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Presidente recém-reeleito do Equador afirma querer militares dos EUA no combate ao crime organizado

Em entrevista exclusiva a CNN, Daniel Noboa diz que há planos para viabilizar tropas americanas em base do país; controle das operações seria equatoriano

Presidente do Equador, Daniel Noboa  (Marcus Pin/AFP)

Presidente do Equador, Daniel Noboa (Marcus Pin/AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 16 de abril de 2025 às 12h13.

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O presidente recém-reeleito do Equador, Daniel Noboa, declarou que pretende alterar a Constituição do país para autorizar a presença de militares estrangeiros no território, a fim de permitir a entrada de tropas dos Estados Unidos para missões contra o crime organizado. Noboa falou sobre o plano em uma entrevista exclusiva à rede americana CNN na terça-feira, detalhando que a colaboração não retiraria das autoridades equatorianas o comando das operações. Ele esteve nos EUA no fim de março, antes do segundo turno da eleição, onde discutiu temas como segurança, migração e cooperação comercial com seu homólogo Donald Trump.

Uma fonte militar ouvida pela CNN no mês passado, e um plano obtido pela emissora, apontam que o governo de Noboa já estaria preparando terreno para a chegada de militares americanos. Uma base naval está sendo construída na cidade costeira de Manta, que já abrigou uma missão americana que permaneceu no país de 1999 a 2009.

— Gostaríamos de cooperar com as forças americanas, e acredito que há muitas maneiras de fazer isso, especialmente monitorando operações ilegais que saem do Equador — disse o presidente, que nasceu em Miami. — O controle das operações estará nas mãos de nossos militares e policiais.

A base aérea, a partir de onde as forças americanas operavam no mapeamento de rotas de tráfico no Pacífico, foi fechada após o então presidente equatoriano, Rafael Correa — rival político do pai do atual presidente, Álvaro Noboa —, não renovar a autorização para continuidade da missão. Uma Constituição aprovada durante o governo Correa estabeleceu como ilegal a cessão de território para forças estrangeiras.

Na entrevista, Noboa afirmou que enxerga Washington como um parceiro importante no combate ao crime transnacional. E confirmou que há planos delineados para uma colaboração entre as forças equatorianas e americanas, mas ressaltou que uma implementação ainda depende das mudanças legais internas e de um acerto com o presidente dos EUA.

— Há planos [para os EUA apoiarem o combate às gangues criminosas no Equador]. Tivemos conversas, tínhamos um plano, tínhamos opções que gostaríamos de seguir. E agora precisamos apenas de outra reunião, pós-eleição, agora como presidente eleito, para consolidá-la — disse.

Durante uma viagem às cidades americanas de Miam e Fort Lauderdale, na última semana de março, Noboa discutiu temas com segurança, migração e cooperação comercial com Trump, afirmando antes de embarcar que havia pedido ao presidente americano que incluísse grupos equatorianos na lista de cartéis ligados ao tráfico de drogas, equiparados por Washington a grupos terroristas.

— Até pedimos [aos Estados Unidos] que incluíssem os grupos armados do Equador na lista de terroristas — afirmou Noboa em entrevista à rádio Centro de Guayaquil.

A pauta da segurança pública foi uma das agendas que impulsionou a candidatura de Noboa, que assumiu inicialmente a Presidência após a queda de Guillermo Lasso, em 2023, e voltou a vencer as eleições disputadas no último domingo. A combinação da proposta de uma política de segurança linha-dura e a defesa de uma economia neoliberal atraíram o apoio da direita equatoriana, embora Noboa já tenha se definido como de centro-esquerda.

No primeiro mandato, que durou apenas dois anos, Noboa combateu o crime organizado mandando o Exército para as ruas e para controlar rebeliões prisionais. Ele também declarou que o país enfrentava um conflito armado interno, e decretou prolongados estados de exceção para poder tomar medidas duras contra os grupos criminosos — o que rendeu críticas sobre abuso da força pública e violações.

O presidente afirma ter diminuído a taxa de homicídios do recorde de 47 para cada 100 mil habitantes, em 2023, para 38 para cada 100 mil, em 2024. Ainda assim, o Equador continua sendo o país da América Latina com maior número de homicídios proporcionalmente à sua população, segundo o 'think tank' Insight Crime.

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