Para o vaticanista Bruno Bartoloni, o cardeal Bergoglio "é um homem concreto, pragmático, eficaz, que poderá fazer algo sólido, inclusive reformar a Cúria romana" (GettyImages)
Da Redação
Publicado em 13 de março de 2013 às 22h49.
Ao eleger o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio para liderar a Igreja, os cardeais fizeram uma escolha histórica: ele será o primeiro Papa latino-americano, continente mais católico do mundo, e que não sentia sua importância reconhecida.
Quando apareceu diante de seus milhares de súditos, o novo papa, que escolheu o nome de Francisco para homenagear São Francisco de Assis, optou pela simplicidade. Ele pediu aos dezenas de milhares de fiéis reunidos na praça São Pedro e aos outros milhões que assistiam pela televisão para que "rezassem por ele", e em seguida declarou a benção urbi et orbi.
Concorrente de Joseph Ratzinger no conclave de 2005, esse jesuíta de 76 anos não estava entre os favoritos dos apostadores por causa de sua idade já avançada. Ele é visto como um moderado, reformador no plano social, pragmático e caloroso.
O colégio de 115 cardeais eleitores decidiu não acabar com a sequência de papas não-italianos, após 35 anos de pontificado polonês e depois alemão.
Pela segunda vez consecutiva os cardiais escolherão um papa mais idoso. Joseph Ratzinger, a quem Francisco I homenageou, havia sido eleito aos 78 anos.
Esta eleição, porém, foi realizada num contexto totalmente novo: a renúncia de um papa há menos de um mês e pela primeira vez em 700 anos. Em outras palavras, Ratzinger abriu um precedente ao declarar que um papa pode abandonar o cargo de chefe da Igreja Católica por motivos de cansaço.
Para o vaticanista Bruno Bartoloni, o cardeal Bergoglio, que era favorito frente a Ratzinger no conclave de 2005, "é um homem concreto, pragmático, eficaz, que poderá fazer algo sólido, inclusive reformar a Cúria romana".
"No plano social, ele é provavelmente muito aberto, e sem dúvida conservador no que diz respeito às questões morais, como todos os cardeais escolhidos por João Paulo II e Bento XVI", continuou Bartoloni.
"Os cardeais escolheram o caminho mais seguro, não quiseram se lançar em uma aventura", opinou o vaticanista, explicando que, como no caso de Joseph Ratzinger em 2005, o cardeal Bergoglio era velho conhecido de todos no colégio sagrado.
O argentino assume as rédeas da Igreja num momento de turbulência em que a instituição está dividida, sofrendo na América Latina com a concorrência dos grupos pentecostais, além dos escândalos sexuais de pedofilia envolvendo padres.
A igreja também encontra dificuldade em transmitir sua mensagem no mundo moderno, e não é à toa que a "nova evangelização" foi citada pelo novo papa na sua primeira declaração pública.
"A igreja precisa se libertar dos obstáculos, das sujeiras, das gestões ruins, que ferem o objetivo principal que é de encontrar Deus", explicou à AFP o vaticanista do jornal l'Espresso, Sandro Magister.
"A Cúria confusa, desordenada, precisa ficar mais leve para trabalhar exclusivamente a serviço do papa, ao invés de dificultar sua comunicação com os bispos", disse o vaticanista.
Para Andrea Tornielli, vaticanista do jornal La Stampa, a linguagem precisa ser renovada e ser menos doutrinária. Um papa precisa "proclamar o Evangelho de maneira positiva, para que as pessoas se sintam amadas, e não julgadas".
Uma prioridade concreta e fundamental é a busca por soluções práticas para que o Evangelho possa ser divulgado sem a presença de padres e com reformas que permitam atrair os jovens à vocação religiosa no ocidente.
Outras reformas são pedidas, como o casamento de padres, mas é incerto que o novo papa esteja pronto para tamanho passo.
Se reformas não forem adotadas, a contestação, que já é forte em países como a Áustria, corre risco de se estender rapidamente, inclusive na América Latina.