Ainda que Erdogan seja favorito nas pesquisas, muitos acreditam que ele não vencerá no primeiro turno (Goran Tomasevic/Reuters)
AFP
Publicado em 21 de junho de 2018 às 15h25.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, tentará no domingo (24) um novo mandato com poderes reforçados, em eleições nas quais enfrenta uma oposição determinada a acabar com seus 15 anos de poder.
Erdogan, de 64 anos, dirige a Turquia desde 2003, primeiro como primeiro-ministro e depois como presidente.
Ele transformou seu país com projetos e políticas de desenvolvimento voltadas para o crescimento econômico, ao mesmo tempo em que reforçou o discurso religioso muçulmano no país laico e se impôs como ator-chave na arena internacional.
O chefe de Estado agitou em abril o calendário político anunciando a antecipação para 24 de junho das eleições inicialmente previstas para 3 de novembro de 2019.
Uma decisão provavelmente motivada pelo temor da crise econômica que parece atingir o país com uma queda enorme da lira turca, uma inflação de dois dígitos e um déficit significativo em sua balança.
O resultado das eleições será especialmente importante para a Turquia, já que o vencedor terá poderes reforçados após o referendo de abril de 2017 convocado por Erdogan após o fracassado golpe de julho de 2016.
Desta vez, o presidente turco enfrentou na breve campanha eleitoral uma união inesperada dos partidos de oposição e um concorrente, Muharrem Ince (CHP, social-democrata), capaz de desafiá-lo.
Ainda que Erdogan seja favorito, muitos observadores acreditam que não vencerá no primeiro turno e que sua formação, o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), poderia perder sua maioria no Parlamento.
A "energia nova" da oposição permitiu orientar o debate durante a campanha pela primeira vez desde a chegada de Erdogan ao poder, explica Asli Aydintasbas, especialista do Conselho Europeu de Relações Internacionais.
Isso forçou, por exemplo, Erdogan a prometer a suspensão do estado de emergência vigente desde o golpe de estado fracassado, depois que outros candidatos o fizeram.
A unidade da oposição é em parte explicada pela apertada vitória do sim no referendo sobre a revisão constitucional para ampliar os poderes presidenciais, aprovada com 51,4% dos votos.
"Esse resultado mostra um voto sólido da oposição que pode ser qualificado como um voto anti-Erdogan", diz Aydintasbas. "Por isso, era natural que a oposição se unisse para consolidar esse voto".
Para Elise Massicard, pesquisadora do CNRS francês, isso também se explica pelo futuro sistema presidencialista e pela vontade de "não deixar a concentração de poderes para Erdogan e o AKP".
Embora os diferentes partidos opositores tenham decidido apresentar seus próprios candidatos para as eleições presidenciais, a maioria concordou em apoiar o candidato que chegar a um hipotético segundo turno contra Erdogan em 8 de julho.
Por outro lado, contra a aliança do AKP e os ultranacionalistas do MHP, vários partidos de oposição, incluindo o CHP e uma nova formação da direita nacionalista, o Bom Partido, aliaram-se para as legislativas.
Diante do controle exercido pelo governo sobre os principais meios de comunicação, alguns candidatos e partidos de oposição tiveram que ser engenhosos para se fazerem ouvir, especialmente nas redes sociais.
Selahattin Demirtas, candidato do partido pró-curdo HDP, teve que fazer campanha a partir da prisão, uma vez que está em detenção preventiva desde novembro de 2016 por acusações de supostas atividades "terroristas".
Demirtas, que denuncia uma prisão "política", fez campanha nas redes sociais por meio de seus advogados e aproveitou-se de uma ligação autorizada à esposa para fazer um discurso que foi gravado pelo telefone e transmitido pelo seu partido.
Segundo Aydintasbas, é "normal" que o AKP seja menos dominante depois de 16 anos no poder, especialmente considerando a situação econômica ruim pela qual a Turquia está passando. Também deve-se levar em conta um candidato, o Ince, "mais carismático" do que esperado.