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Primavera com impasse: no Sudão, militares se recusam a entregar o poder

País do norte da África viu o ditador de três décadas cair após protestos, mas junta militar não quer entregar o comando a civis

SUDÃO: protestos de civis gerou onda de violência do governo militar, que já deixou centenas de mortos | REUTERS/Mohamed Nureldin Abdallah /

SUDÃO: protestos de civis gerou onda de violência do governo militar, que já deixou centenas de mortos | REUTERS/Mohamed Nureldin Abdallah /

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Da Redação

Publicado em 11 de junho de 2019 às 06h44.

Última atualização em 11 de junho de 2019 às 07h06.

O Sudão, país do norte da África, é uma prova de que retirar um ditador há décadas no poder é só o começo das mudanças. O Conselho de Segurança das Nações Unidas se reúne nesta terça-feira para discutir soluções para o país, que enfrenta protestos da população e uma escala da violência policial de seu governo militar contra os cidadãos após a queda do ex-presidente Omar-al-Bashir, que estava no poder desde 1989.

O atual governo sudanês, composto pelo chamado Conselho de Transição Militar, se recusa a dar o poder aos civis. Os militares estão no cargo desde abril, após a queda de Bashir, que comandava o Sudão desde um outro golpe, em 1989. Os protestos derradeiros contra o ex-ditador começaram em dezembro passado, após o preço do pão subir exponencialmente (o país vive crise econômica desde 2011, quando a parte sul se separou, criando o Sudão do Sul e levando consigo a riqueza oriunda do petróleo).

A queda de Bashir em abril não trouxe melhorias para a população. Liderada pelo general Abdel Fattah al-Burhan, a junta militar interrompeu as negociações para a formação de um governo civil e eleições, e afirma que vai liderar um governo de transição que pode durar até dois anos. Enquanto isso, vem usando de grupos paramilitares e violência para combater protestos.

O ápice da violência ocorreu há uma semana, quando um massacre vitimou mais de 100 pessoas que protestavam de forma pacífica contra a junta militar na capital Cartum, com pessoas empurradas de pontes, estupros, corpos jogados no rio Nilo e médicos que cuidavam dos doentes sendo assassinados. Na imprensa internacional, o caso vem sendo chamado de um protesto da “Praça da Paz Celestial” sudanesa (fazendo referência ao massacre do governo chinês que vitimou manifestantes em 1989).

Desde domingo, os civis realizam uma greve-geral e um movimento de desobediência civil contra o governo, que teve pelo menos quatro mortos no primeiro dia. Além da reunião das Nações Unidas nesta terça-feira, os Estados Unidos devem apontar um conselheiro específico para tratar da situação do Sudão. O governo militar é apoiado por regimes árabes anti-democráticos, como a Arábia Saudita (aliada dos EUA) e os Emirados Árabes Unidos, que devem enviar mais de 2 bilhões de dólares ao sudaneses.

Outro apoio vem do vizinho Egito, cuja história é bastante semelhante: a junta militar atualmente no poder assumiu logo após a queda do ditador Hosni Mubarak, que caiu como parte da onda de derrubada de ditadores da Primavera Árabe, em 2011. Houve uma eleição no Egito na sequência, mas o presidente eleito foi rapidamente derrubado para dar lugar ao militar Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, no poder até hoje. No que vem sendo chamado de “Primavera Árabe 2.0”, os militares sudaneses esperam seguir o mesmo caminho.

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