Primeiro-ministro francês, François Fillon, fala durante o VI Fórum Mundial da Água (Gerard Julien/AFP)
Da Redação
Publicado em 12 de março de 2012 às 12h20.
Marselha - A pressão sobre os recursos hídricos aumentou na América Latina, a região em desenvolvimento mais urbanizada do mundo, com mais de 80% da população vivendo em cidades e vilas, destaca um estudo das Nações Unidas apresentado nesta segunda-feira no VI Fórum Mundial da Água.
Urbanização excessiva, globalização e mudanças climáticas: estes são os novos desafios para a gestão da água na América Latina e no Caribe, ressalta o relatório apresentado na reunião realizada na cidade francesa de Marselha que reúne políticos, cientistas e especialistas de 140 países .
Esta pressão crescente coloca os governos da região diante de desafios novos, como a maneira de distribuir a água de forma justa e melhorar o seu acesso, acrescenta o texto.
O documento explica que os desafios relacionados à água enfrentados por América Latina e Caribe estão relacionados às variações climáticas e da hidrologia, com o desenvolvimento econômico, com as disparidades na distribuição e na estrutura demográfica da população, além da gestão.
O relatório alerta que muitas partes da região estão sujeitas a eventos climáticos extremos, como inundações, secas e variações climáticas relacionadas ao El Niño.
O aumento da frequência e da intensidade de tais eventos requer uma redução dos riscos, adverte o estudo, notando que os países mais pobres da América Central, do Caribe e da região andina, "cuja gestão da água é relativamente ruim", serão os "mais propensos a sofrer as consequências das mudanças climáticas".
Além disso, "as geleiras da região já estão recuando devido ao aquecimento global", o que afeta o abastecimento de água de cerca de 30 milhões de pessoas, assinala.
"Cerca de 60% da água em Quito, e 30% da de La Paz vêm das geleiras. No Peru, as geleiras perderam 7 bilhões de metros cúbicos, quantidade suficiente para abastecer Lima por 10 anos".
As secas, que afetaram 1,23 milhões de pessoas entre 2000 e 2005, também causaram danos.
Além disso, o crescimento econômico contínuo permite prever um aumento do uso da água para a energia e "uma competição maior pelo abastecimento de água, já escassa".
O relatório afirma que, com exceção do México e alguns outros países pequenos da América Central, os países da região tem com base de sua economia as exportações de recursos naturais, cuja produção demanda de abundância de recursos hídricos.
"O aumento da demanda global por recursos minerais, agrícolas e energéticos também irá aumentar a demanda por água", afirma o estudo.
Esta produção é, em grande parte, financiada com capital estrangeiro e muitas das instalações são de propriedade estrangeira. "Com isso, o maior motor do crescimento econômico na região está sujeito a fatores que estão fora do controle direto dos governos nacionais", observa.
A expansão da mineração de ouro e cobre em Chile e Peru ocorre principalmente em áreas áridas, criando uma competição maior por água, tanto da agricultura de exportação quanto para atender às necessidades dos povos indígenas.
Em outros países, a produção de café requer grandes quantidades de água e seu processamento pode afetar seriamente a qualidade da água. O mesmo ocorre com outros recursos, alerta o texto, acrescentando que o turismo aumenta ainda mais a pressão sobre a água em muitas ilhas do Caribe.
Outros fatores estão relacionados com a macroeconomia do comércio mundial e à natureza e eficácia dos sistemas institucionais que representam a gestão da água.
O documento conclui que "se observa uma incapacidade geral para criar instituições capazes de enfrentar a gestão da água em condições de escassez e conflito", mas nota alguns avanços em países que realizaram reformas, como Brasil e México e, em menor medida, em Argentina, Chile, Colômbia e Peru.