Agência de notícias
Publicado em 19 de janeiro de 2025 às 17h31.
As três reféns israelenses libertadas pelo Hamas voltaram ao seu país, neste domingo, 19, no primeiro dia de um cessar-fogo entre Israel e o movimento islamista palestino em Gaza, devastada por mais de 15 meses de guerra.
Emily Damari, de 28 anos; Romi Gonen, de 24, e Doron Steinbrecher, de 31, "cruzaram a fronteira para o território israelense", confirmou o exército de Israel após a entrada em vigor do cessar-fogo com três horas de atraso.
"Emily, Doron e Romi estão, enfim, a caminho de casa", declarou o porta-voz do exército, o contra-almirante Daniel Hagari, à televisão. "É um momento muito emocionante", acrescentou.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ressaltou que as reféns passaram por um "inferno" após sua captura por comandos islamistas no sul de Israel, em 7 de outubro de 2023, no ataque do Hamas que deu início à guerra em Gaza.
O conflito forçou o deslocamento da grande maioria dos 2,4 milhões de habitantes do território sitiado, em ruínas após mais de um ano de confrontos e bombardeios.
Após a entrada em vigor da trégua, milhares de deslocados palestinos pegaram a estrada com seus pertences, com a esperança de voltar para suas casas.
"Viemos para cá às 06h da manhã e nos deparamos com uma destruição maciça, nunca vista", disse Walid Abu Jiab ao voltar para Jabaliya, no norte da Faixa.
O primeiro dia da trégua, anunciada na quarta-feira, mas aprovada apenas na sexta por Israel e Hamas, ocorre na véspera do retorno de Donald Trump à Casa Branca.
O cessar-fogo alimenta a esperança de uma paz duradoura no território governado pelo Hamas, embora Netanyahu tenha ressaltado no sábado que se tratava de uma trégua "provisória" e que Israel se reservava "o direito de retomar a guerra".
O braço armado do Hamas afirmou, por sua vez, que a trégua depende de que Israel "cumpra seus compromissos".
O cessar-fogo, cuja entrada em vigor foi confirmada pelo Catar, um dos países mediadores do acordo juntamente com Estados Unidos e Egito, começou quase três horas depois do combinado porque o Hamas informou com atraso a lista de reféns que previa libertar no domingo.
O Hamas justificou o atraso por "complicações no terreno e a continuação dos bombardeios" de Israel, que, segundo a Defesa Civil de Gaza, deixaram oito mortos na Faixa neste domingo.
"Depois de tanta dor, morte e perdas de vidas, hoje as armas estão em silêncio em Gaza", comemorou o presidente americano, Joe Biden, durante uma visita à Carolina do Sul no último dia de seu mandato.
Segundo o texto acordado, 33 dos reféns capturados pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, serão devolvidos na primeira fase da trégua, de 42 dias.
Um funcionário militar disse que os reféns serão liberados em três pontos da fronteira entre Israel e Gaza, onde serão atendidos por médicos e depois transferidos para hospitais.
O pacto também determina que Israel liberte cerca de 1.900 presos palestinos em presídios israelenses, 90 deles ainda neste domingo, segundo o Hamas, que disse esperar uma lista "em breve".
Entre os prisioneiros palestinos que fazem parte do acordo está Zakaria al Zubeidi, ex-líder das Brigadas dos Mártires de Al Aqsa, braço armado do Fatah, partido do presidente Mahmoud Abbas.
Segundo o Fórum de Famílias de Reféns, as reféns israelenses Damari e Steinbrecher foram sequestradas no kibutz Kfar Azza, e Gonen, no festival de música eletrônica Nova.
O acordo de trégua foi negociado pelos mediadores durante meses. Nesta primeira fase, serão negociadas as modalidades da segunda, que deverá permitir a libertação dos últimos reféns. A terceira e última será dedicada à reconstrução de Gaza e à devolução dos corpos dos reféns mortos em cativeiro.
A próxima libertação de reféns israelenses ocorrerá no "próximo sábado", declarou um alto dirigente do Hamas à AFP, sob a condição do anonimato.
O acordo de trégua gerou divisões em Israel. Em Gaza, o alívio da população era palpável.
"Estou muito, muito feliz", disse Wafa al Habeel em Khan Yunis, no sul da Faixa. "Quero voltar e beijar o chão de Gaza. Sinto saudades de [a Cidade de] Gaza e sinto saudades dos nossos entes queridos", comentou.
Além da libertação dos reféns, a primeira etapa do acordo inclui, segundo Biden, "um cessar-fogo total", a retirada israelense das áreas densamente povoadas de Gaza e um aumento da ajuda humanitária.
"É imperativo que este cessar-fogo elimine os importantes obstáculos políticos e de segurança que dificultam a entrega de ajuda em Gaza (...)", escreveu, na rede social X, o secretário-geral da ONU, António Guterres.
As autoridades egípcias detalharam que o acordo prevê "a entrada de 600 caminhões de ajuda por dia", inclusive 50 de combustível.
Uma fonte egípcia, que falou sob a condição do anonimato, disse que "260 caminhões de ajuda e 16 de combustível" entraram neste domingo em Gaza.
O ataque do Hamas, em 7 de outubro de 2023, resultou na morte de 1.210 pessoas em Israel, a maioria civis, segundo um balanço da AFP com base em dados oficiais.
Das 251 pessoas sequestradas naquele dia, 91 continuam reféns em Gaza e, destas, 34 teriam morrido, segundo o exército israelense.
Em resposta ao ataque, Israel lançou uma campanha aérea e terrestre na Faixa, que resultou na morte de pelo menos 46.913 pessoas, principalmente civis, segundo dados do Ministério da Saúde do governo do Hamas, que a ONU considera confiáveis.