. Na época, as empresas alegaram que manter Trump nas redes seria "risco de mais incitamento à violência". O Twitter anunciou que o veto é permanente.
Com isso, o conselheiro de campanha de Trump, Jason Miller, anunciou em entrevista à Fox News, que Donald Trump deverá retornar às redes sociais com uma plataforma própria entre os próximos dois e três meses.